20. Íris

815 65 123
                                    

A semana havia passado mais rápido do que o esperado e, por consequência, os meus dias acordando com o braço de Jaebeom entrelaçado a minha cintura e a respiração na minha nuca estavam chegando ao fim. A festa que ele e os meninos estavam organizando tinha sido marcada para o final daquela semana e eu tinha oferecido um lugar para abrigar os amigos que eles convidariam, e era por esse motivo que eu estava parado em frente à minha casa mais cedo do que eu gostaria.

Passei pelos portões automáticos com as mãos suando, mas me concentrei em não dar atenção a elas, pensando que talvez assim elas subitamente parassem de tremer. Eu não sabia exatamente o que temia, já que meus pais não estavam em casa. Talvez eu tenha passado tempo demais longe dali, me desintoxicando da atmosfera que me tirava o fôlego — e agora que eu estava de volta, os efeitos que o lugar causava em mim estavam pelo menos dois terços mais severos.

Mesmo depois de passar pelo jardim, pela sala e enfim pelo corredor, elas continuavam com tremores leves nas juntas, inclusive no momento em que abri o armário do escritório do meu pai e procurei, dentro de um pote cheio de chaves, aquela que abria a porta principal da nossa casa no lago.

Coincidentemente, a data da festa havia batido exatamente com o compromisso dos meus pais em Seul, o que me deixava fora de uma zona perigosa — aquela que eu enchia a casa de bebida e eles descobriam na noite seguinte —, porém, ainda refém de uma possibilidade. Obviamente, tudo parecia arriscado demais, mas eu sentia que não era nada diferente do que eu já vivenciava, sinceramente. Eu estava vivendo sob uma constância de palpitações cujo fim estava predestinado, e às vezes eu sentia que era o único que estava ciente daquilo — ou pelo menos o único que deixava aquilo bem claro dentro da cabeça.

Dei uma última olhada no cômodo e fechei a porta devagar, fazendo o mesmo caminho que fiz quando entrei e descendo as escadas de dois em dois degraus. Na sala de estar, um dos empregados passou por mim e me cumprimentou, no entanto, o outro que apareceu logo em seguida parecia ter mais a me entregar do que um simples acenar respeitoso e um sorriso pequeno.

— Sr. Choi. — Seongbuk curvou-se com o terno perfeitamente passado assim que eu pisei no último degrau, com a chave do carro na mão esquerda. Ele ainda insistia em me chamar daquele jeito, mesmo depois de todas as vezes que eu falei que não era necessário.

Com pressa, acenei com a cabeça de volta, cumprimentando-o, até chegar a porta, que foi cuidadosamente aberta pelo homem. Já era final da tarde e eu ainda tinha que ir buscar as bebidas com Jaebeom para colocar na geladeira da casa, tudo o que eu não precisava naquele momento era ele ou qualquer outra pessoa no meu enlaço.

— O senhor precisa de alguma coisa? — Murmurei negativamente, pisando no cimento do caminho entre o jardim que ao passo que me levava para dentro da casa, me deixava ir até o final da propriedade também. — Quer que eu o leve para a casa do Bambam? Ou vai com o seu carro?

Suas palavras me fizeram interromper o passo que estava prestes a dar. Eu não queria perder mais nenhum segundo; Jaebeom estava me esperando provavelmente, tínhamos combinado um horário. Além disso, passar alguns dias respirando outros ares foi o suficiente para eu me sentir sufocado dentro dos limites da minha própria casa — eu me sentia, no sentido literal, sem ar ali dentro. Todavia, o formigamento nos meus dedos e o que eu vinha guardando por meses debaixo da ponta da minha língua, gritaram mais forte do que qualquer coisa naquele momento.

Me virei para Seongbuk. O canto do meu lábio arqueava levemente em descrença e as minhas unhas estavam enterradas contra as palmas das minhas mãos. O manear sutil da minha cabeça de um lado para o outro demonstrava minha incredulidade.

— Você sabe que eu não vou para a casa do Bambam — atirei minhas palavras, com um tom raivoso que não fui capaz de manejar. Meus lábios tremiam. — Você sabe.

Bad decisionsOnde histórias criam vida. Descubra agora