Naquele domingo, Mokpo não havia amanhecido debaixo de uma garoa como comumente.
Diferente dos outros dias, os raios de sol entrando pela fresta da minha janela foram o que me fizeram despertar do sono invés do barulho irritante e característico do meu celular. Eu havia acordado mais cedo naquele dia, aproveitando a ausência de nuvens para deitar na sacada do quarto com meus fones de ouvido tocando repetidamente as músicas do meu álbum favorito, antes de fazer qualquer coisa.
Passei alguns minutos ali, mas eu estava decidido a pôr todas as matérias atrasadas em dia, aproveitando assim a calmaria e o silêncio do domingo para fazer algo de produtivo. Por isso, assim que terminei de vestir uma roupa confortável — depois de ter tomado banho, tomado café sozinho na cozinha e escovado os dentes —, me sentei na minha escrivaninha com o livro de Literatura aberto.
No meu primeiro dia de aula na Chapae, eu tinha chegado em casa trazendo ele e mais alguns outros dentro da mochila. Minha mãe olhou torto para as folhas rasgadas e meu pai, no intervalo entre uma reunião e outra, folheou-os rapidamente, lançando um olhar igualmente desgostoso para minha mãe — o contraste era claro e, literalmente, palpável entre o ensino público e o particular naquela cidade, e meus pais sabiam daquilo, mas eu ainda sabia fazer birra naquela época e tinha uma boa justificativa.
Se fosse hoje, eu sequer argumentaria depois do primeiro não.
Eu havia crescido e era como se não valesse mais a pena discutir com eles. Sentia que isso não me levaria a lugar nenhum. E mesmo que eu tentasse não pensar tanto sobre — era uma tentativa ridiculamente falha —, constantemente eu me pegava pensando se na hora que eu tivesse que tomar uma decisão que fosse mudar minha vida, eu teria a opção de sequer escolher, ou se eu estaria a mercê dos caprichos dos meus pais.
Faltava menos de um mês para o vestibular.
Quando eu tivesse a prova em minhas mãos, qual nome eu escreveria na linha pontilhada?
Não. Melhor. Eu ainda tinha a opção de escolher qual nome escrever?
De um lado, eu tinha a opção de evitar mais um conflito com meus pais. Mas o que seria mais um no meio de tantos? A nossa família já era despedaçada o suficiente, mais um pedaço sendo arrancado não iria fazer diferença, certo?
Mas por outro... com o que eu argumentaria? Não gosto, pai. Não quero.
Não é o que eu amo.
Mas o que eu amo?
No jantar, na semana anterior, eu havia dito que cursar alguma área artística passava pela minha cabeça, mas, ainda assim, eram tantas... E eu estava tão confuso e tão perdido.
Desistindo de literatura, alcancei meu celular na cama, não tardando a achar o contato de Jaebum. Ele respondeu com um "chego aí em vinte minutos" depois que eu perguntei se ele viria aqui hoje.
Sentado no chão do meu quarto, meus pensamentos voaram para Jaebum, mas precisamente para o porquê dele conseguir me tirar totalmente da órbita em que eu estava inserido. Quando eu estava com ele, não existia fofocas, dinheiro e nada mais importante do que o momento que nós dois compartilhavamos. Era como se eu fosse outra pessoa, ele fosse outra pessoa e nós estivéssemos em uma outra realidade.
Por fim, acabei me questionando também em qual momento daquela história eu acordaria para a vida real. Em qual momento eu acordaria daquele sonho. Meu coração estava dividido em tantas partes. Uma se preocupava em colocar o pé no chão e aceitar as diferenças gritantes entre os nossos mundos. Outra repetia para mim que nada daquilo importava na verdade, nada daquilo era maior — nem sequer chegava perto — do que jeito como meu coração batia mais rápido quando eu e ele estávamos juntos, mesmo que fazendo nada.
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Bad decisions
FanfictionEle tinha tudo o que minha família repudiava: tatuagens espalhadas pelo corpo bem feito, mais piercings do que podia contar, o cheiro característico de cigarro com o aroma de menta da pasta de dente na boca, notas vermelhas no boletim escolar, nenhu...