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- Hoje vamos sair! - Karol anuncia animada. - Vamos a uma festa de um amigo do trabalho do seu pai. - explica enquanto me serve um copo de suco.

-  É super importante a presença de todos nessa mesa. - seus olhos passeiam por mim e por Kurt. - Posso contar com vocês?

- Pode contar comigo, Peter - paro imediatamente de falar e o olho meio envergonhada por ter pronunciado seu nome. - digo, pai.

- Pra que eu iria querer ir pra uma festinha de riquinhos metidos a besta? - Kurt diz em um tom de deboche.

- É super importante que você vá, Kurt, e caso Peter não tenha deixado claro, eu deixo: Não foi um pedido. Você vai e ponto. - Ela diz calmamente e Kurt cerra os punhos.

O clima pesado reina na sala de jantar. Karol e Kurt trocam olhares frios. Há uma tensão no ar e sinto que preciso fazer algo para quebrar o silêncio.

- Então, pai, que tipo de roupa devo usar nesse evento? - pergunto.

- Uma roupa formal, claro. Karol pode te levar às compras hoje e te ajudar na escolha da sua roupa. - ele a olha esperando uma confirmação, e ela assente enquanto solta um sorriso leve.

Kurt bufa e levanta bruscamente da cadeira, pisoteando os degraus rapidamente, deixando somente eu, Karol e meu pai no recinto.

É muito estranho estar nesse ambiente, convivendo com essas pessoas. É estranho estar sentada a mesma mesa que o meu pai, que me observa calmamente com seus olhos castanhos, como se estivesse observando uma obra num museu. É estranho ver a mão de Karol sobre a de meu pai. É estranho não estar com minha mãe que a esta altura já estaria reclamando do tanto de comida que há no meu prato. Estranho, não ruim.

•••••

Já é a sexta loja em que entramos a procura do "vestido perfeito" segundo Karol. Já olhamos milhares de vestidos belíssimos mas nenhum que tenha sido a preferência dela.
Aliás, esse vestido é pra mim ou pra ela? Meu subconsciente faz um de seus comentários que me fazem querer rir por tamanha incoveniência.

- É este, Ayla! - ela passa a mão sobre a ponta do vestido o admirando com os olhos. - Finalmente o encontramos. - ela o tira rapidamente do cabide, me estendendo-o.

É um vestido vermelho, não muito curto e nem muito longo. Suas mangas são rendadas e é um pouco decotado. Ótimo, era só o que me faltava.

É muito lindo, Karol. - sorrio falsamente.

Provo o vestido e fico alguns minutos me analisando diante do espelho enorme da cabine. No corpo fica muito melhor do que imaginava. Karol têm realmente um bom gosto pra roupas, confesso, e um bom gosto pra milk-shakes também... Ok, ela não é tão má e horrenda quanto eu pensava que seria, mas ainda não confio nela.

Ela me leva até algumas outras lojas para comprar sapatos e algumas jóias para complementar o visual, e após todas as compras, ficamos por algum tempo conversando no carro enquanto o motorista nos leva de volta até casa.

Ela me conta um pouco mais sobre a festa, me explica coisas básicas mas que não deixam de ser importantes e como devo me portar diante daquelas pessoas de alto nível, não tão diferentes de mim agora, já que moro com o meu pai que tem dinheiro até pras próximas gerações.

•••••

Tomo um banho quente e demorado, me preparando mentalmente pras próximas horas.

Por fim, quando já estou com a maquiagem e o cabelo feitos, Karol se apronta para fechar meu vestido, enquanto me observo no espelho. Meus cabelos estão com cachos perfeitamente desenhados. Minha maquiagem é adequada para a situação, não é forte mas sem dúvidas destaca os pontos mais lindos do meu rosto. Karol coloca a mão sobre meu ombro e sorri para mim, e eu retribuo o sorriso.

- Sei que nunca participou de uma festa dessas, mas quero que saiba que se precisar de mim, basta me procurar entre a multidão, estarei ao seu dispor. - ela diz e se aproxima mais um pouco e eu quase acho que vai me abraçar, quando o meu celular começa a vibrar sobre a cama.

Karol sai rapidamente do quarto para que eu tenha mais privacidade. Atendo o telefone dando espaço para minha mãe reclamar sobre eu não ter atendido suas nove ligações mais cedo e a ouço falar sobre como o seu dia foi totalmente irritante.

••••••

Depois de uma viagem não muito demorada, o motorista enfim estaciona em uma vaga livre. Pelo vidro, observo os outros milhares de carros estacionados naquele lugar e concluo que estará lotado.
Lotado de ricos metidos, minha mente acrescenta.

Adentramos aquele enorme prédio e subimos pelo elevador até o último andar, onde damos de cara com um apartamento super grande e elegante. E como eu imaginei, lotado de pessoas de terninho e vestidos longos que eu facilmente tropeçaria e daria de cara no chão.

Kurt está inquieto ao meu lado, com seu terninho preto que com certeza foi obrigado a usar pela sua expressão de insatisfação no rosto. Seu cabelo está bem penteado e pela proximidade posso até sentir o cheiro de seu perfume, que é uma delícia. Não tanto quanto ele, meu inconsciente mais uma vez fala por si e eu coro diante desse pensamento.

Um casal acompanhado de um garoto e uma garota com aparentemente a minha idade se aproxima de nós.

- Peter, Karol! - o homem de barba branca clama. - Estou feliz por vocês terem vindo, e acompanhados. - ele olha para mim e Kurt.

- Olá, é um prazer. - estendo a mão para ele e sorrio, me recordando das orientações de Karol.

- O prazer é todo meu, mocinha. Suponho que deve ser a filha de Peter, a qual ele tanto nos falou por anos. - ele segura a mão da mulher ao lado, que me solta um olhar gentil. - e você, Kurt, como cresceu, e está um belo rapaz. - Kurt dá um sorriso tão forçado que tenho que me esforçar pra não rir.

Desvio meu olhar para a menina e o menino parados ao lado. Os dois são loiros e possuem traços semelhantes, o que me faz pensar que são filhos do casal devido a aparência.  A garota troca olhares com Kurt, que a observa como um pedaço de carne de cima a baixo, o que por um motivo estranho, quase me faz querer vomitar.

Já o garoto está ocupado tentando arrumar a sua gravata. É engraçado como ele parece não ter nenhum tipo de experiência com isso. Ele nota meu olhar fixo a ele, e me encara com seus encantadores olhos azuis escuros. Ele rapidamente retém o que estava fazendo e me olha com um sorriso e olhar envergonhado.

- Estes são Alice - ele aponta para a garota loira. - e Bryan.

Todos terminamos de nos apresentar e cumprimentar, e sentamos a uma mesa grande o bastante para nos caber. Noto que o senhor, que agora sei seu nome, Francisco, não para de me observar com um olhar que acaba me incomodando. Kurt que está sentado ao meu lado o encara com um olhar que se olhares matassem, ele estaria a sete palmos da Terra.

- Dá pra por favor focar o seu olhar em alguma coisa que não seja a Ayla? - Kurt pergunta, ainda o encarando com aquele olhar.

- Perdão? - Francisco sorri ironicamente. - Estou incomodando, Ayla? - ele me olha e eu arrepio.

Ótimo. Vai ser uma ótima noite.

𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora