Leave behind to move on

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O vento bate forte contra nossos corpos. Ainda sentados na areia úmida, Harry e eu estamos abraçados por longos minutos. O céu está cada vez mais escuro, as ondas cada vez maiores.

_ quando era criança acreditava que quando chovia Deus estava chorando.

Harry diz e lança uma pedrinha pequena em direção ao mar.

_ quando era criança acreditava que eu me casaria com um príncipe se eu fosse uma menina comportada e recatada.

Dou de ombros e ele solta uma risada debochada.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos até ele decidir falar.

_ eu quis ser um príncipe certa vez, mas não é pra mim. Na verdade... Eu me esforçaria um pouco por você.
Ele sorri largamente me puxando para mais perto e beija minha bochecha.

_ Esther... Você acha que entre nós as coisas ficaram mais desbotadas depois de tudo?

Vejo pelo canto do olho que ele me encara, mas eu não consigo encará-lo e eu não entendo o porquê.

_ eu não sei.

Bufo sentindo um peso enorme apertar meu peito. Todas as coisas entre mim e Harry sempre aconteceram de forma tão... Incomum. Eu sei que foi um relacionamento abusivo, não tem como não ser quando se começa sendo sequestrada e por motivo nenhum se apaixona por um dos sequestradores e ele por não sei qual motivo se apaixona também.
Parece insensato pensar que mudei tanto a ponto de armar uma cilada pra tirar a vida do Harry. No fundo eu sei que não conseguiria, mas eu cogitei a ideia. É uma relação intensa demais onde coisas grandes com significados enormes acontecem em espaços curtos demais de tempo.

Não tenho tempo de superar uma coisa ruim, porque em seguida outra acontece.

_ o que está pensando? O silêncio parece incomodar Harry.

_ temos muitas feridas não cicatrizadas. Não superamos maior parte dos nossos desastres.

Olho para Harry. Seu corpo se vira bruscamente de frente para o meu. Suas pernas em volta do meu corpo me deixando presa à ele.

Suas sobrancelhas estão juntas e seus olhos revezam entre meus olhos.

_ o quê?
Ele pergunta baixo.
Uma gota de chuva cai na ponta do meu nariz e ele sorri, levando seu dedo até a gota para secá-la.

_ é que... São bagagens demais pra mim. Eu não estou dizendo que deixei te amar, que não vou me casar com você ou que não quero isso. Você provavelmente se sente da mesma forma e ainda ou não descobriu, ou está ignorando e jogando para baixo do tapete.

_não, não começa com essas ideias. Esther, eu sei o que quero, eu sei o que devo fazer. E eu sei que não vou machucar você de novo.

Ele diz ríspido enquanto engole em seco e desvia o olhar para o mar.

_ claro, eu sei. Mas não posso ignorar tudo.

Ele me solta de seu aperto, se virando para frente e abaixando a cabeça para apoiar entre seus joelhos levemente dobrados.

_ não vamos sair dessa parte. Sempre retornaremos pra esses assuntos.

_ é disso que estou falando, Harry! Nós não superamos... Deviamos... Nós....

Minha voz falha. Não consigo pensar direito e tão pouco falar, mas eu sei que é o certo.

_ não fala isso. Ele diz, mas parecendo com uma ordem do que um pedido.

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