Despedidas

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Athanasia, Lucas e Félix ficaram chocados com a pergunta que Cabel fez à Lilian. Mas decidiram que seria melhor aguardar ao lado de fora a conversa que eles pareciam ter agora.

Talvez... fosse um sonho, do qual Lilian nunca desejaria acordar. Talvez fosse... uma mera ilusão, antes de adentrar o paraíso. Mas era tão real, que ela não podia nem mesmo acreditar.

Soltar suas próprias mãos daquele enlace frágil, para então tocar o rosto molhado pelas lágrimas de Cabel, sentir cada cantinho de pele com seus dedos tocando-o, era como sentir-se sobre as nuvens. Era isso. Lilian só podia ter sido levada por anjos e agora, à frente dela, havia seu filho.

Como não foi capaz de perceber antes?!

Aquele menino era idêntico a si, a única diferença realmente existente eram as pupilas Arlantinas, que diziam a ela que ele era realmente filho de Calvin. Mas fora isso, o cabelo, a cor da íris, as feições eram tão iguais às dela...

Até mesmo sua altura. O garoto parecia ter exatamente o mesmo tamanho que ela, e isso a fez rir por alguns segundos, antes de começar a curvar o corpo pelo choro que a atingia.

"Você... é a minha criança?" Lilian indagou entre soluços, segurando o rosto do Príncipe com as mãos. Seus dedos passearam por cada milímetro, estudando-o com toda a atenção do mundo, antes de sorrir desacreditada.

"E-Eu sou?" Cabel mais parecia afirmar do que perguntar durante um suspiro misturado às lágrimas e sorrisos encantados.

"Posso comprovar uma coisa?" Lilian propôs enquanto o puxava para se sentar, apenas recebendo um aceno positivo em resposta. "Meu bebê tinha uma marca de nascença na barriga. Posso ver se você tem uma?"

Os lábios de Cabel tremeram diante aquela pergunta, assim como seu coração que palpitou mais forte. Ele conhecia o próprio corpo e tinha plena consciência que, sim, havia uma manchinha em seu abdômen - uma marca de nascença. Não era preciso mostrar isso para saber do que ela estava falando, mas ele o fez.

Rapidamente, Cabel desabotoou seu uniforme Real Arlantino e mostrou a barriga à Lilian, comprovando a ela que havia ali a mesma marca que o bebê que lhe foi tirado anos atrás também tinha.

"Céus, e-eu..." Lilian revidava o olhar sobre a manchinha e os olhos de Cabel, sem saber o que falar. Talvez não precisasse de palavras naquele momento. Talvez apenas o abraço de saudade de uma mãe em seu filho. E foi isso o que ela fez.

Cabel arregalou os olhos quando Lilian o puxou para um abraço apertado, sem nem lhe dar tempo de terminar de fechar o uniforme, mas aos poucos foi se acostumando. Sua vista se embaçou uma vez mais pelo choro, e ele não se importou se estava molhando as vestes de empregada da morena. Apenas deixou-se chorar nos braços dela, sentindo aquele calor maternal que tanto desejou sentir em seus dezoito anos de vida.

"Eu achei que estivesse morto... Eles me disseram isso."

"O m-meu pai..." Cabel tentava falar, suspirando e respirando fundo para retornar o fôlego. "O meu pai faz questão de sempre dizer isso... Que deveria por fim na minha vida como espalhou pelos quatro cantos de Arlanta quando nasci."

"Não diga isso..." Lilian o afastou gentilmente do abraço para limpar as lágrimas doloridas que o inundavam o rosto, tendo completa ciência do quanto aquele garoto deveria sofrer nas mãos de Calvin. "Fico muito orgulhosa de você ser tão forte, aguentando tudo isso sozinho..."

Lilian engasgou com um suspiro choroso só de imaginar todas as maldades que Calvin poderia ter feito com Cabel, lembrando-se também de quando ele havia contado que o Imperador o pegou de mãos dadas com Ijekiel. As lembranças das palavras do Príncipe naquele momento, a forma como ele chorava por ter sido repreendido pelo pai.

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