f i f t y - t h r e e

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Algumas semanas depois.

Sua cabeça latejeva tanto que mal conseguia abrir seus olhos. Fazia um tempo que você não bebia igual bebeu ontem e sua resistência pra bebida havia ficado pior do que sempre foi. Sentiu braços em volta do seu corpo, virando a cabeça para o lado e vendo Kuroo dormindo pacificamente. Por alguns segundos se assustou, achando que tinha feito algo além, mas ainda tinha algumas memórias frescas da noite passada e nada, vocês haviam apenas bebido juntos.

Se levantou da cama, indo até a cozinha da sua casa e pegando uma aspirina do armário, tomando sem água. Um longo suspiro escapou dos seus lábios, encostou no balcão da cozinha. Você não tinha ideia do por que havia continuado em Tóquio. Na verdade, Akaashi havia te convencido, mas não era como se você quisesse ficar ali.

Muitas lembraças e momentos que nunca mais voltariam.

Disparou para o quarto, entrando no closet e abrindo uma mala, jogando o tanto de roupa que conseguia lá dentro. Pegou o essencial e depois seus documentos, principalmente seu passaporte. Entrou em um banho rápido, tirando a preguiça que estava em você pelo fato de ter recém acordado e voltou para o closet, colocando uma calça jeans clara e uma blusa de manga comprida preta. Calçou os tênis e fechou, a mala, saindo do closet em passos pequenos, não queria acordar Kuroo.

Mas para seu azar, ele já estava acordado, sentado na cama enquanto via tudo o que fazia.

— Eu estava...

— Você vai embora de novo, não vai? – perguntou sem te encarar. Você apenas suspirou.

— Preciso.

— Não precisa, [Nome]. – ele te encarou, parecia bravo. – Você não foi ao enterro e sumiu por mais de um ano e agora vai sair de fininho? De novo?

— Eu não consegui ir no enterro! Eu precisava de um tempo sozinha, você sabe.

— Eu sei. – ele bufou, se levantando. Kuroo usava apenas uma calça jeans preta e nada na parte de cima, mas buscou sua blusa pelo quarto e a colocou. – E eu precisava de você. Eu perdi meu melhor amigo e te perdi junto, eu não disse nada antes, mas você ir embora de novo é a pior coisa que pode fazer!

— Não consigo ficar aqui, Kuroo. – você o olhou incrédula. – Por que estamos brigando? É só eu sair pela porta e nada vai importar.

— Claro que não importa. Eu enterrei meu melhor amigo sozinho, mas não importa. – ele colocou as mãos nos quadris, encarando os próprios pés e respirando fundo. – Foda-se, você faz o que quiser. Pode ir.

Tinha que saber que Kuroo não havia te perdoado tão facilmente por não ter ido ao enterro. Mas Kenma deitado, sem cor e sem vida dentro de um caixão, não era algo que você queria se lembrar, achou melhor se poupar de tamanha tristeza assim.

Sem dizer mais nenhuma palavra, pegou sua mala e sua bolsa, saindo do quarto as pressas. Ao sair de casa e entrar em um dos carros que antes era de Kenma, respirou fundo, sentindo seus olhos arderem de novo e o choro preso na garganta. Você estava errada, sabia disso, afinal, Kuroo sempre estave lá por você nos momentos ruins e bons, não importando se Kenma estava vivo ou não, mas agora você mal conseguia ficar na presença do moreno sóbria.

Mas não se arrependia. Não tinha vontade de ficar. Longos minutos dirigindo até o aeroporto, comprou o primeiro vôo disponível, era para o Chile, longe o suficiente do Japão pra ninguém te achar e você não precisar mais conviver com o tanto de memórias que tinha em Tóquio. Ainda tinha algumas boas horas para o vôo, então decidiu voltar para seu carro, dar uma última volta pela cidade.

Tinha apenas uma coisa que você ainda não havia feito. Visitar o túmulo dele, sequer havia passado perto do cemitério que seu corpo estava enterrado. Não sabendo se realmente o faria, apenas dirigiu, olhando pra frente, percebendo que estava na praia. O sol nascia, você não tinha percebido o quão cedo era até aquele momento, mas era bonito, se lembrava dele.

Isso não era algo necessariamente ruim, lembrar-se dele. Todas as memórias que tinham juntos ao mesmo tempo que te colocavam pra baixo pelo fato de saber que nunca mais o veria de novo, te reconfortava e talvez fossem elas que te fizessem seguir em frente, sabia que com elas levaria Kenma pra sempre com você e com certeza, nunca, nunca se esqueceria dele, assim como prometera.

Não gastando muito tempo na praia, voltou a dirigir, agora em direção ao cemitério, decidida que seria a primeira e última vez que veria sua lápide. Estacionou o carro e passou pelos portões do lugar, sentindo um arrepio percorrer pela sua espinha e se arrependendo no mesmo instante, mas não voltaria atrás agora. Procurou um pouco até achar e lá estava.

Não tinha nada escrito além de seu nome e da data de nascimento e falecimento. Se agachou, ainda com os pés no chão, encarou o concentro retalhado, tinha algumas flores secas ali e uma vela já acabada. Sua respiração havia ficado trêmula, seus lábios tremiam pelo fato de você segurar o choro, chegando em um ponto que tudo saiu de uma vez. Odiava ter se tornado alguém que não conseguia segurar as próprias emoções como antes.

— Você me fodeu. – disse, encarando a lápide. – E não do jeito bom como costumava fazer. Você realmente me fodeu. O que espera que eu faça por aqui sem você? – respirou fundo, limpando as lágrimas da sua bochecha. – Eu confiei em você porque tinha me prometido que não morreria, Kenma e olhe para nós agora! Estou conversando com a porra seu túmulo. Caralho, como espera que eu continue minha vida? Você morreu na minha frente! Eu vi seu coração parar de bater na minha frente e você sequer se importou com isso. Parece que pretendia morrer! Por que me deixou todo esse dinheiro? O que espera que eu faça com essa merda? – bufou, se levantando e chutando as flores pra longe, arrependendo-se em seguida. – Me desculpa. – choramingou, fungando o nariz. – Eu sinto tanto sua falta, nada mais é a mesma coisa.

Estúpida. Era o que você se xingava. Brigando com um túmulo como se realmente fosse obter alguma resposta, você não conseguia pensar em coisa mais ridícula de se fazer.

— Eu vou embora e não vou mais voltar. Não pretendo pelo menos. – suspirou, abraçando os proprios braços. – Amo você, Amarei você para sempre. E nunca vou me esquecer do quanto você me amou.

Encarou o túmulo pela última vez, girando os calcanhares e saindo dali o mais rápido que conseguia. Era muito pra você. Ansiava pelo dia que se lembraria de Kenma e essa dor excruciante no peito não estivesse mais lá. Sabia que esse dia com certeza demoraria alguns anos para chegar.

Por agora, você apenas iria embora.

E nunca mais voltaria.

𝐃𝐎 𝐍𝐎𝐓 𝐅𝐎𝐑𝐆𝐄𝐓, kozume kenmaOnde histórias criam vida. Descubra agora