Prólogo

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Eu já tinha me habituado com guerreiros que jogavam suas ameaças e maldições, jurando me matar em nome de algum Deus ou de algum Rei, mas seus esqueletos agora estavam no fundo do Rio dos Ossos. Aqueles que lutaram de maneira magnifica estavam em meu castelo, no alto daquela montanha, intocado por uma alta muralha de pedra, servindo de troféu em um dos quartos preparados para tal. Contudo, também tinha me acostumado com aqueles que me adoravam e me traziam oferendas em busca de paz e proteção, e me tinham como uma Deusa. Mas não estava acostumada com o silêncio, e por isso não retribuía aos ataques que aquela jovem guerreira se dispunha com tanto ímpeto. Era evidente que tinha treinado e era melhor que a maioria com quem lutei, mas lhe faltava experiência, o que ela tentava recompensar com energia e agilidade.

—Você poderia ao menos me contar o que te trouxe aqui. — Sugiro, aparando o ataque de sua arma com um simples escudo. Mas ela não me respondeu, baixando a arma, percebendo que era inútil. — Fama? Gloria? Vingança? Se me disser que um dos ossos no rio é de um parente seu, eu posso te ajudar a encontrar.

—Eu não me importo. — Ela finalmente falou, voz suave, erguendo uma mão e deixando uma energia purpura fluir entre seus dedos. — Essas motivações são para amadores. Eu não serei mais ossos para o seu rio.

—Então você veio para me matar.

—Sua morte é consequência para eu conseguir o que quero.

—Que é?

Mas ela não precisava responder. Havia a lenda de quem me derrotasse, herdaria meus poderes. Claro que meus poderes não podiam ser levados dessa maneira, mas eu morreria se eles fossem roubados de alguma forma. Então a menos que ela tivesse algum poder misterioso, eu seria obrigada a acabar com essa ideia da cabeça dela.

Deixei que minhas asas me fizessem subir, abrindo algum espaço entre nós, observando enquanto a energia púrpura fluía com maior intensidade de sua mão, direcionada para mim. Ela desapareceu no segundo seguinte, e reapareceu a minha frente, mas ao invés de tentar me acertar diretamente, um estrondo me alertou do ataque por trás, então bati mais forte as asas e subi mais, desviando da luz purpura que ela havia lançado. Ela repetiu o ataque mais duas vezes, e na terceira vez o ataque veio direcionado de todos os lados, deixando-me quase sem saída. Quase.

A energia crepitou dentro de mim, e eu desapareci daquele ponto e reapareci atrás dela, utilizando minha lâmina vermelha, a Raio Lacerante, feita somente de um fragmento de energia solar, para atravessar sua coluna, mas sua figura era somente mera projeção, e minha lâmina rasgou somente fumaça púrpura.

—Decidiu retribuir aos ataques? — Sua voz me atraiu a atenção de volta para o chão, agora distante, e ela parecia não ter saído do lugar desde o início, ainda com a mão erguida em minha direção. — Dessa forma sua morte será justa.

—O que te faz pensar que pode me derrotar? Só começamos há alguns minutos, e já percebo sua concentração se perdendo. — Indico sua mão trêmula, mas ao contrário do efeito que esperava, ela riu, baixando a mão.

—A culpa é sua. Voando assim, com toda sua pele a mostra. É um desperdício ter que matar você.

Há alguns minutos ela tinha sido silenciosa o suficiente para me atacar enquanto não esperava, na beira do Rio dos Ossos, e agora estava flertando comigo. A energia crepitou outra vez, então apareci a sua frente, em seu espaço pessoal, sorrindo ao encontrar a surpresa nas irises azuis.

—Se esse é o problema, podemos resolver isso de outra forma.

—Claro. Você pode se ajoelhar e me deixar cortar seu pescoço de uma vez. — Ela se recompôs de sua distração, voltando a erguer a mão para me atacar, mas dessa vez havia uma lâmina escura, eu percebi o encantamento escrito nela, e me afastei, ainda que tenha sentido o corte abrir em minha bochecha.

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora