Water Fountain✔

Heroínas e Mutações

Pairava um silêncio constrangedor no carro. Clarice encarava a rua, tentando parecer concentrada no que fazia, mas sua mente estava a mil. Charlotte havia acabado de explicar o motivo para estar no restaurante abandonado, deixando de fora as identidades verdadeiras dos heróis de Swellview. Desde então a mais velha se mantinha em silêncio, processando toda a história de sua afilhada e pensando em como deveria reagir a isso.

Pararam no estacionamento do hospital e entraram. Charlotte se lembrava da última vez em que esteve em um hospital a dez anos atrás. Foi por conta de uma brincadeira de Jasper e Henry, ela quebrou seu braço em três lugares diferentes. Depois daquilo, Charlotte prometeu nunca mais entrar em um hospital, preferia ficar em casa tomando o chá horrendo de sua mãe. Só não imaginava que retornaria aquele lugar por conta de sua mãe, principalmente por ela ter sido sequestrada pelos irmãos do garoto que estava saindo.

A enfermeira entregou crachás de visitante para as duas mulheres, então as guiou para o quarto da gravida. Hilary já vestia suas roupas comuns e se preparava para ir embora. Charlotte abraçou sua mãe com força, agradecendo a qualquer divindade que protegeu seu irmãozinho. Com lágrimas nos olhos, a cacheada afastou-se de sua progenitora e passou a mão pelo seu rosto, conferindo se não era um sonho.

— Fiquei tão preocupada. — A mais nova choramingou.

— Eu também, meu bem. — Hilary chamou Clarice para um abraço.

A mulher colocou a mão sobre a barriga da esposa, sorrindo termalmente. Ela não saberia o que faria se algo tivesse acontecido com seu filho ou esposa.

— Agora precisamos falar de algo mais importante. — Clarice falou seria. Charlotte estremeceu com o tom de voz de sua mãe. — Conte para ela o que estava fazendo naquele lugar.

— É verdade. — Em contraste com a esposa, Hilary era a representação da doçura. — O que fazia lá?

— Em minha defesa, não era para terem me reconhecido. — Charlotte levantou as mãos em rendição. — Todos esses anos, desde que eu comecei a trabalhar na Bugigangas, tenho escondido isso de vocês. Eu sinto muito por isso, não sabem quantas vezes eu quis contar. — Falou com desespero, tentando se justificar.

— Tudo bem, estrelinha. Relaxa. — Hilary colocou a mão no ombro da filha com gentileza.

— Eu trabalho com o Kid Danger e o Capitão Man. Ajudo eles a criarem planos e a acharem vilões, enfim, tudo que envolva tecnologia. — Ela falava tudo tão rápido, que parte das palavras embolaram. — Lembram daquela festa que eu fui? Gravaram eu dançando com o Kid Danger, então surgiu o boato de que estávamos namorando. Por conta disso, uns vilões novos sequestraram vocês.

Ao final de sua confissão, seus olhos estavam cheios de lágrimas mais uma vez. A culpa a consumia desde que toda a desastrosa situação começou e nunca mais a abandonaria. Vinte, trinta anos depois, quando olhasse para seu irmãozinho indo para a faculdade, iria se sentir culpada por esse dia. Hilary encarou a filha inexpressiva por alguns segundos, mas logo sorriu orgulhosa.

— Minha menininha é uma heroína. — Falou emocionada.

As outras Page ficaram chocadas com aquela resposta. Cada uma esperava uma reação diferente.

— Estou tão orgulhosa. Você já salvou tantas vidas, essa cidade nem existiria não fosse por você e os heróis. Meu anjo, você salvou sua família, não tem como eu estar mais feliz.

Como Charlotte queria enxergar daquela forma, mas para ela não havia passado de um terrível erro, o qual poderia ter custado a vida de todos.

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