Capítulo 6 - Broche de Pérola

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A fila andava rápido. Mais do que eu imaginei que seria. Para falar bem a verdade imaginei que fosse demorar, mas para a minha surpresa, metade dos que estavam a minha frente na fila já haviam entrado no salão. Não víamos ninguém sair. Tudo o que víamos era as costas dos competidores que entravam e o interior branco do salão. Não se ouvia nada vindo de lá.

Essa rapidez me deixava um pouco apreensiva. Significava que ou você está dentro ou está fora. Ou no mínimo tinham vários avaliadores. Tentei me lembrar das palavras de cada um que sabia que eu estava ali. Dimitri. Teresca. Audrey. Gaston. Stephen. Essa era minha única chance, não poderia desperdiçá-la.

A fila estava em silêncio. Ninguém arriscava soltar uma palavra. Nem mesmo eu e Mercello estávamos conversando. Ele parecia nervoso e ficava cutucando os dedos. Dava para ver claramente que ele não era o único ali que estava a beira de um colapso nervoso. Todos tentavam passar serenidade, mas era tão claro quanto o brilho da cidade de Ilka que absolutamente nenhum de nós estava psicologicamente bem naquele momento.

Minha vez se aproximava e a cada pessoa que entrava meu coração pulava mais rápido dentro do peito. Se eu reparasse bem, veria meu peito pulando levemente. Precisava me acalmar. EMA. Não vou deixar que me atrapalhe, Ema. Fiz os exercícios de respiração que Audrey havia ensinado nas aulas de teatro e eles ajudaram um pouco. A porta se abriu e o competidor que estava a minha frente entrou. Eu era a próxima.

— Boa sorte. — sussurrou Mercello, colocando a mão em meu ombro direito.

— Obrigada. — sussurrei em resposta.

Um minuto. Foi o tempo de diferença entre o momento em que a porta se fechou atrás do competidor a minha frente e o momento em que se abriu para que eu entrasse. Tomei fôlego e atravessei pela porta.

Ouvi o som da maçaneta se fechando atrás de mim. O salão estava sem móveis e meus passos ecoaram pelo lugar. Uma moça estava no meio do salão vestida de branco. Lembrei-me de quando fui fazer o teste harmônico na clínica. Ela segurava um telecomunicador, mas esse parecia diferente. Era maior e nunca tinha visto um igual. Talvez fosse algum modelo novo.

— Aproxime-se. — ela pediu. Foi o que fiz. Caminhei, encurtando o espaço entre nós. — Pode ficar aí. Não se mova.

A moça estava com um coque alto, seus fios louros eram de um dourado apagado. Os olhos eram castanhos. Muito escuros e turvos, mal conseguia diferenciar a íris da pupila. Ela ergueu o telecomunicador e apontou-o para mim. Ficou alguns segundos assim e depois abaixou-o novamente. Encarou a tela e seus olhos se moviam de um lado para o outro, de baixo para cima. Não sabia o que ela estava analisando, mas de qualquer forma ela estava bastante concentrada. Tanto que surgia uma leve linha de expressão entre suas sobrancelhas.

— Madeline Clark; 16 primaveras; órfã. — ela disse, talvez estivesse analisando minha ficha. — Seu teste harmônico é bem recente. Isso é bom. Mas mesmo assim preciso fazer esse procedimento com todos os competidores durante essa fase. Estou apenas aguardando o resultado.

Assenti. Talvez fosse algum tipo de check-up de harmonia. Para verificar se as informações dos testes harmônicos estão corretas. Poderia ser qualquer coisa. Eu não sabia. Toda a minha concentração estava no que eu deveria fazer. No momento, era esperar.

— Pronto. — ela disse por fim. — Pode sair pela porta da direita.

Só isso? Era algum tipo de pegadinha? Não me surpreendia que a fila havia andado tão rápido. Será que havia mais alguma coisa que deveríamos fazer depois de passar por esse salão? Isso eu descobriria logo que atravessasse a porta da direita.

Depois da porta um guarda me esperava. Ele fez uma reverência e pediu que eu o acompanhasse. Enquanto caminhávamos ele tirou um envelope da farda e o entregou para mim.

A Disforme - Filhos do Sol e das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora