Os rituais preservam a honra

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Veegan e eu não falamos naquela noite, e dormimos pouco tempo depois de garantir que nossos filhos estavam seguros e adormecidos. Mas não dormimos por muito tempo, meu filho me acordou pouco antes do amanhecer, chorando como se estivesse sufocado, ou talvez eu temesse que estivesse, então eu o peguei sem hesitar, tentando acalmá-lo, ainda que sem sucesso imediato. Seu choro era diferente das crianças que tinha feito o parto. Parecia dolorido e sem fôlego, como se não conseguisse chorar tudo que queria. "Ele ficou enforcado pelo cordão umbilical", Vonü tinha me dito, então isso podia ter afetado seus pulmões.

—Ele está com fome, Seul. — Veegan reclamou de sua cama. — Use seus seios.

—Tão vulgar. — Retruco, movendo a alça da minha camisola para baixo enquanto posicionava meu filho em frente ao meu peito, colocando o bico em seus lábios. — Não seja tímido, é comida. — Eu precisei insistir mais enquanto ele continuava chorando, movendo o bico em seus lábios até que ele deve ter sentido o leite em sua boca, e começou a sugar. Primeiro ele hesitou, chorando frustrado, depois continuou, aumentou o ritmo ao ponto de incomodar, mas não reclamei, tinham me dito que incomodaria e machucaria.

—Garoto faminto. — Ela me provocou ainda deitada, mas mantive os olhos no meu filho.

—Sua filha deve fazer o tipo que não acorda por nada. — Retribuo, acariciando o topo da cabeça dele, onde alguns cabelos claros revelavam que tinham puxado os meus.

—Então eu sou sortuda. — Ela se moveu, parecendo se inclinar na cama para olhar dentro do berço. — Ela está dormindo com um sorriso no rosto.

—Bebês podem sorrir?

—Claro que sim. Eles só não têm dentes para mostrar, o que você deveria agradecer. — Não era difícil entender a implicação daquilo. — Ele já abriu os olhos?

—Não. Talvez amanhã, com sorte.

—Seu filho não vai ter olhos vermelhos, certo?

—Não. Alinü não tinha olhos vermelhos. Então ele não vai ter também. Pelo menos por enquanto.

—Então espero que tenha seus olhos.

—Você gostaria, não é mesmo?

Ela não respondeu de imediato, eu continuei amamentando o garoto, fornecendo todo o carinho e apoio que podia, sabia que era importante, por mais exausta que estivesse.

—É seu filho, você ficaria orgulhosa se ele herdasse seus traços.

—Sim, claro que sim.

O garoto bebeu o leite mais do que eu imaginava, e quando terminou Veegan me ensinou que provavelmente ele vomitaria um pouco, então ela colocou um pano no meu ombro e ajeitou o garoto na vertical.

—Você deve estar com fome. — Observou. — É melhor continuar evitando sair da cama por enquanto. Você perdeu sangue demais, e ainda tem que amamentar.

—Eu posso tentar. Mas ficarei bem. — Asseguro, recebendo sua caricia em meu rosto. — Como você está?

—Não se preocupe comigo. Teremos uma vida conturbada nos próximos anos.

—Oh, quão otimista.

—Você diz isso, mas você não conviveu com Verg tempo o suficiente.

—Você o ama.

—Claro, é meu filho.

—Mesmo que ele tenha tido um filho com a mulher de um líder do povo do mar?

—Sim, mesmo assim. — Ela suspirou, tirando os cabelos do meu rosto e os organizando para trás.

—Então você reconsideraria a punição dele?

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora