Os finais escrevem um novo começo

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Greentur, o filho marientz de Veegan, voltou naquela noite, e veio à minha casa antes de falar com qualquer pessoa, optando por fazer seu relato dos planos dos marientz e do que tinha visto para mim a sós. Eu entendi o motivo quando ouvi tudo o que ele tinha para dizer.

—Então foi por isso que ela aceitou a união. — Digo, bebendo um gole do vinho logo em seguida.

—Foi assim que todos aceitaram a união. — Ele concordou. — Talvez você deva atacar durante a cerimônia, como atacaram no inverno.

Ele podia não demonstrar, mas sabia que a noite que atacamos Tieres ainda assombrava seus sonhos. Greentur se tornou um guerreiro formidável, tinha aberto mão de sua origem, seguia cada passo dos costumes graahkinianos, era mais leal do que esperava que fosse. Era forte e volátil. Leve e rápido. Mantinha o cabelo raspado e a barba feita. Era metódico e cético, estrategista. Eu o nomearia chefe do exército, mas dependia de Veegan escolher qual dos seus filhos merecia sua posição.

—Talvez. Então eu terei atacado primeiro, e será minha palavra que foi quebrada. — Ele moveu a cabeça, coçando o queixo, pensativo. Bebi o resto do vinho, e voltei a preencher minha taça. — Os marientz não levam a palavra tão a sério quanto nós. Se eu agir primeiro quando fui eu a oferecer um acordo, nossa história será manchada.

—Você está bebendo demais. — Ele indicou a taça em minha mão, mas eu revirei os olhos e voltei a beber. — Ali... eu sinto muito por tudo.

—O que? Você não colocou ideias na cabeça da rainha dos marientz. — Sorrio, recostando na poltrona e apoiando as pernas no braço desta. — Você não tem nada com isso.

—Eu digo da sua união com minha tia. Você terá que acabar com isso por causa de uma união falida.

—Oh, eu esqueci que você tem passado esses dias fora. Não deve ter ficado sabendo o que a cidade está sabendo. — Rio, mesmo sem humor, bebendo metade da taça sem pressa.

—O que eu não estou sabendo? — Seu rosto estava confuso. — O que aconteceu?

—Eu rompi com Trínia. — Rio, movendo a cabeça de maneira negativa, buscando me corrigir. — Ela acabou comigo, há mais de quinze anos. Talvez vinte. Talvez toda a união não foi verdadeira, afinal.

—O que? Você não está fazendo nenhum sentido. O que Trínia fez? Por que romperam?

—Você conhece a reputação de sua tia. Eu só fui idiota em achar que isso mudaria pelos nossos deveres.

—Ela traiu você? — Ele parecia indignado, levantando-se da sua poltrona e se aproximando de mim, tirando a taça de vinho de minha mão, mesmo que eu tivesse protestado. — Diz para mim. Minha tia traiu você?

—Sim, com uma bastarda! Mas você não ouviu a melhor parte. — Sorrio, segurando seu braço sem pensar no motivo. — Ela teve um filho com a bastarda, e me fez criá-lo como se fosse meu.

—Um filho? Qual dos seus filhos? — Ele estava preocupado e alarmado, sem duvidar de minhas palavras por um instante.

—Tramiür. Eu amei aquele garoto... e ele não é meu. Não hesitou em aceitar. — Desvio o olhar e alcanço a garrafa de vinho, bebendo para tentar afogar a angústia que sentia. Greentur se afastou, talvez desistindo de me impedir, eu olhei para a janela, para a noite escura e suspirei até me sentir rir outra vez, rindo mesmo que a tristeza fosse penetrante e dolorosa. — Como um filho deixa de ser filho depois de tantos anos? Como você esquece todas as noites mal dormidas, as doenças, as febres? As fraldas então? Os revezamentos das mamadeiras. As palavras, os risos, as brigas... Até as brigas! Principalmente as brigas... — Levanto, mas me arrependo, tropeçando em meus pés até bater a testa na parede ao lado da janela, os ossos sobre minha cabeça protegendo do impacto pior. Xinguei, socando a pedra, sentindo as mãos de Greentur tentarem me amparar.

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora