Persephone - 𝒆𝒎. 𝒄𝒖𝒍𝒍𝒆𝒏

|𝚝𝚑𝚛𝚎𝚎|

Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo.

— Clarice Lispector

Terça-feira, um dos dias mais agitados.
Novamente, a mesma rotina de toda manhã; tomar os medicamentos para me manter sob controle e correr pela floresta.

A atmosfera daquele dia estava estranha, como se a floresta estivesse se preparando para algo importante. Ou talvez fosse apenas eu, me preparando para mais um dia repleto de atividades a serem cumpridas com — no mínimo — perfeição.

Ao voltar para casa, Margot já estava pronta para trabalhar, com uma caneca de café em mãos e digitando algo em seu tablet.

— Bom dia, senhora. — Murmurei.

— Bom dia, Persephone. — Disse ela, sem tirar os olhos do equipamento.

Subi as escadas em silêncio e, já no quarto, tomei outro comprimido de citalopram, antes de ir para o banho.

A quase-crise da noite anterior havia despertado um alarme em minha mente — talvez fosse hora de tomar mais remédios. Enquanto corria, acabei por notar que tomava doses muito altas de oxi, e, ainda assim, eu mantinha a mesma quantidade para o Rivotril e os demais remédios para meus problemas.

Escolhi, estrategicamente, um casaco com bolsos internos, o que me permitiria carregar meus medicamentos pela escola tranquilamente. Minhas roupas eram, geralmente, prenoninantemente em tons escuros, dessa vez, usava jeans preto, um suéter cinza escuro, e meu casaco era em um tom azul-petróleo. Apesar de tentar me vestir bem, eu sabia que, em breve, calças jeans e cachecóis seriam trocados pelos uniformes azuis-escuro da marinha. A não ser que eu fosse embora.

Mas, para onde poderia ir? Eu não teria meios para viver sozinha. Sem falar, é claro, na reputação de meus pais, que seria arruinada.

Era melhor enterrar certos sonhos no fundo da mente. E encarar a realidade maçante.

Olhei de relance para meu computador, onde meu sonho secreto começara a ganhar os primeiros capítulos.

Desci as escadas com calma, prendendo os cabelos em um rabo de cavalo.