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Kurt mantém a cabeça baixa e não consigo enxergar seu rosto, apenas ouço-o fungando. Sinto suas lágrimas quentes tocarem minha pele. Ele está chorando. Kurt, chorando, nos meus braços.
Eu jamais tinha visto seu lado vulnerável, ele sempre mostrou sua postura dura e fria, como se não se importasse com nada, como se nada fosse capaz de atingí-lo, de nenhuma forma.

Mais lágrimas atingiram meu braço e eu o abracei com mais força. Ficamos assim por alguns minutos e meu coração doía por vê-lo naquela situação. Até que Kurt ergueu o pescoço, levantando o seu olhar e me encarando com seus olhos vermelhos. O semblante triste saltava.

- Por que.. Por que veio aqui? - perguntou com a voz rouca e tão baixa que quase pareceu um sussurro.

Fiquei alguns minutos em silêncio tentando arranjar alguma resposta coerente para sua pergunta. Não tinha resposta alguma, eu também não sabia porque. Foi automático, meu corpo correu contra minha vontade — ou com minha vontade — até ele, como se eu precisasse encontrá-lo e ajudá-lo de alguma forma.

Ele tossiu propositalmente para me desvencilhiar de meus pensamentos a fim de uma resposta, enquanto se afastava lentamente de meu corpo, e rapidamente meus braços sentiram a ausência de seu corpo.

- Pode parecer muito estranho, e talvez você até ria de mim, mas...

- Você também sentiu, né? - ele me interrompe e me encara com um olhar que não sou capaz de decifrar.

- Sin-sinto? O quê, exatamente? - pergunto confusa.

- Sinto que de alguma forma, eu.. você... - ele pausa e fecha os olhos por alguns segundos como se estivesse prestes a confessar que matou alguém. - Essa "nossa" ligação, se é que posso descrever assim. - diz fazendo aspas com os dedos e relaxando os ombros.

Kurt se acomoda no sofá de couro, e leva sua cabeça para trás repousando seu corpo de forma mais relaxada.

- Nossa ligação? - pergunto ainda sem acreditar no que ele acabou de dizer.

- Esquece. Foi bobeira. - seu tom de voz muda para um tom impaciente. - E aliás, nada disso aconteceu. Você não me encontrou aqui nessa situação deplorável, certo, Ayla? - ele novamente me encara, com um olhar sério.

- Mas.. você estava tão.. - tento arranjar palavras certas que não prejudiquem ainda mais a situação. - É que.. - suspiro.

- Certo. - ele se levanta e bagunça seu cabelo, mostrando que odeia ele penteado para o lado, e caminha até a porta da saída.

- Onde você vai? - Grito para que ele possa me ouvir.

- Não importa. - diz bruscamente e passa pela porta deixando apenas dúvidas no ar.

Essa nossa ligação. Minha mente recorda suas palavras que saíram de forma confusa e apressada. Nossa ligação. É estranho pensar que desde que bati os olhos nele, eu senti algo que não consigo decifrar, o que claramente me deixa mega irritada por minha mania de sempre querer ter o controle sobre tudo, mas perder totalmente quando se trata de Kurt. E quando nossos olhos se encontram. Quando seus lindos olhos encaram os meus. Minha mente alega, o que não deixa de ser verdade.

Seu olhar tem uma estranha dominação sobre o meu, tudo parece mudar quando ele me olha. O clima, as pessoas que parecem sumir, e o resto do mundo congelar, menos ele. O menino mais grosseiro e rude que já conheci, me causa sensações estranhas que jamais senti antes. Merda!

Começo a analisar calmamente todos os acontecimentos em minha mente. O dia em que saímos e comemos juntos, como ele ria — de uma forma tão gostosa que se meus ouvidos pudessem falar, agradeceriam. —, a forma como ele me olhava de escanteio. Ele se incomodando com olhares mal intencionados a mim. As encaradas, o desconforto evidente ao ver outro cara perto de mim. A mudança de expressão em seu rosto. Ele chorando sobre meus braços, e me encarando de forma tão intensa que seria capaz de enxergar minha alma.

Nossa ligação.

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A viagem de volta aquela enorme mansão foi totalmente em silêncio. No carro, Peter, meu pai ao volante, e sua esposa, Karol, sentada ao lado no lugar de passageiro.
Eu, desconcertada em meus pensamentos, na parte de trás com um espaço vazio ao lado que deveria ser ocupado por Kurt. Kurt, onde será que ele estava? Eu deveria arriscar e perguntar a Karol? Ou adentrar mais o assunto e contar sobre o que aconteceu? Burra, até parece que ela iria saber de algo. Minha mente me alerta.

- Lili? - Karol quebra o silêncio desconfortável e posso jurar que ela acabou de ler meus pensamentos e está pronta para me repreender.

- Sim?

- Ele me pediu para te entregar isso. - por um momento posso jurar que ela está se referindo a Kurt. Ela estende sua mão até mim com um pedaço de papel, e eu o pego.

- Ele? - engulo em seco.

- O menino loirinho de terninho azul, Ahn... - ela faz uma pausa, parecendo tentar recordar o nome. - Bryan!

- Ah sim, obrigada, Karol. - sorrio de forma sincera.

Por estranho que pareça, os pensamentos negativos que eu tinha sobre Karol estão aos poucos de desfazendo.
Abro o papel que está dobrado de forma qualquer, e noto um número de telefone.

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𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora