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— Quer saber? Por quê não voltamos lá dentro?

Arqueio uma sobrancelha para ele, declarando dúvida.

— É isso que ele quer, Lili. Quer conseguir te deixar tão mal, sentir que ganhou, que ele pode e consegue te deixar a baixo dele.

Manuel levanta do gramado e curva sua mão até mim. Neste momento, me recuso a pensar sobre a proposta ousada que acabou de sair da boca de Manuel. Sinto que estou sendo um pouco louca quando apenas toco sua mão, e me levanto juntamente a ele.

Mas é exatamente o que faço.

Chega de me esconder as sombras de Kurt. Chega de ficar aos cantos desejando ser alguém que ele nem ao menos respeita o suficiente para estar.
Chega.

Como em sincronia, nós dois caminhos até o bar e nos sentamos nos bancos vagos.

— Uma vodka.

Ele diz com determinação. Seus olhos parecem agora cheios de ânimo, o que também me deixa animada.
O garçom me olha, esperando que eu peça logo para que ele prepare. Então desejo não pensar a respeito e peço o mesmo que ele.

— Uma vodka.

Sorrio para Manuel, que me retribui uma risada muito gostosa de ouvir.

— Lili, toda certinha, está realmente aqui sentada nessa mesa ao bar comigo?

Ele ri de forma divertida.

Nossas bebidas chegam e perco a conta depois da quinta ou sexta dose que peço. Manuel me puxa para a pista de dança e me ensina novos passos bizarros — os quais não me atrevo a imitar por serem realmente ridículos, — mas me fazem rir. Me fazem rir muito alto, e só percebo o quanto estou sendo exagerada quando ele leva a mão a minha boca. Sua mão tem cheiro de limão com álcool. Desfaço o toque por me sentir enjoada pelo cheiro forte e então murmuro em reclamação.

— Por quê não posso rir na altura que eu bem quiser?

Pergunto, irritada. Cruzo os braços a linha do peitoral e Manuel revira os olhos, depois ri, mostrando que está achando graça de meu comportamento birrento.

— Você pode rir na altura que quiser.

Ele diz, e então me gira, me fazendo rir mais. Nem lembro porquê estava brava com ele há segundos atrás, apenas me entrego as suas palhaçadas que me arrancam incontáveis risadas.

Minha visão começa a distorcer um pouco e me pergunto porque Manuel está com seu rosto tão embaçado. Preciso fazer uma pausa e me sentar um pouco.

Custo a andar até Manuel para avisá-lo, mas depois de avistá-lo com uma morena dos cabelos compridos, resolvo não interromper, então olho ao redor do local tentando procurar um lugar livre em que eu possa sentar.
Finalmente encontro um sofá de couro preto, não muito longe, e me esforço para não cair nas minhas tentativas falhas de chegar até lá.

É quando me sento e posso finalmente respirar de forma digna, que meus olhos encontram os seus, que agora me encaram. Não sei bem quando e em que momento ele notou que eu estava ali, mas agora, Kurt me encara com curiosidade. Meu coração bate forte contra meu peito e engulo em seco quando a loira reaparece com dois copos em sua mão, sentando em sua perna direita. Me sinto enjoada.

Não sei certamente se é a bebida que está me causando alucinações agora ou se ele realmente acabou de recusar a loira e está vindo até minha direção. Ele está vindo para cá? Seus olhos estão realmente presos aos meus desde que nos olhamos? Por quê ele está se sentando ao meu lado?

— Por quê está aqui?

Está é a primeira frase que sai de sua boca. Me sinto irritada pela forma como ele parece querer saber do porquê de eu estar aqui. Eu não poderia simplesmente vir porque eu quero? Mesmo que está não seja a ocasião agora.

— Eu quis vir.

Minto, mas as palavras são ditas com dificuldade, o que o faz arregalar os olhos.

— Porra, Lili, você está bêbada?

Ele parece se divertir com isto, mas já está me irritando demais. Não sei ao certo se estou irritada por ele estar aqui, me arrancando explicações ou por tê-lo visto beijar aquela loira. Talvez pelos dois.

Resolvo não o responder e então levanto do sofá de forma brusca, quase caio pela maneira como me levantei, mas continuo a caminhar para, bom, não sei exatamente para onde estou indo. Mas preciso sair de perto dele.

Chego até as escadas, mas sinto uma mão tocar meu ombro e meu corpo reconhece facilmente seu toque.

— Para de me seguir.

Exijo, irritada.

— Você está bêbada e eu, bom, estou preocupado.

As palavras parecem sair relutantes e eu só consigo rir como resposta.

Uma risada irônica. É tudo que consigo emitir. Kurt acabou mesmo de dizer que está preocupado comigo? Rio ainda mais.

— Vem, vou te levar para casa.

Sua mão segura meu pulso com um pouco de força, e talvez, pelo álcool que corre em meu sangue, eu o empurro com toda força que tenho, fazendo-o cair sobre o chão. Felizmente, nenhuma das pessoas parecem notar, já que todas aqui provavelmente também estão bêbadas e concentradas em beijar o máximo de bocas possíveis. Quantas bocas será que Kurt beijou hoje? E por quê, estou preocupada e irritada com isso?

— Quantas bocas você beijou?

Digo, quando ele finalmente se levanta e arregala seus lindos olhos verdes. Eu poderia morar nesse verde cristal de seus olhos para sempre.

— Porquê está preocupada com quantas bocas beijei?

Dou de ombros. Não o respondo, me forço a subir um degrau da escada, depois, mais um.

— Preciso que me entretenha, se não vai fazer isso, então vou arranjar outra coisa para me ocupar.

Continuo a subir mais alguns degraus. Me seguro no suporte da escada para evitar cair.

— Parei de contar depois da quinze.

Paro de andar. Meu corpo estremece e me sinto mais enjoada ainda. Agora que estou um pouco mais sobre o alto, procuro examinar cada garota que meu campo de visão me permite ver. Vejo loiras e mais loiras, vejo morenas, vejo altas, baixas, vejo infinitas mulheres. Sou tomada pela raiva e quando percebo já estou subindo o restante dos degraus.

Ele me puxa pelo braço, me impedindo de entrar dentro de qualquer um desses quartos malditos.

— Olha para mim.

Ele pede, mas seu tom de voz soa mais como alguém que está exigindo.

Não irei olhar.

Sua mão toca meu rosto, seus dedos meu queixo e então ele vira suavemente meu rosto para si. Suspiro, derrotada ao encarar seus olhos novamente.

— Podemos conversar?

Assinto. Então, entramos em um quarto vazio, onde ele levanta para trancar a porta, mas me retraio.

— Prefiro que não tranque.

Peço.

Então ele volta e se senta ao meu lado. Sua mão toca a minha, e ela está quente. Gosto de sentir seu toque sobre minha pele. Mas não gosto das palavras que ouço após ele:

— Eu precisei me afastar de você, e ainda preciso.

Ele assume de uma vez por todas a verdade que eu já sabia, mas nem por isso deixa de doer.

𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora