Fantasia

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Nos primeiros dias, desde a chegada do Príncipe de Arlanta, Athanasia e Claude não estavam tendo seu costumeiro chá da tarde. O Imperador meio que se privou desse momento tão íntimo com sua filha, no intuito de que ela passasse mais tempo com o Príncipe hospedado, mas mal sabia que este nem mesmo estava pelo Castelo.

Athanasia, no entanto, não se preocupou muito no início. Só que ela sentia como se isso fosse deixando que sua boa relação com seu pai fosse se esfriando, pois era como se ele estivesse evitando sua presença. Então ela correu atrás disso. Correu atrás para tentar entender o que acontecia, e também para tentar conversar com ele após aquela audiência.

E lá estava ela, observando Claude bebericando seu chá de Lippe de forma preguiçosa. Devia admitir que sentiu saudades de um tempo assim com ele, até porque desde o debute ela quase não o via. E depois daquela audiência com o Príncipe Cabel, não podia negar estar chateada com aquela decisão que ele tomou sem nem avisá-la.

"Está suspirando demais. Há algo que a incomoda?" Claude indagou de forma desinteressada, mas seus olhos analíticos encaravam o rosto da Princesa, tentando descobrir por si só o motivo de todo aquele suspirar. "Se alguém lhe irrita, apenas me diga. Irei matá-los para que não repitam."

"Claro que eles não iriam repetir, papai. Estariam mortos."

"Você diz 'eles'? Há mais de um então? Diga-me seus nomes."

"Papai, não há ninguém! Foi apenas um exemplo!" A garota pousou a xícara que segurava sobre a mesa, bufando.

Seu pai muitas vezes agia como se não soubesse do que se passava com ela, quando na verdade, o Imperador tinha olhos por toda a parte. Entretanto, ele realmente não parecia saber o que acontecia naquele momento.

"Você é um idiota, papai." Athanasia admitiu com um bico emburrado, cruzando os braços em manha.

"Qual é o motivo para admitir isso?" Ele indagou curioso. Suas mãos foram para o bule de chá ao centro da mesinha, colocando um pouco mais do líquido quente em sua porcelana. "Acredito que não seja por nada."

"Apenas... Ainda estou surpresa com o anúncio do noivado. Foi muito repentino, mas respeito sua decisão, papai."

Respeita... Minha decisão? Isso era algo que você deveria escolher, minha filha. Mas eu estou aqui, agindo como meu pai. – Claude mordeu os próprios lábios ao pensar nisso. 

O imperador não tinha a coragem de dizer a própria filha as palavras mágicas para que a garota respondesse com um 'não'. Ao menos assim ele teria a certeza de estar pronto para uma ameaça vinda do Imperador Arlantino. Mas ele não conseguia dizer. Aquelas palavras pareciam dolorosas o suficiente para não saírem de sua garganta.

Claude apenas se limitou a beber um pouco mais de seu chá.

"Entendo. Fico feliz que esteja de acordo com essa situação."

"Eu sou uma Princesa, afinal. A futura sucessora do trono, papai. Isso é o mínimo que posso fazer." – Mesmo que... eu ame outro. – Athanasia pensou, desviando o olhar da mesinha para o chão. As lágrimas aos poucos preenchiam seus olhos, nublando sua visão. Aquele com certeza seria o pior momento para querer chorar, ainda mais estando à frente de seu pai.

"É bom escutar essas palavras vindas de você." Claude falou, mas quando Athanasia o olhou depois de afastar todas as lágrimas, percebeu o desgosto instalado naquela face bem cuidada de seu pai.

Claude, assim como Athanasia, no fundo não estava nem um pouco à favor daquele contrato idiota. Mas... o que o impedia de cancelar aquilo? O que o impedia de deixar a própria filha ser feliz?

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