Genesis

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Podia ser considerada uma noite estrelada, se não fosse pela fumaça dos destroços que poluíam aquele ar.

No centro daquele lugar despedaçado e repleto de chamas, uma figura encapuzada num manto branco estava olhando para frente, quieto e misterioso. Mas então, aos poucos virava-se em sua direção, os cabelos longos e iluminados pela luz natural da lua sangrenta, taparam-lhe os olhos. Porém, ele parecia o único a conseguir ver aquele que sonhava.

"Mestre..." O rapaz murmurou, antes que pudesse ser visto filetes de lágrimas umedecendo seu rosto e caindo pelo solo, iluminando toda aquela cinzeira desgastante presa aos destroços. Independente do chão que cintilava, ele não parecia se importar. Pelo contrário, parecia bastante acostumado com aquele fenômeno estranho.

Lucas sentiu seu peito arder em um sentimento estranho, tentando mover seu próprio corpo para alcançar aquela figura misteriosa, mas não era capaz de dar nem mesmo um passo.

"Por favor... Não vá. Não me abandone. Não os leve também."

Levar... Quem? Por que eu iria? O que está acontecendo?! - Lucas sabia que aquilo era um sonho, mas ainda sentia o desespero desenvolver como uma chama atiçada por todo seu corpo enquanto aquele rapaz começava a dissolver-se em poeira branca, sendo levado pelo ar conforme o gritava: "Não! Por favor!"

"Me desculpe, mestre... Eu não sou capaz de... Continuar."

E quando se deu conta, Lucas estava sentado na cama do quarto em Arlanta, suando frio enquanto aquelas últimas palavras do encapuzado ainda ecoavam em sua mente.

Tudo que ele era capaz de se lembrar era de Yuri, mas ao mesmo sabia que não era ele lá.

Ao mesmo tempo...
Athanasia sentou-se na cama, desesperada, pouco se preocupando com o Príncipe que dormia ao seu lado. Suas mãos estavam estendidas para o teto como se tentasse agarrar alguém que não estava ali agora. Seu corpo estava inteiramente suado, parecendo ter sido jogado em uma banheira cheia d'água gelada. Sua respiração estava falha, mas isso era óbvio depois de acordar de um pesadelo.

Cabel acabou acordando com aquela movimentação incomum na cama, abrindo os olhos lentamente, assustando-se ao ver a silhueta escurecida de Athanasia sentada ao seu lado, estendendo um braço como se tentasse pegar algo invisível. A barriga dele gelou instantaneamente em um susto reprimido, limitando-se a arregalar os olhos e arfar apavorado, sentando-se assim como ela.

"A-Athy..." Cabel murmurou assustado. Só então percebeu o rosto molhado de lágrimas da Princesa, desesperando-se ainda mais. "A-Ai pelos Deuses. o que eu faço? O que eu faço... Athy, você está bem? Por que está chorando?"

O Príncipe aguardou por uma resposta, mas ela nunca veio. Pelo contrário, Athanasia simplesmente começou a murmurar frases desconexas, das quais Cabel não saberia identificar e conectá-las.

Apenas uma.

"P-por favor... N-não vá."

"Não vá? Quem? Athy, o que está acontecendo?" Ela simplesmente não respondia. Seus olhos nem mesmo piscavam, ela olhava incessantemente para a beirada na cama enquanto de seus olhos ainda derramavam lágrimas. "Ela está dormindo...? Mas, como?"

A respiração de Athanasia estava desregulada, então o que Cabel resolveu fazer foi agarrar uma das mãos dela, como sempre fazia, e ativar seu poder. A luz ciana envolveu aquele enlaçar firme, acalmando a Princesa aos poucos, da mesma forma que ela fechava os olhos e voltava a recuperar a firmeza em sua respiração. O corpo dela amoleceu e caiu para trás, batendo a cabeça sobre o travesseiro fofinho sobre a cama.

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