Fallout

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"Glorian?"

O coração de Kai palpitou como nunca antes, trazendo junto a dor inexplicável. Todo seu rosto e ombros esquentaram de um jeito que poderia considerar estar com febre, e ele com certeza colocaria a culpa no tempo frio.

A verdade é que, ele não entendia que não era isso.

Ele se virou e apertou as mãos do Rei das fadas, cuidadosamente, arregalando os olhos em surpresa ao se perder naqueles infinitos vitrais brilhantes das orbes que lhe encaravam de volta.

"Glorian..." Kai repetiu num murmúrio confuso. "...Quem é Glorian?" E então indagou, receoso em até mesmo repetir aquilo. Isso era porque, no fundo de seu âmago, ele sentia a familiaridade naquele nome.

Mas, infelizmente, Kai não foi capaz de receber sua resposta, pois logo em seguida o corpo de Oberon se inclinou, até que o rosto dele encostasse em seu peitoral. O azulado bufava, e sua expressão — no que o moreno era capaz de observar pela proximidade — estava contorcida em dor. Provavelmente estava frágil demais depois da queda que haviam sofrido, só que nem ele que absorveu o impacto estava daquela forma.

"Diga-me. Onde é sua casa?" Kai acolheu Oberon em seus braços, tentando acalentar o máximo possível daquele corpo pequeno e desprovido de roupas normais. "Você consegue falar? Responda-me, por favor. Eu irei levá-lo para casa."

Oberon quase chorou ao ponto de soluçar só de ouvir aquilo, ainda desacreditado que aquele era mesmo Glorian. A fisionomia dele estava um pouco diferente da última vez que o havia visto, mas tinha certeza de que era o homem que amava. Aquela essência, mesmo que corrompida, ainda era a mesma do desaparecido Príncipe Herdeiro de Huale, aquele que lhe fazia companhia há anos atrás.

Mesmo em meio a tanta dor, Oberon não poderia impedir que um suspiro aliviado e de felicidade escapasse de seus lábios, em meio aos vários bufares de dor.

"Ei! Responda-me. Precisamos sair daqui, e você está numa situação horrível..." Kai murmurou agoniado e preocupado. Também havia aquela ansiedade de sumir logo daquele lugar, pois o medo de reencontrar a Princesa de Sycansia novamente era tenebroso.

Se eu ao menos conseguir um lugar para ficar até que ela me esqueça... — Kai pensou, esperançoso, apertando o corpo alheio em seus braços. — Por favor...

"L-lá..." Oberon apontou para o horizonte, o braço trêmulo quase incapaz de manter-se estendido no ar.

"Eu irei levá-lo para casa, okay? Você logo estará bem. Apenas continue me indicando onde é." Kai sorriu gentilmente para Oberon. "Você tem forças para se segurar no meu corpo? Acho que não consigo levá-lo e voar ao mesmo tempo... Preciso dos meus braços."

Oberon abriu os olhos e encarou Kai por alguns segundos, confuso sobre o que acabou de ouvir. Um segundo após, ele entendeu, realizando o que aquilo iria significar para si. Mas sequer teve tempo para dizer sim ou não, já que no momento seguinte seu rosto enrubesceu e a vergonha o atingiu como uma flecha, quando cuidadosamente foi colocado de pé. Era perceptível a preocupação e zelo daquele moreno consigo, e isso era demasiadamente fofo e, diga-se de passagem: vergonhoso.

Lutando contra a vergonha e engolfando-se de coragem, o Rei passou os braços ao redor do pescoço de Kai e o abraçou com força, antes de dar um impulso fraco e passar as pernas ao redor da cintura definida. Fazer aquilo acabava com o orgulho de Oberon, mas ele não podia negar que, no fundo, gostava até demais daquilo.

É para voltarmos para casa... deixe de ser bobo, coração emocionado. — Oberon pensou em meio aos seus surtos internos.

Kai, no entanto, estava surpreso, pois não era daquela forma que planejava levá-lo. Entretanto, preferiu deixar desse jeito, pois sabia que o que importava agora era levar o rapaz para casa, e não constrangê-lo mais do que já parecia estar. Também não podia ignorar como havia ficado satisfeito com aquilo, ao ponto de seu coração não ser capaz de diminuir as batidas aceleradas, mesmo quando desejasse se acalmar.

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