Definitivamente, era um ataque de pânico.
Não o primeiro, toda as vezes que Kenma pensava em nunca mais te ver se encontrava na mesma situação, mas fazia quase um ano que não acontecia. Ele havia aprendido a pensar em você só realmente quando queria, mas sempre se arrependia depois. A culpa sempre aumentava. Agora o fato de você ser literalmente a vizinha de Kenma, o deixava apavorado, ele não esperava te ver tão cedo, ele sabia que Ukai não deixaria ele ir logo. Ele não sabia o que fazer. Pela primeira vez na vida, Kenma não conseguia pensar em uma solução sequer para um problema.
Deixando a água da pequena banheira esquentar seu corpo, ele abraçava os joelhos, com os olhos arregalados e sentindo-se tão assustado como nunca. Pensava quando você havia se mudado. Talvez fosse em algumas das viagens pelo país quando estava fora e você veio. Começou a sentir o cheiro de torta a pouco mais de um mês, o que podia significar que você estava ali a quase isso. A ideia de que poderia ter te encontrado por acaso na rua o apavorava, deve tomar mais cuidado daqui pra frente.
Depois de mais de duas horas dentro da banheira, que já estava vermelha pelo sangue que tinha em seu corpo, estava trocado, usando um shorts qualquer e nada por cima, apenas com os cabelos molhados e penteados. Kenma foi até a varanda do segundo andar da casa, onde tinha apenas o quarto e banheiro, a visão que ele tinha da sua casa era praticamente perfeita. A sua sacada ficava do lado a dele. Estavam tão próximos que se assustava com isso. Ele se perguntava o que você fazia ali, você tinha dinheiro o suficiente pra morar em um bairro bem melhor.
Ele se sentou no chão, acendendo um cigarro. Era quase seis da manhã e o sol já dava as caras no horizonte, mas ainda esta escuro. Seu coração pareceu parar quando as luzes do seu quarto acenderam, você abriu a janela do seu quarto, Kenma se abaixou mais quando fez isso, em seguida a porta da sua varanda, falando algum xingamento e entrando de novo. Kenma chorava sem perceber, as lágrimas escorriam pela bochecha quase desesperadas, você realmente estava ali, Kenma não via seu rosto a tanto tempo que por pouco não havia se esquecido. Você estava nua, andando de um lado pro outro, ele não tinha como descrever o quão bonita você estava.
Depois de cinco anos, seu cabelo estava consideravelmente maior, você tinha uma aparência mais madura e ao mesmo tempo mais cansada, assim como Kenma. Seu corpo tinha várias novas tatuagens, você tinha fechado quase um braço. Mas estava linda. A vontade de pular aquela sacada e ir direto bater na sua porta deixava Kenma louco, ele precisava de você logo, mas mesmo depois de cinco anos, nunca conseguiu pensar no que iria te dizer. A desculpa que daria ou no que falaria. Ele realmente temia que você nunca o perdoasse, mas seria compreensível, infelizmente, você tem todas as razões do mundo pra odia-lo.
Passado mais alguns minutos, você se trocou, colocando uma blusa de regata e um shorts jeans, desceu as escadas e saiu de casa, Kenma não conteve o sorriso ao ver que você estava com o óculos que ele havia te dado. Aquele óculos estava com você a tanto tempo, mesmo antes de terem algo sério, que ele nem se lembrava que tinha até agora. Pelo menos você não havia se esquecido.
Já era claro, você saiu andando na direção contrária da casa de Kenma, então não olhou para lá. Ele ponderou a ideia por alguns segundos, com certeza era péssima, mas ele estava curioso. Colocou uma blusa e desceu as escadas, pegando o que precisava e saindo de casa. O grampo abriu a porta com facilidade, a fechadura era horrorosa, isso ajudava a abrir facilmente. Kenma passou os olhos pelo lugar, respirando fundo, cheirava a tinta. Ele viu a torta que você fez em cima da mesa, era a mesma que fez para ele uma vez.
Havia quadros, pincéis e tintas espalhados, alguns quadros finalizados, outros não, era uma bagunça bonita. Ele subiu as escadas, indo até seu quarto, não era muito diferente do outro andar. O quadro que Kenma havia pedido para você pintar dele estava lá, pendurado em cima da cabeceira da sua cama e tinha mais algumas milhares de pinturas do garoto. Ele se sentou na cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e encarando o chão. Suas mãos tremiam e ele soava frio, sabia que era uma péssima ideia.
Quando ele viu seu celular na mesa de canto, já era tarde pra ele sair dali, você o encarava de pé na porta, com os olhos arregalados e lacrimejados. Nenhum disse nada por mais de cinco minutos. Os cinco minutos mais longos de suas vidas.
— Me desculpa. – ele disse baixo, se levantando. Você ainda ficou minutos sem o responder.
— Você estava vivo o tempo todo? – perguntou com a voz falha. – O tempo... todo?
— Sim. Eu realmente sinto muito.
— Ah, meu Deus! – disse devagar, escorregado na parede ao lado até o chão, apoiando a cabeça em suas mãos. – O tempo todo. Você me deixou. Por cinco anos, me deixou por cinco anos! – parecia que você dizia mais para si mesma do que para Kenma, ele apenas se sentou na cama, assentindo. – T-tem noção de como eu fiquei? Kuroo! Meu Deus, Kuroo. – negou com a cabeça, soluçando em seguida. – Cinco anos e você estava fingindo?! O tempo todo... fingindo.
Ele não disse nada, apenas se levantou, te encarando chorar sem pausa e se agachando ao seu lado, lentamente, deslizou a mão direita por seu braço, mas você rapidamente rejeitou seu toque com um tapa na mão dele.
— Não encosta em mim, caralho! – bradou, limpando as lágrimas. – Vai embora.
— Precisamos conversar, por favor. – disse devagar, ficando um tempo em silêncio. – Eu tive que fazer isso, não era como se eu quisesse.
— Eu tenho certeza que você teve um motivo ótimo pra isso. Mas eu realmente não... consigo. Cinco anos vivendo a porra de uma mentira. – sussurrou para si. – Vai embora, Kenma, é muito pra mim.
— Eu moro do seu lado. – ele disse baixo, você o encarou desacreditada.
— Você é meu vizinho que nunca para em casa. – afirmou, soltando um suspiro cansado e choroso. – Todo esse tempo do meu lado.
— Eu não sabia, descobri hoje que era você. – ele se sentou no chão também, um pouco distante de você. – Não vou embora. De novo não.
— Bom... – você engoliu o choro, dizendo com a voz fraca. – Acho que tem muito a dizer então.
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𝐃𝐎 𝐍𝐎𝐓 𝐅𝐎𝐑𝐆𝐄𝐓, kozume kenma
Fanfictionarte pertence à @hye_.xa no instagram! A vida de [Nome] nunca foi tão pacata assim. Sempre lugares novos, pessoas novas e aventuras novas. O que não esperava é que não teria um dia de sossego depois que o meio loiro entrara em sua vida, o que já era...