Sentimentos Conflitantes

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Ao perceber como o corpo de Athanasia amolecia em meio ao ósculo, Lucas apenas podia sentir o desespero arrebatando seu íntimo. Nem mesmo o círculo mágico que ele havia conjurado conseguiu manter-se diante de ambas as cabeças, fazendo com que o aguaceiro os chicoteasse.

O mago tinha um medo de ter feito algo errado. Isso o consumiu naquele instante, quando percebeu que a garota estava desmaiando de tão forte havia sido a sintonia de ambas as manas. Afinal, ela não conseguia controlar nem mesmo a própria, quanto mais a dele.

"Princesa, acorde!" Lucas praticamente implorou, desesperado quando uma súbita memória daquele corpo amolecido em seus braços o deixou atônito diante de seu passado. Quando lembrou-se da época em que presenciou aquela Princesa morta, ele não tinha por ela sentimentos cultivados como tinha por essa Athanasia. Então a sensação do horror só de pensar em perdê-la uma vez mais, sendo dessa vez por sua culpa, o assolou. Era como estar sendo esfaqueado sem poder se defender.

Ele queria fazer algo, mas sabia que se tentasse usar sua mana ali para ajudá-la em algo, só acabaria fazendo o corpo dela superaquecer ainda mais. O que a Princesa precisava no momento era deixar que a mana do mago, que indescritivelmente uniu-se com a dela naquele beijo, fosse expelida de seu corpo gradativamente. E para isso não poderia ter pressa. Apenas paciência...

Lucas sentiu-se um inútil por dar-se conta disso, e continuava a balbuciar incoerências como "acorde, por favor" para tentar de alguma forma amenizar a situação que antes havia acontecido, encolhendo-se com ela em seus braços devido à súbita dor dentro do peito, e o choro que tentava reprimir voltando a embaçar a visão. Mesmo sem aqueles olhos azuis lhe encarando, soube que a expressão no rosto dela era calma e extasiada – não como da última vez em que a viu entrar em colapso pela explosão de mana. Entretanto, não havia nada que pudesse dizer ou fazer para mudar o fato de que ele mesmo estava em conflito, tentando não ceder à vontade monstruosa de sair correndo dali e se punir pelo o que havia feito, eliminando finalmente todas aquelas angústias dolorosas.

O mago enfim soltou um suspiro triste, teletransportando-se dali com ela nos braços até que a repousasse sobre a cama. Num estalar de dedos ele fez com que o corpo dela estivesse seco e aquecido, assim como seu belo vestido. Mas antes de afastar-se ele deitou levemente seu tronco sobre o dela, abraçando-a com certa força.

Agora ele podia sentir o batimento acelerado de seu coração voltar a repercutir contra o pequeno tronco da garota, enquanto uma lágrima rolava por seu rosto e escorria até alcançar o pescoço dela – onde escondia sua face. Não era daquele jeito que Lucas queria que as coisas fossem. Não era daquele jeito que ele queria se sentir depois de tanto tempo.

Em conflito com seus próprios sentimentos, ele respirou fundo e afastou o rosto para observar a bela face angelical da Princesa. Seus olhos escarlate pareciam vibrar, cheios de lágrimas que o faziam parecer uma represa rubra prestes a se romper.

"Você ousa ser atrevido ao ponto de estar tão perto da minha filha?"

Ao escutar essa voz, o mago estagnou como se fosse uma estátua de pedra assustada. Ele estava tão perdido com o fato da Princesa ter desmaiado durante o primeiro beijo que finalmente trocaram, que nem mesmo rastreou qualquer essência de mana que pudesse estar no quarto dela antes de se teletransportar.

Droga...
Lucas cometia mais um erro naquela noite...

Claude estava sentado na cadeira ao canto da sala, silencioso e observador, mas seus olhos pareciam queimar sobre as costas do mago como fogo.

Quando o viu trazendo sua filha desacordada nos braços, a reação do loiro apenas foi estatelar os olhos sem conseguir fazer palavras saírem de sua boca.

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