27.

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As gotículas quentes de água caem sobre minha pele e eu desejo que elas levem consigo tudo de mim. Não que eu esteja querendo morrer ou algo parecido, mas as vezes pensar em simplesmente não estar existindo me conforta. Sou interrompida por fortes batidas na porta. Não faço o mínimo esforço para reconhecer quem está por trás da porta, pelo contrário, continuo a permitir que a água quente me cubra por inteira.
As batidas ridículas voltam e bufo sem paciência. Desligo o chuveiro e me cubro com a toalha.
— Quem é?
Grito irritada, ainda por trás da porta.
— Você já está ai faz uma hora. Precisamos conversar sobre o que aconteceu. Eu só quero te ajudar.
Ele usa seu tom paciente e compreensivo.
Abro a porta e saio andando sem me dar ao trabalho de encará-lo. Não consigo sentir meus pés tocando o chão quando ando e tenho a leve sensação de que estou aqui somente em consciência. Como se meu corpo não fosse mais o meu corpo. Me deito ainda com toalha sobre a cama e fecho os olhos na esperança de que eu possa dormir pelo máximo de tempo que meu corpo me permitir. É tudo que eu quero, é o único momento em que me desligo de toda a humanidade e posso ser um vasto nada.

。゚゚・。・゚゚。
゚。𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆
 ゚・。・

— Aqui temos toalhas limpas e você pode usar algumas roupas de Kurt.
Meu pai recebe o rapaz com hostilidade, totalmente o contrário do que eu esperava. Kurt parece não se importar com um estranho usando suas roupas, o que é mais estranho ainda por partir dele.
O garoto que encontramos, agora está sentado sobre o sofá do meu pai. Ele mantém sua cabeça baixa por todo o tempo e não consigo observar direito. Suas roupas estão sujas e desgastadas, noto algumas manchas de sangue, mas nenhuma cicatriz ou marca a vista pelas partes nuas de seu corpo. Seus cabelos estão despenteados e percebo que ele também está descalço. Logo, o garoto se levanta e recebe a toalha limpa que a empregada lhe entrega, ela o coordena até o banheiro e então ele desaparece diante das escadas.
— Quero saber o que aconteceu com ele, mas o coitado não diz nada.
Kurt diz sem nem medir o tom de voz, despreocupado se irão ouvir.
— Acha que pode ter sido algo muito sério?
Ainda estou olhando para as escadas, talvez me certificando de que ele não esteja ali para nos ouvir. Meu pai, Karol e a empregada já saíram a algum tempo.
Kurt dá de ombros.
— Talvez. Você viu as manchas de sangue pela blusa dele? E os rasgados?
Assinto e ele continua.
— Provavelmente alguém queria matá-lo. Ele está assustado pra caramba.
A ideia de uma vítima de um quase assassinato poder estar morando sobre o mesmo teto que o meu me faz arrepiar. Kurt percebe como meu corpo reage, e me puxa para mais perto de si. Encosto minha cabeça em seu peito. Seus batimentos acalmam os meus, quase como eles estivessem interligados.
— Não queria ter te assustado, foi mal. Foi apenas uma suposição.
É estranho vê-lo tão preocupado com o que suas palavras podem me causar. O Kurt de semanas atrás jamais se desculparia pela sua forma de agir ou ser.
— Tá tudo bem, só fiquei um pouco tensa. Preciso de um banho.
Me levanto e sua mão ainda está colada a minha, me afasto de seu toque e sigo até as escadas. Kurt me segue até meu quarto e para em minha porta, me olha com um olhar pidão e permito que ele entre.
— Vai querer checar se eu sei tomar banho também?
O provoco. Adoro fazer isso.
— Talvez você precise que alguém te dê um banho.
Seu tom de voz mudou para um malicioso. Ele se aproxima de mim e me mantenho parada no mesmo lugar.

𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 𝐒𝐂𝐑𝐄𝐀𝐌𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora