Angels from hell

Before dawn

Depois de chorar horrores na minha cama e de tomar um banho longo e quente, vesti um dos pijamas que Harry trouxe. Ele disse que não sabia muito bem o que comprar, então os pijamas ficam um pouco apertados, mas nada que chegue a incomodar.

Volto pra cama, afinal não tenho nada o que fazer aqui. Pra descer preciso de permissão de um dos meninos, mas eu também não quero ficar lá embaixo. Eu só quero ficar e chorar. Será que eu fiz errado? Eu fiz errado em tentar uma nova vida? Eu sei que parece uma idiotice largar uma vida bem sucedida com todos os bens materiais que eu quisesse, mas eu não suportava mais aquela casa.

Ver as mesmas pessoas sempre, fazer as mesmas coisas e ainda ter que fingir publicamente que a minha família é perfeita. De perfeita só tem a casa, mas isso não é pauta agora.

Ouço alguém bater na porta e me sento na cama, esperando quem quer seja. Harry adentra o quarto e acende a luz. Ele está vestindo uma camisa branca e bermuda de moleton. Me parece que acabou de tomar banho, pois seu cheiro é forte e seu cabelo está levemente molhado.

- por que está tão escuro aqui? Virou morcego agora? Ele caminha até a cama e senta-se na beirada.

- eu... Não sei. Só queria ficar quieta e pensei em dormir talvez . Dei de ombros e mordi o interior da bochecha. Não queria parecer fraca na frente de Harry, mas era nítido minha cara de choro.

- Zayn me disse como foi. Eu te disse que poderia escolher e você nem exitou em aceitar. Se arrependeu? Ele me olha sério e por pouco tempo me distraio, vendo o quanto ele é bonito.

- você não me deu opções. Disse que eu faria isso por bem ou por mal. Cruzo os braços e ergo uma sobrancelha. Harry sorri levemente e balança a cabeça.

- eu não estava falando sério. Já tinha te falado que ia pedir o seu resgate hoje. Não se lembra? Eu tinha muito mais a ganhar pedindo seu resgate, do que tendo você na equipe. Isso é fácil de ser conseguido.

Ele está dizendo que eu sou substituível, é isso?

- então se tinha muito mais a ganhar, por que não o fez? Continuo com braços cruzados e Harry se levanta e vira de costas pra mim, passando a mão no cabelo.

- será útil viva.. ele se vira e me encara. E eu pediria seu resgate sim. Mas assim que virasse a esquina, seria morta. Não acha que eu deixaria que saísse daqui e contasse pra Deus e o mundo onde eu moro, quem eu sou e o que faço realmente, não é?

Harry se encosta na janela aberta e acende um cigarro. Não sabia que ele fumava. Eu me levanto e caminho até a janela, ficando ao lado de Harry.

- então eu deveria te agradecer por estar viva? Falo sarcástica e ele me olha enquanto traga seu cigarro.
Sua boca se abre levemente e a fumaça sai devagar.

- sim. Ele sorri e meus olhos vão para sua boca. Ela está tão rosada e me sinto curiosa pra saber se o seu sabor é como o cheiro da fumaça que sai agora, ou o cheiro de menta de todos os dias.

Pisco rapidamente pra fugir dos pensamentos e reviro os olhos.

- até parece. Viro o corpo e caminho até a cama novamente, me sentando.

- gostou das roupas? Harry se vira ainda encostado na janela e mantém o cigarro preso em seus dedos.

- sim, são bonitas. Tem bom gosto, mas errou o número. Sorri e ele levantou uma sobrancelha.

- não queria que eu adivinhasse também, porra?

- podia ter me perguntado antes, Harry!

- que seja... ele se vira e joga o resto do cigarro pela janela.

- o meio ambiente agradece! Falo ríspida e ele revira os olhos.

- foda-se. E sobre as roupas, amanhã alguém resolve isso. Vou pra sala, se quiser descer... Ele caminha e sai do quarto.

Eu até me sinto melhor quando Harry vem falar comigo. Ele tenta parecer um homem frio, mas as suas atitudes mostram quase o contrário.

Depois que Harry saiu do quarto, apaguei a luz e voltei a me deitar. Eu realmente não queria comer, então apenas dormi até que meu corpo pedisse para que eu me levantasse.

O dia mal clareou. O céu está num azul escuro bem apagado. No horizonte, a luz do sol aparece fraca. Suponho que seja ainda por volta das 5 horas da manhã. Minha barriga ronca e eu preciso comer alguma coisa.

Os meninos estão dormindo, por isso não acho que seja arriscado descer sem permissão. Escovo os dentes e coloco um casaco por cima do pijama curto.

Abro lentamente a porta e verifico se alguém está acordado. Todas as portas estão fechadas. É difícil ver lá embaixo, pois a casa ainda está escura.

Caminho com cautela pelo corredor e desço as escadas. A sala está vazia e eu vou pra cozinha. Abro a geladeira e pego um jarro de suco. Procuro por um copo e encontro um aparentemente sujo de algo alcoólico, pois o cheiro é forte.

Depois de lavar o copo, coloco o suco amarelo e caminho até a sala enquanto bebo.
Paro em frente a Tv e observo meu reflexo. De repente a porta se abre e por pouco não deixo que o copo caia.

Harry está vestido com sobretudo preto e um chapéu na cabeça. Seus olhos encontram os meus e ele franze a testa.

- o que está fazendo aqui? Ele tira o chapéu e o joga no sofá. Seus passos vêm em minha direção e posso me sentir amedrontada, pois seus olhos não estão verdes e calmos como ontem. Estão escuros e intensos.

- eu estava com fome. Não comi ontem e desci pra tomar um suco. Levanto o copo e ele olha parando de andar.

Seus olhos percorrem meu corpo e ele cerra a mandíbula. Posso ver que seus punhos estão fechados.

- não pode sair sem permissão. É assim que quer ganhar minha confiança? Desobedecendo?
Ele tira o sobretudo e fica apenas com uma camisa preta e calças.

- me desculpe. Era só fome. Fecho os olhos e me encolho quando seu braço vem em minha direção e joga o copo no chão, o quebrando.

Puta merda.