As derrotas possuem certas vitórias

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—Você é uma idiota, Vonü.

Ela sequer contestou, mas eu não desisti. Se ela achava que podia falar comigo daquela forma ela estava enganada. Eu a segui até o quarto do nosso filho e esperei que o colocasse no berço antes de agarrar sua blusa e a virar para mim, ela segurou meus pulsos com força, mas eu a empurrei contra a parede para impedir que se afastasse.

—Você não tem o direito de me humilhar dessa forma. — Digo com raiva, o que só pareceu irritá-la mais. — Eu sou mãe do seu filho e exijo que me respeite.

—Então se dê ao respeito, Seul. Você deveria se manter no seu lugar.

—Não ouse me chamar dessa forma. Eu cheguei longe demais para você desmerecer isso. — Eu a bati contra a parede por reflexo, e isso foi o suficiente para fazê-la chegar ao limite, e me empurrar para longe de si. Eu tive que tomar cuidado onde pisava, mas encontrei equilíbrio no berço de Enuvië.

—Se quisesse que eu valorizasse seus esforços, você não teria quebrado minha confiança por causa de uma cadela no cio. — Ela ergueu a voz com tanta raiva e rancor que eu paralisei, porque nunca a tinha visto dessa forma. — Você não teria se comportado como uma idiota interesseira para começar. Não teria ficado atrás de um demônio que condenava para conseguir seus poderes. E para que? Você disse que queria honrar sua família, mas mudou seu nome na primeira oportunidade. Você esqueceu de onde veio e agora finge acreditar em Graah por causa daquela cadela.

—É o que você pensa? — Minha voz era pequena em comparação a fúria de Vonü.

—Se você tivesse um mínimo de fé em Graah, você nunca teria consentido que Veegan tivesse tocado em você nos dias mais preciosos de um ritual antigo. — Ela não gritou agora, mas havia um tom pesado e ácido que compensava o volume. — Você pediu perdão a Graah ou ao seu Jesus? Você compensou seus atos fazendo o que? Mudando de nome para tentar confundir a ira dos deuses? Você me enoja, Seul Wittebi.

—Não seja hipócrita. — Meu protesto saiu menor do que eu esperava, porque ainda estava em choque. — Você quis estar comigo. Você casou comigo. Tivemos um filho. E você está enojada por causa de uma noite que passei com Veegan?

—Estou enojada porque você é uma grande aproveitadora, Seul. Você me usou para ter os poderes, você se vendeu para tê-los. Ou você teria casado comigo se eu tivesse recusado te dar os poderes?

—Eu me casei com você porque achei que era o certo a se fazer. Achei que estar com você era meu destino.

—Seu destino ou seu tormento?

—Eu realmente achei que poderia esquecer Veegan como você tentava esquecer Hiver.

—Ao contrário de você eu não queria abrir as pernas para Hiver. Eu nunca voltaria ao lado dela porque eu nunca confiaria nela. Assim como eu nunca confiarei em você para manter sua palavra. — Eu sabia disso, mas ouvi-la dizer doía mais, e eu não sabia como consertar aquilo. Seu olhar amargurado me fez perceber que ela também não sabia se aquilo teria conserto. — Se eu fosse qualquer outro graahkiniano, eu te afastaria do meu filho. O que você ensinaria a ele? O ensinaria a mentir e a quebrar promessas?

—Eu o ensinaria as consequências de não cumprir com o que promete. — Olhei para o berço, para seu rosto confuso e irritado, e ele começou a chorar, mas eu o fiquei olhando, sentindo lágrimas nos meus olhos.

—Você é cristã. Eu nunca devia ter confiado que você saberia o valor de suas palavras. Para todos os graahkinianos, a palavra dada é mais sagrada que a escrita num papel. — Ela andou pelo quarto até a janela, suas costas voltadas para mim.

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora