Water Fountain✔

Perigos e Festas do Pijama

Charlotte Page

Somente quando pude ver minha casa, a uma quadra de distância de onde eu estava, respirei aliviada. Já havia discutido várias vezes com minha mãe, pedindo para que ela não me ligasse enquanto estava trabalhando, mas naquele instante eu nunca a agradeci tanto por algo. Não sabia se conseguiria resistir à tentação de Henry, mesmo que eu já houvesse colocado na minha cabeça que não podíamos passar de melhores amigos.

Agora não é o momento para pensar nisso. Minha mãe havia me ligado dizendo que ela e Clarice tinham algo importante para me contar. As duas eram casadas a dois anos e, posso afirmar com toda a certeza, aqueles foram os anos mais felizes de minha mãe. Depois que meu pai nos abandonou, a dez anos atrás, nunca a vi sorrir mais, estava sempre preocupada com o meu futuro e em bancar a casa. Então, como um anjo em nossas vidas, Clarice apareceu. E foi mágico ver como minha mãe sorria perto dela.

Elas se conheceram na faculdade, minha mãe estava fazendo engenharia elétrica e Clarice fazia medicina. Minha mãe passou por muita dificuldade até admitir que gostava de mulheres, foi preciso muitas conversas comigo e a psicóloga para acabar com seu preconceito. Depois disso, as duas começaram a namorar e foi uma das melhores coisas que aconteceram nas nossas vidas. Elas precisaram lutar com muitas pessoas ignorantes e idiotas, principalmente da própria família, mas enfim conseguiram casar. Desde então éramos a família perfeita.

— Oi, gente. — Coloquei minha chave na Barca. Havíamos dado esse nome para o pote de vidro, porque ele era cumprido e meio achatado, no formato de um barco.

Minha mãe e Clarice estavam sentadas no sofá. Elas tinham as mãos unidas e os sorrisos mais animados que eu já havia visto. Os olhos de minha mãe estavam inchados e vermelhos de choro.

— Vem cá, Char. Senta com a gente. — Clarice me puxou para sentar entre elas.

— Filha, lembra quando dissemos que queríamos ter um filho? — Minha mãe disse com suavidade.

— Sim. Tentaram a inseminação artificial, mas não conseguiram de primeira. — Falei levemente triste, aquele havia sido um dia ruim para nós três. — Espera! Você tentou de novo?

Mamãe concordou com a cabeça e as lágrimas escorreram por seu rosto, passando pelo sorriso mais lindo que eu já havia visto. Coloquei as mãos na boca, espantada com a notícia.

— Você está grávida! — Sorri feliz.

— Vamos ter um bebê. — Clarice disse, também emocionada.

Eu abracei as duas, também chorando com aquela notícia. Tanto por meu irmãozinho que estava na barriga de minha mãe, quanto pelas duas. Elas iriam realizar o sonho de ter uma família feliz, de poderem criar juntas uma criança e dar o máximo de amor possível.

— Finalmente vamos abrir aquele champanhe. — Clarice comentou. — Faz meses que dei ele para sua mãe.

Eu ri. Mamãe realmente adorava guardar essas coisas, dizendo que usaríamos no momento certo. Parece que ela estava certa, afinal.

— Como é uma comemoração, vocês poderão experimentar a comida da Charlotte Page. — Me levantei do sofá. — Sintam-se honradas, poucas pessoas tiveram essa oportunidade.

— Ouvi que essa chef é realmente espetacular.

***

A refeição foi realmente maravilhosa, apesar de não ter sido um almoço ou jantar. Foi alguma coisa entre isso. Passamos a maior parte do tempo conversando sobre as mudanças que teríamos que fazer na casa para a nova criança e qual seria o sexo. Eu e Clarice apostamos que seria um menino, mas minha mãe tinha certeza que seria uma menina, ainda usando o argumento de que ela quem carregava a criança.