XXXXI

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Ontem recebi uma noticia que não me agradou nenhum pouco, se fosse há um ano atrás seria diferente. A Alice se enforcou, não queria que ela morresse, pelo menos não agora, queria que ela pagasse por tudo que fez a você, que fez a nós. 

Três meses depois da sua morte ela foi transferida pra uma clinica psiquiátrica, falaram que ela enlouqueceu por conta da culpa. Não acreditei nenhum pouco nisso, pra mim tudo isso era uma desculpa pra ela se livrar da cadeia. Mas com essa noticia, talvez isso seja um pouco verdade.

Me desculpa por passar tanto tempo sem te escrever, não conseguia formular uma palavra se quer, a dor que eu sinto, acho que nunca vai passar. É como se todo dia um pedaço de mim fosse arrancado, a dor é dilacerante, espero que o tempo diminua essa dor, porque por enquanto, está me matando, dia após dia.

Hoje faz um ano, um ano sem você aqui comigo, um ano que vejo nossa filha e me recordo cada vez mais de você. Ela se parece tanto com você que até fico assustada, os olhos principalmente. Como eu queria que tudo isso fosse só um sonho, que eu pudesse acordar a qualquer minuto e ter você ao meu lado, mas infelizmente isso não vai acontecer, custou muito tempo pra eu poder acreditar que você realmente se foi.

Queria que soubesse que você sempre vai ser o amor da minha vida, pode se passar, dez, vinte, cem anos, isso nunca vai mudar, posso não ter você fisicamente aqui, mas sei que estará sempre no meu coração. 

Por mais que nossa filha não entenda as coisas ainda, sempre conto de você a ela, quero que ela cresça sabendo como o pai dela era um cara incrível e o quanto você a amava.

Nada e ninguém no mundo vai mudar isso, você sempre será meu marido e ela sua filha. 

Como eu queria você aqui, toda vez que ela olha sua foto o sorriso cresce automaticamente, ela conversa bastante com você, numa língua que só ela entende, espero que você a responda.

Sinto muito a sua falta, todos os dias e a todo tempo. Me desculpa por ter feito pouco por você, me desculpe por não ter atendido seu pedido, poderíamos ter ido viajar, com certeza nada disso teria acontecido.

Confesso que estava com medo desse dia chegar, um ano da sua morte, e um ano de vida da nossa filha. Queria não ficar triste, queria poder ficar completamente feliz já que a nossa pequena está crescendo, mas eu não consigo. Só penso que era pra você estar aqui comigo, comemorando isso.

Eu tenho tentado ser forte por ela, mas tem momentos que não consigo, então venho aqui e escrevo pra você, um desabafo, acho que as pessoas ao meu redor estão cansadas de ouvir minhas lamentações, não as culpo, realmente é um saco ficar perto de alguém que só sabe falar de como era bom ter alguém por perto.

Graças a Deus o pessoal tem me ajudado muito. Guilherme passa todos os dias aqui pra ver como ela está, Gus a mesma coisa. Sou sortuda por ter eles ao meu lado. 

— Gi! — A voz do Guilherme atrás da porta me trouxe de volta a realidade.

— Já estou indo.

— Não demora, o bolo acabou de chegar.

Eu preciso ir, quando tiver mais um tempo eu volto, sempre tem coisa novas pra contar a você. Eu te amo muito, e será assim por todos os dias que ainda tenho que viver.

Dobro o pedaço de papel e coloco novamente dentro de uma caixa no closset, as vezes é bom escrever pro Pedro, mesmo sabendo que isso nunca vai chegar pra ele, que essa carta nunca será lida.

Tá na hora de voltar pra realidade, não posso ficar dentro desse casulo, tenho alguém que precisa de mim cem por cento.

Abri a porta e sai do quarto, o som da musica e as pessoas andando pela casa indicavam que a festa já tinha começado. Inspirei fundo antes de dar o primeiro passo. 

Então é isso. De volta pra realidade.

Meu Querido PrimoOnde histórias criam vida. Descubra agora