Vida Longa ao Imperador

74 7 28
                                    

A noite sempre se tornava a melhor parte nesses últimos tempos. O frio noturno sequer deixava-lhe com os pelos arrepiados, de tão acostumado que já estava, deitado no telhado imenso do Castelo Arlantino.

As estrelas lhe faziam companhia, junto da espada que afiava todos os dias, apenas para sorrir satisfeito com o plano que bolava em sua mente, antes de retornar para os seus aposentos.

Athanasia estava desaparecida há três meses, e ele sabia que Obelia estava em puro caos atrás dela. Com certeza, se não fosse pela situação em que o reino Arlantino se encontrava graças a insanidade do atual Imperador, o reino dourado do outro lado da divisa não existiria mais.

Mas hoje...

Hoje era o dia que tudo mudaria. A história se lembraria deste dia.

O rapaz sobre o telhado se sentou e agarrou o punhal da longa espada, olhando para a lâmina com um grande sorriso vitorioso nos lábios, este que ele mesmo podia ver perfeitamente no reflexo do metal.

"Batam palmas para o belo dia. Pensem em mim como seu novo Imperador, ou seu novo... salvador.~" Ele cantarolou, aos poucos que a sua aparência migrava para a do príncipe herdeiro, em plena luz natural da lua. Os cabelos ruivos se remexiam soltos como uma nuvem carmesim graças ao vento, e isso apenas deixava ainda mais única a noite perfeita de hoje.

Dice não perdeu tempo ao se teleportar para dentro do castelo, onde Calvin estaria descansando agora... Ou mais especificamente, a sala do trono.

De longe ele sentia o mau odor que a sala tinha, pois o insano homem não saía de lá por nada, mas não era coisa para se preocupar agora. Bastava um simples estalar de dedos para limpar aquele lugar nojento para que pudesse se sentar.

Dice então olhou para os lados, enojado com o visual que o local se encontrava, até então prender seus olhos em seu pai no centro da sala.

As mãos de Calvin pareciam haver calos de tanto que segurava incessantemente a sua lança imperial; os cabelos albinos jogados para trás de tanto suor, e a aparência suja de alguém que não abandonava seu posto para sequer tomar um mísero banho. Tal cena repudiava o Príncipe Herdeiro, mas tudo o que ele fez foi sorrir cínico e se aproximar, com a espada em mãos.

"Não o vejo há um bom tempo, pai." Dice iniciou, dando voltas lentas ao redor da cadeira do trono, analisando os pontos fracos que Calvin deixava facilmente exposto, para uma morte miserável de inútil.

Calvin não respondeu, e isso era óbvio. O Imperador parecia até mesmo privar-se de conversar com alguém se não fosse um assunto importante, e o motivo de Dice estar lá, em sua cabeça, provavelmente era por isso. De tão exausto que estava e tentava não esboçar, nem alguma conversa ele poderia criar.

"Vejo que você está cansado, pai. Eu vim aqui para deixá-lo descansar um pouco." Dice tocou em um dos ombros de Calvin, apertando levemente.

"Eu estou bem. Vá embora." Calvin resmungou gentil, deixando Dice ainda mais entretido naquele teatro.

Mesmo agora, depois do despoder do Imperador Arlantino, ele continuava sendo gentil com seu único sangue puro, real. O único que poderia assumir o trono, após sua morte.

"Eu irei cuidar de tudo agora." Dice sussurrou com um sorriso vitorioso, abrindo a mão livre de Calvin para que ele pudesse segurar a espada.

O Imperador resmungou confuso por alguns segundos após perceber o que seu primogênito fazia.

Mas foi nesse instante macabro que a sala dourada do trono desapareceu e tudo se tornou negro; aos poucos gotas de sangue saíam das paredes, escuras como a noite — assim como havia ocorrido no aniversário de Cabel. Calvin arregalou os olhos e procurou ajuda ao redor, encontrando só o trono que estava sentado e, agora um pouco ao longe, o rosto sorridente de Dice.

Find YouOnde histórias criam vida. Descubra agora