12. Petulância

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Jaebum foi me deixar em casa quando a chuva cessou e as nuvens carregadas deram lugar a um céu estrelado, lá pelas sete e meia da noite.

Depois que os garotos chegaram no apartamento, vasculhei a cozinha bagunçada do Im e eu e Jinyoung conseguimos arranjar alguns ingredientes improvisados para preparar um chocolate quente mais gostoso do que o esperado. A princípio, foi inevitável não se sentir constrangido porque o Mark não conseguia disfarçar os sorrisos maliciosos direcionados ao Jaebum, mas conforme a tarde de arrastava com o mundo caindo do lado de fora e nós quatro conversávamos aquecidos dentro do apartamento, o clima tenso do inicio pareceu se dissipar com a fumaça cálida que saía das xicaras de chocolate quente.

Mark e Jinyoung eram engraçados e, no geral, eu me senti mais a vontade do que imaginei. Eram o completo oposto de Jaebum — pelo menos do Jaebum que me encarava constantemente com segundas intenções —, mas consegui capturar alguns sorrisos verdadeiros quando o Jinyoung começou a me contar sobre o que costumavam aprontar no nono ano da Chapae, quando eles ainda estudavam juntos e as pessoas achavam que eles eram apenas crianças imperativas e não parte de alguma seita de assassinos de aluguel.

— Era engraçado, mas agora é bem mais, pode crer — ele dissera em meio a uma gargalhada.

Quando cheguei em casa, não sabia se meus pais estavam trabalhando, mas conseguia ver a luz do escritório da minha mãe acesa ao final do corredor, o que significava que, como a casa estava no mais perfeito silêncio e também não tinha encontrado com nenhum empregado aquele horário, ela estaria resolvendo os últimos assuntos pendentes quanto ao lançamento de mais um dos seus livros, que estava programado para daqui a uma semana. E meu pai provavelmente ainda estaria na empresa. Tudo na mais perfeita normalidade. Nada de novo, eu poderia ter voltado apenas amanhã de manhã e tinha certeza que eles nem notariam minha falta.

Não tinha arrumado os lençóis quando saí pela manhã, mas como ao final de todos os dias, a colcha estava em uma impecável harmonia com os travesseiros recém trocados, assim como a cadeira giratória da minha escrivaninha que não possuía mais nenhuma roupa jogada em cima dela.

Suspirei, jogando a mochila em algum canto do quarto. O silencio na casa era ensurdecedor, como todos os outros dias, então antes de qualquer coisa liguei a televisão e coloquei em alguma playlist automática do YouTube para que eu não me sentisse tão sozinho. Antes que pudesse rumar para o banheiro para tomar banho e dormir, me lembrei que as roupas que eu usava eram de Jaebum e congelei sem perceber bem na frente do espelho. Passando meus olhos pelas peças confortáveis, eu conseguia enxergar que, de fato, elas tinham caído bem. E não era em um sentido estético, porque elas não eram caras, tampouco de marca, mas pareciam me acolher melhor do que qualquer sobretudo que eu já tinha usado para pousar para alguma marca famosa na vida, em troca da credibilidade com meu pai e a empresa que levava nosso nome.

E, claro, o cheiro forte do perfume de Jaebum impregnado no algodão me deixava hesitante quanto a ter que tirá-las. Depois de dar um sorrisinho torto e levar o cós do moletom até o nariz, inspirando o aroma refrescante e hipnótico, me obriguei a tirá-las e dobrá-las em um canto do quarto para lavá-las depois.

Quando acabei de tomar um banho quentinho, me enrolei com os lençóis e acabei pegando no sono sem que percebesse; a televisão grudada á parede e meu notebook no móvel embaixo dela me impediam de esquecer minhas origens, mas o cheiro de Jaebum continuava em algum lugar do meu corpo e me fazia questionar se eu, de fato, precisava honrá-las sem me questionar o motivo delas serem minhas.

; making my own choices, you know that's my decision ;

Foi complicado e inquietante passar a aula inteira de Sociologia com o Bambam na mesma sala sem trocar uma única palavra e, como um bônus, alguns alunos observadores demais lançavam olhares questionadores para nós dois. Não sabia se ele tinha percebido, mas eu retribua-os com uma expressão fechada que fazia com que eles voltassem a atenção para os seus próprios problemas e deixassem os nossos em paz. Coisa que funcionava durante alguns minutos, até que outros alunos faziam o mesmo na outra extremidade da sala, e em certo ponto eu simplesmente cansei e baixei minha cabeça, descansando-a sobre meus braços enquanto a professora falava algo sobre estratificação de classes sociais.

Bad decisionsOnde histórias criam vida. Descubra agora