Fazemos acordos para nos tornarmos mais fortes

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Tive que estapear o rosto de Vonü para obrigá-la a acordar. Ela abriu os olhos, assustada, então deslizou os olhos pelo meu corpo como se estivesse em busca de algo, e me abraçou com força. Perdi o fôlego por um momento, surpresa, mas não a afastei, afundando os dedos em seus cabelos cobreados, tentando acalmar as batidas rápidas do seu coração. O que tinha acontecido para deixá-la daquela forma?

—Está tudo bem, estou aqui.

Ela me soltou, olhando-me outra vez, dessa vez envergonhada. Eu peguei o pano que estava usando para me limpar, voltei a umedecê-lo e passei em seu rosto, a fim de limpar o suor.

—Você está com fome? — Pergunto, tentando desfazer o clima estranho, porque ela não me parecia que iria contar o que tinha acontecido, e eu não insistiria. — Eu trouxe um mapa. Até o fim da tarde passaremos por um rio, e lá terá peixes, então teremos o jantar.

—Há uma cidade há meio dia daqui. — Falou em voz rouca, e eu aproveitei para a entregar água para beber.

—Não passaremos por nenhuma cidade. Não quero que saibam que estamos viajando.

—Então viveremos de maneira selvagem até chegarmos nas montanhas?

—Sabia que isso te animaria. — Falo com ironia, passando o pano em seu pescoço. — Mas temos comida para agora, então podemos aproveitar.

—Tudo bem. Você pode acender o fogo? Acho que preciso trocar de roupa.

—Claro. Fique à vontade.

Vonü ficou quieta o resto do dia enquanto viajávamos, imersa nos próprios pensamentos. Eu guiei o cavalo, não insisti em fazê-la falar. Eventualmente ela me diria, se tivesse que falar. Considerei que ainda fosse estranho para ela falar comigo, depois que a mandei embora ontem. Sabia que ela não iria. Eu só queria que ela descobrisse isso sozinha. No mínimo que a conhecia, sabia que ela era honrada, mas também sabia que não era só por isso. Vonü se importava em me manter viva. Eu tinha atirado no escuro, porque não tinha certeza do que a fazia se ligar a mim. Mas agora ela parecia saber.

—Seul?

—O que?

—Entre os magos... há alguma evolução? — Ela pareceu hesitar, movendo as mãos sobre as minhas para assumir o arreio.

—Que tipo de evolução estamos falando?

—Há algum feitiço ou encantamento que faça vocês possuírem outra forma?

—Alguma forma especifica em mente? Porque você me ensinou a produzir ilusões, então posso ter várias formas.

—Não, nada criado, eu acho. Talvez asas?

—As suas asas? São lindas, mas eu não acho que magos possam tentar inventar algo que crie asas. Sinceramente eu ainda não entendo como você desenvolveu asas.

—Faz parte do processo de evolução. Não vão simplesmente aparecer em suas costas. Você vai precisar desenvolvê-las. Elas vão crescer gradativamente.

—Dói? — Inclino a cabeça para ter um mínimo de visão do seu rosto, e ela se inclina de lado para me olhar de volta, abrindo um sorriso de lado. — Quando começam a crescer, o processo é doloroso?

—Não. Mas incomoda bastante. Você ficará na forma de voulcan até estar completamente desenvolvida.

—Com o pacote completo? Chifres, escamas e asas?

—Sim, Seul, o pacote completo. — Ela riu, ainda que continuasse parecendo meio tensa. — Os chifres demoram mais. Os meus foram mais rápidos, porque começaram os ataques, então não tive descanso.

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora