5. Furacão

1.5K 168 184
                                    

Quando eu achei que fosse literalmente desmaiar de sono naquela segunda aula seguida de química avançada, o sinal finamente tocou; alto e estridente como sempre. Eu não costumava dormir nas aulas, mas ultimamente o cansaço tinha tomado conta do meu corpo de uma maneira que ficava impossível não achar a voz do professor calma e devagar demais e me encontrar cochilando quase todos os dias.

Era quinta-feira, o que significava que metade dos empregados tinha o resto do dia de folga depois do almoço, ou seja, eu teria a casa todinha para mim depois de sair da escola. Tudo bem que eu vivia trancado no meu quarto sem realmente ver alguém, mas ainda assim era reconfortante saber que, eventualmente, quando fosse à cozinha pegar alguma besteira para comer, com o cabelo bagunçado e uma calça moletom velha, não teria ninguém me alertado a todo instante do que meus pais deixavam ou não eu comer.

Levantei-me da cadeira preguiçosamente, guardando meus livros dentro da mochila devagar, já que eu nunca sairia inteiro se entrasse na multidão que passava eufórica pela porta. Com um suspiro cansado, joguei a bolsa por cima do ombro e, quando vi que metade dos alunos já tinha saído da sala, caminhei até a saída, ajeitando meus fios acastanhados.

— Ah, Youngjae — levantei o olhar quando o sr. Park disse meu nome. — Preciso falar com você.

Parei de andar, voltando os calcanhares para ele.

O professor Sunghoon tinha lá seus quase trinta anos, era alto e vez ou outra moldava o costumeiro topete em uma franja caída sobre os olhos pequenos e escuros. Eu gostava dele porque ele tratava todo mundo igual, sendo visto pela nossa diretora como uma ameaça ao cargo dela, que, por sua vez, ficava tentando agradar de todos os jeitos os alunos com uma situação financeira estável, então não era difícil me ver sendo arrastado das aulas por ela só para me avisar, em primeira mão, os conteúdos e datas de provas externas que seriam realizadas na Chapae.

E todo mundo sabia que o sr. Park tinha mais condições para liderar uma escola, mas ninguém realmente fazia algo a respeito, apenas comentava pelos corredores e deixavam por isso mesmo.

Balancei a cabeça, afastado esses pensamentos e olhei para o homem na minha frente.

— Sim, senhor?

— Preciso que faça um favor para mim. — Assenti, meio incerto se se seria capaz de atender ao seu pedido.

Acontece que as pessoas daquela escola achavam que eu era uma espécie de cérebro humano que sempre sabia resolver todo tipo de exercício, mesmo quando eu nem mesmo fazia parte dos monitores; tudo isso porque eu tinha dinheiro e vinha de uma escola particular.

Grande coisa.

— Pode falar — sorri, me aproximando do birô enquanto o resto dos alunos saía pela porta.

— Um aluno veio falar comigo hoje porque sentia dificuldades com o nosso conteúdo atual. E, bem, eu fiquei um pouco surpreso, devo confessar, pelo súbito interesse dele, mas não é como se estivesse achando ruim — riu fraco e eu o acompanhei. — Enfim... — arrumou seus livros didáticos em uma pilha sobre o birô. — Não me aprofundei no que ele exatamente tinha dificuldade, porque gostaria que você fizesse isso por mim — declarou, enquanto jogava os livros na bolsa. — Queria ver como se saía, de verdade.

Apoiei o peso do corpo em um pé, ponderando na resposta. Não é como se eu não gostasse de ajudar os outros, principalmente em química, que, embora tivesse assistindo as últimas aulas só por cima, conseguia passar por média tranquilamente, mas é eu montava todo um esquema para eu mesmo conseguir entender, e fazer com que outra pessoa entenda era meio complicado para mim porque eu não conseguia me expressar muito bem, para falar a verdade. Porém, como sempre, eu não conseguia dizer um não para ninguém, quanto mais um professor, então, com um suspiro contigo, respondi:

Bad decisionsOnde histórias criam vida. Descubra agora