Os símbolos em sua pele carregam a herança do seu povo

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—Você? Aprendendo a dançar? — Vaanë me olhou com deleite, tinha acabado de pedir que me ensinasse a dança que era costume haver antes da união, quando nossos pais ainda eram vivos. — Volinüs já está fazendo pedidos? Aquela garota é engenhosa. Não a deixe te dobrar!

—Você vai me ensinar ou não? — Pergunto impaciente, ainda na porta de sua casa.

—Claro! Vamos, entre! O inverno já está querendo chegar em nossos lares.

Isso era verdade. Estava esfriando mais rápido naquele outono, as folhas caiam com mais pressa, provavelmente começaria a nevar em breve.

Eu já tinha vindo a casa de Vaanë várias vezes desde que conquistamos a cidade. Era menor que as casas que os outros tinham escolhido, afinal, ele tinha escolhido um ponto estratégico para morar. Ele quem estava encarregado de prever um ataque do sul, por terras cristãs, onde havia o povo do mar a ocupar terras que não eram deles. Seus filhos gêmeos eram os mais jovens, já tinham idade de correr pela casa, e o faziam sem receio, derrubando um ao outro e derrubando a mobília no trajeto. Eles gostavam de mim porque eu sempre levava doces e brincava com eles, hoje foi diferente, eu dei os doces e esperei que Vaanë começasse os passos, o que não os impediu de achar que brincava com eles e passarem a imitar nossos passos.

—Você precisa ser mais firme. — Vaanë me corrigiu, eu endireitei a postura e respirei fundo, repetindo o último passo com mais precisão, ele não reclamou. — Se vai conduzir Volinüs, você não pode abrir espaço para dúvida. Ela não é do tipo que espera se você errar um passo.

Os gêmeos se esforçavam para parecerem sérios e nos imitar, mas acabavam soltando risinhos. Estávamos todos na sala comum, os móveis tinham sido arrastados para as laterais para abrir espaço.

A dança em si não era difícil, mas requeria precisão e coordenação, porque alternava rapidamente entre movimentos lentos e com velocidade. Não me surpreendia que Volinüs queria dançá-la antes de nossa união, por mais precisa que fosse a dança, era divertida, e ela queria me testar. Queria saber se tinha me empenhado e se a conduziria bem. Eu tinha que aprender e fazer isso de maneira exemplar, porque queria dar essa certeza a ela. Talvez assim ela não tivesse mais tantos temores em relação a mim.

Comecei a passar mais tempo na forma de graahkiniana em busca de não precisar me concentrar tanto. Diferente de criar uma ilusão, eu tinha que fazer meu corpo reagir a mudança voulcan, uma vez que já fui daquela forma. Era diferente, também, de disfarçar meu corpo em forma humana, que era manter uma ilusão, uma vez que nunca fui humana como Seanë.

Era diferente andar naquela forma. Não havia a mesma fragilidade do corpo humano, havia as marcas de Graah em minha pele, e isso carregava um peso maior e mais valoroso para mim e ao meu povo, e eu as possuía por todo corpo. Os símbolos desciam em duas faixas pelo meu pescoço, contornavam meus ombros e paravam ali. Outras runas seguiam o mesmo padrão nos meus dedos, nos meus seios e em minha barriga, possuindo somente uma circular no interior de minha coxa direita, e somente uma atrás do meu ombro, nas costas, igual ao de meu filho, Enuvië.

Quando fui à casa de Volinüs naquela noite, ela quem me recebeu na porta, usando um vestido azul com tecido mais grosso e com mangas, as tranças da noite anterior estavam presas num coque mais elaborado. Havia joias em suas orelhas e pulsos, o que deixava seu pescoço convidativo.

—Boa noite, ki aterkinë. — Digo por fim em nossa língua, decidida a manter o hábito, oferecendo uma carícia no seu rosto. — Sua presença aquece minha noite.

—Apenas sua noite? — Ela sorriu, buscando me provocar.

Inclino-me na sua direção, olhando para os seus olhos, que focaram nos meus lábios. Eu a beijei, pressionando meus lábios nos seus, percebendo sua respiração se prender naquele momento. Suguei seu lábio superior quando me afastei devagar, mas me mantendo suficientemente perto para sentir sua respiração se soltar.

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora