The Downfall

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Athanasia espirrou pela segunda vez. O pensamento de que alguém poderia estar falando dela veio à sua mente, assim como a saudade de Lilian. Sua Ama sempre brincava lhe dizendo que quando espirramos sem motivo algum era porque certamente alguém falava de nós.

Lembrar-se de Lilian e de suas histórias a fez sorrir, nostálgica.

Haviam muitas coisas que faziam Athanasia sentir-se nostálgica lembrando-se de Obelia. E uma dessas coisas eram os sentimentos confusos que agora deixavam-na confusa.

Dormir após Lucas sair de seu quarto naquele dia foi doloroso para ela, acordar dia após dia, principalmente. Athanasia sentia seu peito doer, e cada parte de seu corpo onde aquele mago tocou ainda ardia em chamas – como se ela precisasse que ele voltasse para apagá-las. O que era curioso, pois foi ela quem o afastou. Era dele e daqueles olhos carmesim que ela fugia insistentemente.

Ela treinou incessantemente durante estes dias em que não havia visto o mago para não admitir para si mesma que sentia falta dele quando estava parada sem fazer nada. Se enfurecia tanto que chegou a treinar até o último pingo de mana e suor disponível em seu corpo, até estar jogada no chão sujo respirando fundo e pensando se realmente valeu a pena se desgastar tanto para tirar uma pessoa de sua cabeça.

Mas o que ela podia fazer? Aquelas malditas três palavrinhas ficavam martelando em sua cabecinha, como se alimentassem seu cérebro, jorrando endorfina para todo seu corpo e a deixando completamente extasiada.

Eu te amo.

Ele realmente me ama? – Era o que ela se questionava, quando seus olhos encaram o teto daquele pequeno cômodo. Ela observava as diversas colorações de infiltração e mofo pintando um abstrato nojento de cores naquele teto que provavelmente um dia já foi branco. E o mais engraçado era que ela sentia que seu coração estava da mesma forma. Repleto de bolores de mofo que a consumia à medida que ela se negava a aceitar o que era mais que óbvio.

"Não." Athanasia sacudiu a cabeça e jogou os pés para fora da cama. Dali foi direto ao biombo e colocou suas roupas de garoto, pegando também um casaco longo com gorro – que logo tratou de colocar em sua cabeça para tapar seus fios curtos.

Ela suspirou ao encarar o reflexo do espelho, observando suas olheiras e os cabelos tingidos completamente diferente do tão belo reflexo que sempre via quando suas empregadas cuidavam de si. Agora era deplorável.

Athanasia despertou de seus pensamentos entristecidos ao encarar atentamente o espelho e notar sobre a escrivaninha daquele quarto de pousada uma carta perfeitamente dobrada, selada com vela tingida de vermelho e sem um símbolo de quem poderia ser o remetente. Ao invés disso, uma bela rosa roxa estava presa ali, fazendo-a surpreender-se ao ter sido tão desleixada ao ponto de não notar algo assim em seu quarto.

Ela instantaneamente ligou aquela carta suspeita à Lucas, pois apenas ele havia entrado em seu quarto. Nem mesmo Anastacius já havia entrado, já que ele apenas aparecia na porta para chamá-la para treinar - e não faria sentido seu próprio tio lhe entregando uma carta; e, ainda por cima, com uma bela rosa roxa muito bem preservada.

A garota então lembrou-se de um de seus passatempos quando estava em Arlanta, e este era seu jardim desta mesma rosa, bem à sua frente.

O que aquele mago planejava? Aquilo só aumentava ainda mais as suspeitas dela.

Independente de suas dúvidas, Athanasia foi até a carta e a pegou cuidadosamente, quebrando o selo delicadamente feito, colocando a rosa de lado e segurando o conteúdo então com ambas as mãos.


...Querida Athanasia.

Atrevo-me a chamá-la dessa forma, pois sei que ficará irritada. E, de certa forma, gostaria que se lembrasse de como sempre adorei quando fica desta forma.

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