Cultivar a paz acima da guerra não gera perdedores

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—Sinto muito, minha irmã. — Ela falou no meu ouvido, afastando-se um pouco e segurando meu rosto. — Você não merecia uma desonra assim. Meus sobrinhos não mereciam essa tristeza. Mas você fez o certo em tirá-la daqui. As crianças vão perceber isso quando crescerem.

Ela tinha crescido tanto. Literalmente. Ela tinha mais altura que eu, tinha mais força que eu, e tinha a voz mais firme, mas tinha uma alma gentil e uma compreensão da vida e das escolhas melhor que qualquer pessoa que eu conhecia. Eu a amava como uma irmã de sangue, assim como amava Enuvië e os gêmeos. Mas Athen era diferente. Tínhamos um laço mais estreito, fazia muito mais tempo que tínhamos começado essa relação, numa época em que eu precisava desesperadamente me sentir útil e queria, acima de tudo, ser uma graahkiniana. Athen foi quem me ajudou a ser uma pessoa melhor para inspirá-la a crescer em nossos costumes.

—Obrigada, Athen. — Falo com sinceridade. — Estava difícil encontrar uma escolha certa sem que os garotos sofressem.

—Você foi a mãe deles, você os ensinou o caminho certo em nossos costumes. Não há escolha fácil, e você foi firme como tinha que ser. — Sorrio, encostando nossas testas.

—E você? O que encontrou no mar?

—Venha comigo. Veegan te espera lá embaixo.

Eu não esperava boas notícias, então desci os degraus ao seu lado e encontrei com Veegan em meu sofá, ao lado de minha mãe, enquanto seus gêmeos, Tiramir e Volënír, ocupavam as poltronas do lado. Eu sentei com Athen no sofá em frente, bebendo um copo de água que estava na mesinha de centro. Os gêmeos tinham puxado os traços de minha mãe, eram altos e ruivos, com os símbolos de Graah espalhados pelo corpo com maior predominância que nos demais de nossa família. Tiramir tinha barba rala, os olhos castanhos de Voli, os cabelos longos presos num rabo e com diversas tranças. Volënír tinha os cabelos curtos e raspados nas laterais e atrás, olhos verdes como de Vonü, mas de serpente como os de Voli, o corpo longo e esguio, o busto avantajado dela também.

—Então? O que vocês encontraram? — Falei para ninguém em especifico, mirando a mesinha de centro, onde coloquei o copo.

—Os marientz estão vindo do sul. — Volënír falou logo em seguida. — Centenas deles. E não estão fazendo questão de se esconder. Avistamos alguns grupos pelo caminho, estão montando acampamentos a oeste daqui, perto dos Montes Gelados, a cidade dos magos.

—Há um novo líder entre eles. — Veegan continuou. — Greentur está infiltrado entre eles para descobrir informações do que planejam fazer.

—Então já temos certeza de que eles planejam nos atacar por terra. — Constato, suspirando. — Vamos manter os portões fechados. Mandarei Tendrür alertar os magos.

—Mas eles também estão vindo por mar. — Athen falou ao meu lado, e eu a olhei com preocupação. — A agitação no mar revela os planos deles de tentarem repetir a onda. Estão alterando o movimento do mar, eu pude sentir.

—Você viu barcos? — Olho para Vonü, que moveu a cabeça para confirmar. — Quantos?

—Duas dezenas. Barcos cheios. — Ela me respondeu em tom cansado, como se esperasse por isso. — Metade está nadando, realizando a alteração no mar, mas pararam de se mover. Pelo menos durante o tempo que fiquei observando.

—Querem nos esmagar aqui dentro. — Tiramir alegou, e eu movo a cabeça para concordar, porque tinha pensado a mesma coisa.

—Athen, você acha que consegue controlar o movimento do mar? — Pergunto para ela, que pensa por alguns instantes primeiro.

O Destino de VönuOnde histórias criam vida. Descubra agora