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5AM. Um frio estranhamente bom corre por toda a minha barriga enquanto encaro o horário pelo meu celular, que por sinal, está quase descarregando. ‒ Talvez seja porque eu não dormi nada, pela minha incontrolável ansiedade por esse tão sonhado dia. ‒ O dia em que finalmente irei para a faculdade. E infelizmente, me mudarei para a casa do meu pai, por ser mais adequeado pela distância.
Se eu estou feliz por isso? Sim, pela faculdade, e não, por ter que morar com ele. Meu pai sempre foi totalmente incompreensível comigo e com a minha mãe, isso pelo menos quando eu era mais nova, dos meus cinco até os oito anos de idade, que foi quando ele nos deixou para morar com uma loira irritávelmente chata e rica. E desde então, as únicas coisas que recebo dele são ligações nos meus aniversários e dinheiro.
A ideia de ter que morar com meu pai e com aquela mulher detestável me deixa enjoada. Mas, talvez seja um pouco menos irritante que morar sob o mesmo teto que a minha mãe. Talvez, só talvez, eu possa respirar um pouco mais sem suas ondas de controle sobre mim. Ou talvez seja ainda pior.

- Lili! - grita a minha mãe - Desça logo daí, não podemos nos atrasar. O que seu pai vai pensar disso? - como se o que ele pensa ou deixa de pensar me importasse.
- Estou indo! - grito não muito alto, mas o suficiente para que ela ouça.

Suspiro ao olhar para a janela, encaro o tempo seco e frio. Acho melhor tomar um banho quente antes de encarar esse dia, ou então não sei o que irá me congelar primeiro, o tempo ou o coração frio de meu pai.

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Noto como as gotas de água dançam sobre o vidro do carro. Tento ao máximo controlar meus pensamentos inquietos sobre o que acontecerá quando eu descer desse carro e encarar a minha mais nova, e temida, vida.
Como será que meu pai está? Será que ele ainda continua o mesmo homem que xingava a minha mãe dos piores nomes possíveis e me dava abraços calorosos pela manhã como se nada tivesse acontecido?
Patético. A minha mente acrescenta.
E como será que eu terei que encarar a sua esposa troféu, e fingir que eu pelo menos a suporto? Afinal, terei de viver, ou sobreviver, debaixo de seu teto.

- Você deveria ao menos ter penteado direito o seu cabelo, Lili. - minha mãe finalmente solta um de seus comentários a qual já estou meramente acostumada. - Seu rabo de cavalo está torto e você não alinhou seus fios de forma correta. Como quer causar uma boa impressão desse jeito? - pergunta ela, como se eu não soubesse que ela está se referindo mais a si mesma do que a mim.

Ela é quem está verdadeiramente preocupada por aqui. Ela quem realmente quer causar uma boa impressão, afinal, ver o seu ex marido que mora numa baita de uma mansão, após anos, não deve ser fácil, nem mesmo para minha mãe que tem tudo sobre controle ‒ ou pelo menos finge ter. ‒

Reviro os olhos e solto um suspiro de quem sabe que essa viagem será insuportavelmente longa.

𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora