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Jorge olhava de um lado para o outro tentando encontrar algum esconderijo; eu sentia as minhas mãos tremerem incontrolavelmente e o medo de que tudo isso, no fim, não nos leve à saída. 

Me aproximei da fornalha, ainda temeroso com o tamanho e aparência daquela máquina, e toquei seu metal frio, que há muito tempo, queimava tudo. 

- E se...- eu estava quase sussurrando.- Nos escondermos aqui? 

Ao longe ouvi gritos, eles estavam se aproximando.

- Jorge!- sibilei, ele olhou para mim e vi seu desespero.- Tem como abrí-la?- recebi um olhar confuso e apontei para a fornalha. 

- Eu não sei-eu acho q...Espera!- Jorge mancou até o lado da fornalha, onde vi uma outra máquina mas de um tamanho bem menor, e tentou puxar um tipo de maçaneta de ferro que pertencia à uma porta minúscula, quase como a de um forno de cozinha.- Me ajuda!

Me juntei ao gêmeo e tentamos abrir a passagem, ela não se movia nem um centímetro; apoiei meu pé na parede e grunhi com o esforço feito. Senti a porta se mexer e puxei mais forte, quando Jorge se impulsionou, dessa vez com mais força, ela finalmente se mexeu e conseguimos abrí-la. 

Ajudei Jorge para que ele entrasse primeiro, e depois foi a minha vez. As vozes pareciam estar do meu lado, quando vi uma feixe de luz aparecer no corredor eu fechei a porta. 

Ainda tínhamos a lamparina, o que nos deu um boa visão de onde estávamos. O ar ainda tinha um cheiro pesado de carvão e fumaça, pelo que Jorge me contou, era um tipo de depósito de carvão. O espaço parecia grande, mas por ainda ter carvão, nós ficamos apertados.

- E agora?- perguntei enquanto quebrava um pedaço de carvão nos dedos. Vi minha pele ser pintada de preto e nem me dei o trabalho de limpar. 

- Eu não sei.- Jorge suspirou.- Vamos esperar um tempo, depois saímos daqui. 

Então esperamos. 

Ficamos em silêncio durante um tempo, mas quando eu estava quase caindo no sono puxei conversa com Jorge, eu contei alguns casos da minha vida, nada muito interessante, contei piadas e ri das histórias dele.

Depois de muita conversa eu pedi que contasse como ele e seu irmão vieram parar aqui, ao ouvir a história, percebi que é impossível um viver sem o outro.

P.O.V  Jorge - passado.

- Ei, Fred!- chamei o idiota do meu irmão que, mais uma vez, fingiu estar 
dormindo. 

Eu senti tanto a sua falta...

Olhei para seu rosto e senti meu peito esquentar. Eu o amo, mas talvez o que sinto seja maior do que penso. 

Me aproximei dele e beijei seu pescoço, o senti tremer um pouco mas mesmo assim ele ficou de olhos fechados. Adentrei seu suéter com as minhas mãos e acariciei sua pele macia, Fred provavelmente não está ligando, costumávamos dormir juntos, mas a fisgada que senti no estômago fez com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo.

Porra, ele é o meu irmão!

É irônico, não? Acabei de matar nossos pais e eu estou me sentindo um monstro por imaginar meu pau afundando no ser ao meu lado. 

Nossos pais nunca poderiam ser considerados um tipo de modelo a ser seguido, mas eu ficava quieto e cuidava de Fred, ele é o mais medroso entre nós dois. Mas as coisas pioraram depois da morte da nossa irmã que, depois de muito sofrimento, não resistiu ao câncer.

Eles se tornaram a razão do meu ódio.

Papai chegava bêbado ou na pior das hipóteses à beira de uma overdose e o nariz cheio de pó branco. Nossa mãe? Ah, essa virou uma vadia. Eu sabia que ela não ia trabalhar, os caras do bar no centro da cidade são mais interessantes. 

APRISIONADO - DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora