Blackie

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Era uma eterna escuridão ao redor do mago até relógios aparecerem à sua volta. Ele encarava tudo com indiferença, mesmo que fosse a sua primeira vez ali. Os ponteiros giravam ao contrário numa rapidez inimaginável, parando somente quando o vidro que os protege quebrou, voando na direção de seu rosto. A reação dele foi cobrir os olhos com os braços para impedir que os cacos chegassem em sua face.

Então, como se entrasse em outra dimensão, uma brisa agradável passou por seu corpo. O cheiro da grama verde e som dos pássaros um pouco longe de si o deixou confuso por um tempo.

Quando ele abriu os olhos novamente, estava deitado no gramado com apenas árvores ao redor e o céu quase coberto pelas copas de folhas verdes. Sua visão então ficou turva suavemente ao se lembrar da época em que acordara, mas nem teve tempo para sua mente nublada de memórias nostálgicas quando passos apressados e choramingos de um animal foram ouvidos tão perto dele.

E foi então que, o tombar de um corpinho miúdo ao lado de sua cabeça deitada na grama, foi o suficiente para fazê-lo encarar aqueles olhos redondos e infantis.

"Peguei você!" Ele escutou aquela vozinha, assim que um puxão forte em seu cabelo foi o bastante para fazê-lo abrir os olhos novamente. Sua mão esquerda propositalmente agarrava uma fera preta assustada, que tentava fugir para dentro da floresta acuada.

Oh, sim... Isso já aconteceu... - Ele pensou enquanto sentava para encarar a criança loira, que agora segurava suas mechas longas e negras entre as mãozinhas miúdas.

"Puxar o cabelo de um desconhecido é falta de educação. Solte já." Ele disse fingindo indiferença ao encarar o rostinho confuso e curioso da criança loira à sua frente.

"Quem... Quem é você?" Ela enfim perguntou, assustada. "Muitas pessoas não são permitidas aqui. Então por que você...?"

"Eu peguei isso." Ele mostrou o filhote sagrado em suas mãos, acuado e choroso.

"Blackie!" A menina observou o bichinho, surpresa. Era o mesmo animal que ela havia visto segundos atrás, e por isso o perseguiu até chegar no rapaz. As bochechas dela levemente tomaram rubor assim como seus olhos cintilavam lindamente. Os lábios foram abrindo lentamente para formar um sorriso infantil, que logo deu lugar às suas palavras curiosas: "O auau... é seu?"

O rapaz foi capaz de sentir um leve desapontamento no tom da voz dela, como se soubesse que a garota quisesse o bichinho para si. Ele logo teve de segurar a risada, pois não queria deixá-la desconfortável perto de si, por mais que fosse costume seu fazer isso.

"Você nunca viu um desse antes?" Ele fingiu estar confuso, até ouvir passos perto do local em que estavam.

Sem demonstrar à garota, ele aguçou seus próprios sentidos, que buscaram minuciosamente todos seres próximos ao seu redor. Quando sua magia identificou os humanos, ele percebeu que todos estavam à procura dela.

"Princesa? Onde você está?" A voz de um dos cuidadores da princesa acabou por ecoar próxima, dando a garota a possibilidade de escutar.

A princesa logo se prontificou a chamar o guarda que estava à sua procura, mas o mago não queria ser incomodado naquele momento. Por isso estalou os dedos para que eles não pudessem ser vistos e encontrados no momento.

"Felix!" A garota exclamou quando o guarda passou por ela, continuando sua busca como se ela não estivesse ali. E, então, outro estalar de dedos. Agora o ruivo dizia coisas desconexas como aprender a língua de Arlanta para poder falar com a pequena novamente.

Sem entender o que estava acontecendo, ela estreitou as sobrancelhas e olhou para o moreno ao seu lado. Ela havia escutado os estalos dos dedos dele naquela hora e, num passe de mágica, ninguém mais os escutava e os viam ali naquele gramado. Algumas das vezes, por mais jovem que fosse, ela havia escutado de seus professores sobre os magos.

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