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O curto final de semana na casa de praia correu estranhamente bem. Passei um tempo a mais ao lado do meu pai, ele me compartilhou um pouco de sua vida de quando era mais jovem, se gabando de como conseguia impressionar todas as meninas de sua época escolar e de como era inteligentíssimo, esquecendo o fato de que não usou essa inteligência quando estava casado com a minha mãe. Minha mente aponta. Karol e eu nos imtupimos de água de coco e vinho tinto, e me cedi mais a me abrir um pouco com ela. Sinto uma estranha confiança recente por ela.

Como de esperado, Kurt não foi a viagem, e minha mente me faz acreditar que é por isso que tudo correu bem. Se ele tivesse ido, talvez... Não, repreendo meus pensamentos. Ele passou esses dois dias confortavelmente em casa, a casa que meus pés desejam pisar depois de horas presa nesse carro abafado. Passo o dedo indicador pelo vidro do carro afim de me distrair, e desenho um nome inconscientemente. O nome dele.

Balanço a cabeça em forma de negação e cruzo as pernas. Eu não sei como ele consegue tomar meus pensamentos de forma quase irritante, ou totalmente irritante, sendo sincera.

••••

Desço as escadas apressadamente com o olhar focado no horário do celular. 13h. As aulas começam daqui a 30 minutos, estou atrasada. Por sorte, a faculdade não fica tão longe daqui, e então me lembro o porquê que estou morando aqui, o porquê deste lugar ser ideal, ser uma escolha, ou a única opção.

Pego uma torrada da mesa coberta de comidas gostosas que fazem meus olhos brilhar, mas me atento a não cair sobre a tentação.

— Para se concentrar vai precisar mais do que uma torrada. — falando em tentação, Kurt.

Reviro os olhos e me despeço de Karol, meu pai e de Kurt com educação. O motorista me espera prontamente do lado de fora e abre a porta para que eu a adentre. Respiro fundo e repasso meus horários.

••••

Saio do carro, e agradeço a gentileza do motorista, que agora sei que se chama Robert, devido as minhas perguntas incansáveis durante todo o percurso. Ele sorri e suas covinhas tomam conta de seu rosto e logo após volta para o carro, me deixando em frente aquele grande lugar inundado de pessoas por toda a parte. Já havia visto fotos, mas pessoalmente é muito mais lindo. A grama verde com pétalas de flores caídas das grandes árvores. Mordo o lábio inferior alertando nervosismo, e sinto uma mão pousar pelo meu ombro.

— Vi lindos cabelos bem penteados ruivos e uma onda forte de nervosismo vindo de você, e então a reconheci. — Bryan sorri caçoando da minha tamanha falta de jeito.

— É, talvez eu esteja um pouco — muito — nervosa.

— Todos presentes aqui estão, alguns só fingem melhor que os outros.

Eu e ele rimos, e observo por curtos segundos as pessoas ao nosso redor, e sua teoria parece ser verdadeira. Adentramos aquele lugar assustador. Enquanto ando pelos corredores do campus, a voz de minha mãe ronda minha cabeça e até posso vê-la me observando com atenção e fazendo seus comentários. "Ande direito, Ayla, postura" "Contato visual, sorriso e educação." "E o mais importante, fique longe de pessoas problem..."

— Temos a primeira aula juntos. — Bryan aponta para o papel com todos os horários das aulas, e eu sorrio aliviada.

As primeiras aulas passam de maneira lenta e anoto tudo que acho necessário no caderno para repassar mais tarde. Somos liberados para o intervalo, e recebo uma mensagem de Bryan pedindo para que me encontre fora do Campus para almoçarmos.

O aroma do alho dourando faz com que a minha barriga reclame de fome, e me sento a mesa juntamente a Bryan. Fazemos o nosso pedido a bela moça que nos recebe com um sorriso gentil.

— Então, se me permite ser um pouco curioso, ou intrometido — ele ri e eu assinto para que ele continue — O que houve aquele dia com toda aquela confusão?

Ele se refere ao dia em que nos conhecemos e que Kurt, e seu pai gritaram um com o outro.

— Foi um dia muito conturbado. — é tudo que eu digo e, lembranças de Kurt correndo e eu indo atrás passam pela minha mente.

— Com toda certeza, sim. Mas você foi atrás dele, não foi? — ele limpa a garganta — Vocês não são irmãos, nem primos... ele é seu..

A garçonete o interrompe trazendo nossos pedidos a mesa e agradeço aos céus por ter chegado logo.

— Não somos... isso, sabe? — olho para os lados e volto meu olhar a ele — isso que está pensando. — digo quase em um sussurro.

Seus ombros se endireitam e ele se acomoda mais na cadeira.

— Obrigado por matar a curiosidade desse fofoqueiro sedento.

Rimos e terminamos de comer. Ele paga a conta, mesmo depois de eu ter insistido em dividirmos, e na volta reclamamos da forma de ensino de alguns professores.

Faltando apenas uma última aula, percebo que pela minha descuidadosa demora, os assentos da frente já foram ocupados e a minha única — e péssima — opção são os do fundo. Escolho a cadeira mais próxima a das frentes, e me sento do lado de uma garota cheia de piercings e tatuagens. Cedo a minha curiosidade para observá-la mais, seus cabelos pretos que se limitam até os ombros, seus olhos castanhos amêndoas que observam o chão da sala com desdenho, e por fim o seu estilo que foi o que realmente prendeu a minha atenção.
Não que eu seja aquela que irá julgá-la por seus visuais, doidos, mas ainda sim, não irei.

Ela vira sua cabeça para mim, me fitando com o seu olhar curioso, parecido com o meu a segundos atrás e me observa de forma um pouco julgadora enquanto masca seu chiclete.

— Eu sou gata, mas porra, tu é uma gata do caralho. — meu corpo se relaxa e me sinto mais a vontade, ela sorri e eu retribuo o sorriso.

— Obrigada. — digo e ela ainda continua me observando atentamente.

— É tão gata que até essas roupas do mesmo gosto da minha avó te caem bem. — ela levanta uma sobrancelha com seu olhar correndo pelas minhas roupas e eu rio por eu estar fazendo o mesmo alguns minutos atrás.

Nosso gosto em questão de roupas é totalmente diferente, nossa visão e gostos parecem não se bater, mas sinto uma calmaria por ela não ter falado nenhum comentário grosseiro como pensei que faria.

— Gostei de você, ruivinha. Precisamos nos ver mais vezes para você me ensinar a como conseguir prestar atenção nessas aulas incrivelmente chatas. — ela faz sinais com a mão enquanto guardamos nossas coisas a bolsa. — Me chamo Luna. Luna Krosswer, mas pelo amor de Deus me chame de Lu. — ela faz biquinho e um sinal com as mãos implorando.

— Tudo bem senhora Lu, me chamo Lili. — ela se mantém em silêncio esperando que eu continue — E não, não irei revelar meu sobrenome! É estranho e alguém chamada Krosswer não poderia entender. — rimos.

𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora