22. Talvez

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No dia 23 de novembro, 36 horas depois do momento em que levei um soco no rosto, meus lençóis pareciam mais gelados do que o de costume.

Inconscientemente, minhas mãos caminharam pela cama esperando que encontrassem alguém deitado sobre ela, assim como havia encontrado nas últimas manhãs. O pronome indefinido soava como piada na minha cabeça, porque não era qualquer um; naquela altura do campeonato, eu sabia que a única pessoa que queria debaixo dos meus lençóis era Choi Youngjae.

Quando não encontrei nada além dos lençóis, suspirei audivelmente em um tom claro de frustração. O teto acima dos meus olhos era opaco, ao passo que alguns feixes de luz escapavam por entre as telhas e estampavam pontos específicos do forro. Enquanto o encarava, percebi que era uma sensação nova. Eu acordei acreditando que o que havia acontecido poderia ter sido um sonho esperançoso, que me dizia que aquela situação era um perigo ao qual estávamos propensos, mas que venceríamos uma hora ou outra, ou um pesadelo desolador, com o mesmo intuito. Seja qual fosse sua natureza, quando o dia começou, ele trouxe o desejo que aquilo fosse uma mera ilusão criada pela minha mente suscetível, com o único objetivo de me lembrar de sempre segurar sua mão com força e cuidado.

Precisei de alguns minutos daquele jeito, imerso em um silêncio desconfortável se comparado às últimas manhãs daquela semana, olhando para um ponto estático no teto e sentindo uma escuridão iminente ladear os cantos da minha visão, para então entender a dimensão do problema em que havia me metido.

Choi Youngjae.

Me sentia tolo ao pensar que ele havia sido arrancado de mim. Eu sabia que mesmo que ele se empenhasse em entregar seu coração em minhas mãos, Youngjae nunca foi meu de verdade. A situação o deixava em um lugar alto demais para que eu conseguisse subir sem prever a queda e, consequentemente, desistir de tentar a sorte — mesmo que eu tivesse ignorado a altura e teimado contra a montanha que o acolhia, agora eu me sentia preso no único fim possível: caindo.

Meus pensamentos se resumiam a ele enquanto eu tomava banho, limpava o machucado no canto do meu lábio e tomava café da manhã naquela penúltima segunda-feira do mês. Estar daquele jeito me fez perceber o quão ligado à Youngjae eu estava. Eu já tinha uma noção daquilo, porque os dias começaram a serem mais divertidos depois que ele apareceu, principalmente no contexto insosso em que eu vivia. Nossa relação era um clichê ambulante, e meus sentimentos não poderiam ser descritos de outra maneira.

Youngjae parecia tanto com um Sol depois da tempestade. Ou um Sol em qualquer momento. O Sol quente do meio dia, com sabor de família. O Sol poente, lançando rajadas de vento atadas ao perfume das flores ao despedir-se. O Sol da manhã, trazendo consigo vitalidade, afeto e a sensação de que aquele dia seria melhor.

Aquela segunda-feira nasceu completamente fria.

Mokpo estava coberta por uma névoa espessa e fúnebre.

Porque Youngjae não havia acordado com a mão na minha cintura, e os dedos entrelaçados aos meus por debaixo dos lençóis.

Revirei o quarto onde costumava deixar a bagunça — tralhas, roupas separadas para doação, livros velhos —, procurando pela caixa de ferramentas que meu tio sempre pediu para que eu deixasse à vista, caso precisasse. Não quis precisar dela tão cedo, mas o apartamento ainda possuía um dono, e ele queria o lugar do jeito que havia me entregado.

Girei o trinco da porta, me acomodando no chão para observar o estrago que Choi Dongsun havia feito no sábado ao entardecer. Quando arrombou a porta do meu apartamento, ele havia sido generoso. Talvez nem tivesse usado um pé de cabra ou qualquer outro artifício, provavelmente um chute de um dos seus homens foi o suficiente para que a porta cedesse. Ri, movimentando-a, enquanto procurava por mais algumas lascas de madeira quebrada — o estrago não havia sido tão feio. Se a qualidade do material fosse melhor, Dongsun teria de ter usado mais força. Ele deveria ter gargalhado, jogando a cabeça para trás do jeito mais performático que conseguia ser, quando a porta abriu-se tão facilmente, conforme perguntava-se como Youngjae deixou-se envolver com um cara como eu, que morava num lugar como aquele — insignificante e miserável.

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