25. Solstício de inverno

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— Você não acha... suspeito?

Parei o que estava fazendo, voltando a minha atenção para Bambam.

Ele estava deitado na minha cama, com ambas as palmas das mãos repousadas sobre sua barriga; o movimento natural dos seus pulmões elevando seus dedos de maneira sutil com o passar dos segundos. Bambam olhava para o teto há pelo menos dez minutos enquanto nós permanecíamos em silêncio, escutando uma melodia calma que ecoava pelos alto falantes da minha televisão. Guiei meus olhos para o teto do meu quarto ligeiramente antes de voltar a atenção para seu rosto.

O sol começava a se pôr e o quarto ganhava um tom azul escuro por conta da noite iminente. Eu sabia daquilo por causa do horário estampado na tela do meu celular, mas também pela luz adulterada dos postes da rua iluminando apenas um lado do rosto do meu amigo, deixando o outro escondido nas sombras.

Pensei em levantar para acender as luzes, mas ele parecia confortável com a ausência da claridade. Como Bambam tinha uma expressão pensativa, usei do momento em que ele parecia entreter-se com seus próprios pensamentos para dobrar mais algumas roupas. Não havia muitas, a mala sobre meu colchão era relativamente pequena e as mudas acomodavam-se no seu interior sem precisar que eu espremesse umas nas outras. Optei por pegar algumas do meu closet e dividi-las por estação.

— O quê, exatamente? — Indaguei, deslizando o zíper pelo seu comprimento e deixando a mala de lado naquele instante.

Bambam ergueu o tronco para me olhar, apoiando o corpo nos cotovelos.

— A Yangmi te dar informações de graça — disse, com as sobrancelhas próximas.

Raciocinei suas palavras por alguns instantes até me arrastar para o seu lado, puxando um travesseiro para o meio das minhas pernas.

O seu questionamento havia passado pela minha cabeça também, não muito depois do momento em que me encontrei com Yangmi. Logo após o instante que ela virou o carro no quarteirão, minha mente pareceu clarear e então eu temi ter deixado escapar tudo pelos meus dedos. Por isso, voltei para o meu quarto e disquei seu número. Ela atendera no terceiro toque.

— Não é a troco de nada — pontuei. — Uma hora ou outra nossos caminhos vão se esbarrar de novo e ela vai me pedir um favor, pode acreditar.

— Ainda não me convenceu — disse, puxando um travesseiro para seu colo também.

Ri fraco.

— Eu também não estou convencido, mas tenho algumas suposições — Bambam permaneceu quieto me encarando, então eu continuei. — Eu acho que ela só me ajudou porque sabe que, na realidade, eu não vou ter coragem de jogar essa merda no ventilador, sabe? Quando eu mostrar os documentos para o meu pai, ele também vai saber que não, porque isso só significaria mais pessoas olhando para mim, e eles sabem que não é o que eu quero. Mas se isso, por algum acaso acontecer, os Patel não vão receber o impacto meio a meio com o meu pai, o que pode acontecer é alguns respingos apenas...

— Se eles não abafarem o caso — Bambam pontuou, com um sorriso divertido no rosto.

— Se eles não abafarem o caso — concordei, me ajeitando na cama para deitar minhas costas no colchão, imitando sua posição inicial e permitindo que o teto branco me deixasse explanar os pensamentos que esbofetavam as paredes da minha cabeça. — Esses documentos são só um extra para o caso do meu pai vir atrás de mim.

— Então você acha que ele não vai tentar te impedir? — Bambam arqueou uma sobrancelha enquanto deitava-se da mesma forma que eu, com as mesmas mãos sobre a barriga.

— Genuinamente falando, acredito que Dongsun esteja tão cansado de lutar quanto eu. Depois daquela confusão que ele fez, me advertindo sobre Jaebeom... Eu me dediquei para o vestibular e evitei qualquer contato com ele, mas nada mudou — disse com um tom despreocupado, dando de ombros logo depois. — Nossa relação nunca vai mudar e ele sabe disso, ele não é burro — olhei para Bambam, enxergando o seu concordar em um acenar de cabeça. — Quando eu disse que a empresa não teria meu cem por cento, eu falei sério — Enquanto falava, permaneci com a bochecha contra o colchão macio. — Se eu decidisse, nesse momento, desistir de ir embora e ficar aqui, seguindo todos os passos do meu pai, tudo o que ele sempre quis, eu não tenho dúvidas de que conseguiria conduzir a empresa com maestria. O ponto é que esses resultados podem ser ótimos, mas meu pai sabe que eles poderiam ser melhores.

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