O juiz recomeça o processo ao anunciar que a acusação pediu a inclusão de nova testemunha e Patrick se levanta automaticamente.
- Exatamente Excelência. Fui informado agora de sua chegada ao recinto, em função de sua idade avançada e sua condição física e precária. O senhor permitiria que ela entrasse e desse seu depoimento imediatamente?
A autoridade permite.
- Que entre a testemunha, a senhora Sebastiana Almeida.
Laura fica surpresa por ouvir o nome familiar, e não tinha como não reconhecer o nome daquela pessoa que um dia trabalhou para sua mãe e para Vinicius. Com sua aparição, Vinicius fica tenso e apreensivo. A senhora de idade entra com sua cadeira de rodas, carregada por um homem que provavelmente era enfermeiro devido a sua vestimenta branca. Laura e ela trocam olhares e um breve sorriso.
- Tiana...
Sussurra Lorena ao reconhecer sua antiga empregada.
O enfermeiro guia dona Tiana até o banco das testemunhas.
- Dona Sebastiana Almeida, sente-se em condições de responder as perguntas?
- Eu tenho idade, não estou bem de saúde mas a cabeça está boa sim. - Laura a olhava com muito carinho - eu vou responder.
O juiz declara:-
- A testemunha é da acusação.
- Dona Sebastiana - começa Patrick - ou Tiana como é mais conhecida. A senhora trabalhou na casa de dona Lorena e do senhor Vinicius Castro?
- Sim senhor. Eu era uma faz tudo. A senhora cuidava da menina Laura? - Dona Tiana encontra Laura e a observa - como você cresceu filha. - O juiz solicita que ela responda as perguntas, ela recomeça a responder- trabalhei sim, eu era faxineira, lavava, só não cozinhava, mas esquentava a comida que a mãe dela preparava de noite, ela trabalhava fora.
- A senhora saberia reconhecer a sua ex patroa aqui nesse tribunal? - Tiana apontou o dedo e sorriu - dona Lorena, como vai a senhora?
Lorena não conseguia sorrir por conta do peso de culpa e remorso por não ter ficado do lado da filha.
- A senhora seria capaz de reconhecer seu ex patrão, doutor Vinicius?
A expressão dela não foi de alegria, e sim de apreensão.
- Doutor Vinicius, como vai doutor?
Com expressão carrancuda Vinicius disse sim com a cabeça.
- A senhora cuidava da Laura menina?
- Bom, eu não era uma babá, eles não tinham dinheiro para pagar uma babá só pra cuidar da menina. Naquela época ela precisava trabalhar fora e ele ganhava muito pouco. Eu deixava a menina brincando no quintal perto do tanquinho que tinha umas tartarugas e de vez em quando eu a olhava da janela, da porta e fazia meu trabalho.
- A senhora notou alguma vez notou algo estranho?
Dona Tiana hesita
- É... a menina aparecia cheia de manchas, roxões.
Patrick reformulou a pergunta que ia fazer.
- O doutor Vinicius passava muito tempo com sozinho com Laura?
Na mesma hora Tiana colocou uma mão no rosto, querendo chorar.
- Meu Deus do céu... Meu Deus...
- Dona Tiana, a senhora pode dizer o que quiser.
- Doutor eu tô muito doente, não sei como consegui chegar até aqui. Eu moro no asilo e essa doença ruim tá me comendo toda por dentro, eu sabia que era questão de tempo, vou prestar conta com Deus. Mas eu.. carrego esse peso...
Tiana estremecia com a culpa carregada há tanto tempo.
- Peso?
- Sim. - Tiana revela o segredo que tanto guardou - a menina só tinha 8 anos, oito anos - Laura começa a chorar, aliviada - ele um dia eu vi da janela eu vi ele se aproximando dela com aquelas mãos enormes - Laura fita a mãe que finalmente cai na real - e ela chorava muito, chorava de medo. O choro de Laura podia ser escutado, uma lágrima cai no rosto da mãe - eu vi que ele mal pra ela.
Laura se segurava para não chorar alto, Rafael olhava a dona Tiana com lágrimas e a esposa do réu chorava junto.
- eu sabia que aqueles arranhões, todo sangue.
- Sangue? - indagou Patrick
Tiana continuava seu delicado e triste relato, Laura, Lorena e Rafael ainda eram os únicos que choravam. O delegado de defesa não tinha coragem
-sangue mesmo, eu dava banho nela, eu... sabia o que era aquilo mas eu tinha medo, medo de perder o emprego. Eu tinha meus filhos, meus netos precisava comer sabe? eu precisava do salário. Eu nunca, eu nunca falei pra ninguém, nem pra mãe dela. Eu dava banho nela, eu ajudava a disfarçar, porque ela também tinha medo. Eu tinha medo dele, um delegado. Quem sou eu? - ela fungou - mas agora não quero, não quero mais carregar esse peso comigo. - Tiana novamente encontrou os olhos de Laura - você me perdoa?
Laura sussurrou:
- Claro.
As mãos unidas em oração, agradecendo em silêncio.
Com o perdão daquela menina Tiana não segurou as lágrimas. Bruno colocou uma das mãos no ombro de Rafael o apoiando e a maioria das pessoas naquele local choravam pelo brutal e ato covarde do Vinicius. O juiz não conseguia falar e tentava prosseguir com o julgamento. Mas como? o relato da ex empregada de Lorena impactou e mexeu com todos do recinto. Patrick se esforçava para não mostrar suas emoções mas seu rosto estava visivelmente abatido.
- Mais alguma pergunta doutor Patrick?
- Não Excelência. Obrigado dona Tiana.
Com voz embargada, Gustavo questiona:
- E a defesa?
- Não Excelência.
Laura jogou um beijo na direção da senhora de idade.
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A História de Laura e Rafael
RomancePrimeira história que descrevo (do meu jeito) , durante a reprise da novela O OUTRO LADO DO PARAISO, eu senti muita vontade de repassar por escrito a história desse casal tão lindo e que teve seu merecido final feliz.