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Quando acordei minha cabeça parecia que ia explodir. Minha mãos não estavam mais acorrentadas, toquei o topo do meu couro cabeludo e senti o sangue seco.

Minha garganta estava seca e dolorida, meu estômago estava vazio. Abri os olhos devagar para me acostumar com a luz; olhei em volta e percebi que estava em um tipo de sala. As paredes eram brancas e me deram um arrepio.

Apenas uma lâmpada iluminava o local e piscava ameaçando apagar.

Eu estava deitado em um colchonete fino e velho que cheirava à mofo. A porta era de ferro e em alguns pontos era possível ver a ferrugem se espalhando, comendo-a pouco à pouco.

Parecia uma sala de manicômio daqueles filmes de terror.

Percebi que não estava mais com as minhas roupas velhas, agora estava vestido com um tipo de uniforme. Tudo cinza, a camisa era um número maior que o meu e a calça também, fazendo com que dobrasse a barra dela.

O tecido era bem desconfortável, parecia o de um saco de batata e me pinicava. O sapato era preto sem cadarços nem nada. Tudo estava bem velho, parecia que com apenas um toque ele iria se desmanchar em minhas mãos.

Escutei o barulho de tranca do lado externo da porta e tentei me levantar sendo atingido por um forte enjoo que me fez sentar. A porta foi aberta com um rangido alto e um guarda apareceu. Não era o gordo, era um homem alto e forte, seu cabelo era raspado no estilo militar e ele estava com a roupa do exército americano.

- Levante-se. - ele ordenou, me levantei dessa vez mais devagar evitando que ficasse enjoado.

Ele se aproximou em passos ordenados, como uma marcha, e tirou uma algema do bolso do uniforme.

- Não fale nada e não se mexa se eu não ordenar que o faça. Entendido? - ele apertou as algemas fazendo com que a dor que havia sentido voltasse, assenti freneticamente e abaixei a minha cabeça olhando para o chão.

Fui levado para fora da sala e desejei nunca ter saído dela. O corredor que atravessamos era assustador. A pintura estava velha e escura, haviam várias portas iguais a da minha sala. Todas enferrujadas, como se há séculos ninguém se importasse.

Assustador. Sim, aquele lugar era assustador.

O soldado me levou para uma sala maior, dessa vez ela era limpa. As luzes também eram brancas, comecei a odiar o branco. Me lembrava a doença, morte.

O soldado tirou as algemas e percebi que havia outra porta, uma muito maior. Parecia ter uns três metros e ser de ferro maciço. O soldado se aproximou e abriu um painel que estava escondido atrás da parede. Com alguns toques a porta foi aberta mostrando a escuridão.

- O que você vai fazer? Me matar?

Ele não respondeu, apenas saiu me deixando lá com aquela porta assustadora. O medo tentava tomar conta da minha mente.

Você vai morrer. Fuja Draco.

Entre, há uma saída. Você sabe que tem, não é?

Eu estou enlouquecendo, eu estou delirando

Você está morto, sempre esteve.

NÃO.

Eu estava ofegante e suando frio. Meus pensamentos estavam em desordem me deixando com mais medo. Antes que gritasse o soldado voltou com um tipo de bolsa de pano nas mãos.

- Pra onde estão me levando?- tentei arrancar alguma resposta mas ele apenas me encarava sem expressão.

Ele pegou no meu braço me empurrando para a porta. Gritei para que me soltasse e me deixasse ir, ele jogou a bolsa na entrada escura e com a outra mão livre pegou meu pescoço.

Ele apertou e fiquei sem ar, cada vez mais me aproximava da porta. Fui empurrado caindo de bruços. Olhei para trás e antes que pudesse tentar fugir a porta foi fechada me deixando no escuro.

Sozinho.

A única coisa que ouvia era a minha respiração e o meu coração martelando no meu peito. Tateei o chão de pedra e encontrei a mochila.

Ás cegas tentei encontrar algo que me desse luz. Toquei em roupas e um par de sapatos. No fundo encontrei uma caixinha quadrada.

- Graças a Deus.- eram fósforos.

Consegui acender um e vi o quanto estava tremendo. Iluminei a caixinha e vi que não me restavam muitos.

- Seis, preciso economizar.- murmurei.

Amarrei o saco de roupas e comecei a caminhada. O fósforo não iluminava muita coisa mas era o suficiente para ver que eu estava em mais um corredor.

Senti o calor das chamas esquentarem as pontas dos meus dedos. Lá se foi o primeiro fósforo.

Acendi mais um, agora andando mais rápido. Parecia não ter fim, quanto mais andava mais longo parecia. Me assustava com meus próprios passos e comecei a ouvir barulhos desconhecidos.

Parei quando saí do corredor e entrei em um tipo de gruta.

- Mas o que diabos-

Encontrei quatro entradas, na verdade era rodeado de entrada. Do dois lados da que estava haviam mais cinco, e contei mais outras cinco na minha frente.

Fiquei parado por muito tempo. Apavorado. Até que o fósforo estivesse queimando meus dedos.

Acendi mais um e tentei decidir o que fazer. Eu poderia voltar e encontrar aquela porta trancada. Ou poderia ir na sorte e entrar em uma dessas que encontrei. Mas qual?

Espera... É isso!

Quando meu pai não era um bêbado, ele passava muito tempo comigo; nós ficávamos deitados no chão com as orelhas coladas na areia. Nós ouviamos muitos barulhos. Parece algo inútil, mas ele e eu passávamos o dia inteiro deitados no chão de terra escutando os barulhos. Então criávamos histórias, sobre o que esses barulhos eram. Elfos? Gnomos? Histórias de crianças.

Acho que isso serve para encontrar o caminho. Pelo menos eu acho que sim.

Ajoelhei e acendi mais um fósforo, eu estava ficando sem, tinha que ser rápido. Eu estava bem no centro da gruta, encostei minha orelha no chão e fechei os olhos me concentrando.

Ainda agachado no chão fui me aproximando de cada entrada, não sei quanto tempo fiquei assim, mas em uma delas escutei vibrações.

Levantei minha cabeça e olhei para a entrada, deve ser essa; tem que ser essa. Já usei quantos fósforos? Quatro? Agora é tudo ou nada.

Então a atravessei, dessa vez com passos cautelosos. Andei pelo o que pareceram horas, estava no último fósforo; então ele se apagou.

- Merda. Não, não, não. - toquei na caixinha e me deseperei quando percebi que estava sem.

Repirei tentando controlar meu desespero. Tateei a parede de pedra e caminhei lentamente tomando cuidado para que não caísse. Senti embaixo dos meu pés o chão se inclinar à medida que andava mais.

Eu estava descendo.

Continuei descendo mais e mais. Se lá na superfície o calor já era alto, aqui era insuportável. Eu estava suando muito e o meu cabelo estava pingando.

O chão parou de se inclinar e vi uma luz. Apertei os olhos para ver melhor e vi que era uma saída.

Andei mais rápido e a atravessei.

Não era uma saída. Não havia saída.

APRISIONADO - DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora