CAPÍTULO TRÊS: OS PROFESSORES

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COMO QUALQUER OUTRA manhã típica londrina, o dia amanheceu nublado e o cheiro dos combustíveis queimados pelos motores dos automóveis, pelos trens e pelas indústrias já impregnava as narinas e preenchia os pulmões da sociedade londrina. Apesar disso, tal odor não incomodava tanto no distrito de Bloomsbury, mais especificamente na Gower St WC1E 6BT, onde se localizava um dos muitos polos do conhecimento da capital britânica: a University College London.

Caminhando a passos largos, com inúmeros papeis em mãos e tentando memorizar as palavras que sairiam da sua boca durante uma palestra dada à alguns alunos de Física II, o professor matemático Hans Schucruth seguia pelos longos corredores da universidade. Era um homem bastante alto, com seus quase dois metros de altura, nenhuma barba na face e os cabelos curtos loiros com alguns fios grisalhos. Perdera a noite anterior finalizando todos os pormenores de sua apresentação, tal como sempre fazia nas noites que antecediam suas aulas e palestras, cuidando dos mínimos detalhes para que tudo saísse perfeito como deveria ser.

Além disso, podia sempre contar com seu fiel mordomo Sir Alfred, um senhor britânico com seus quase oitenta anos.

Enquanto seguia pelos corredores da universidade, cumprimentava de forma ligeira os estudantes e colegas professores pelos quais cruzava, alguns desejando boa sorte para palestra, outros dizendo estarem ansiosos para saber mais sobre seus novos estudos. Por pouco não se esbarrou com Robert Smith, um conceituado professor de história antiga da universidade, o qual conhecia, mas não tinha muita aproximação.

Não era à toa: sir Smith era o exemplo da arrogância aristocrata britânica. Com seu grande bigode arredondado muito bem cuidado e seus quarenta e cinco anos – Hans sendo quase sete anos mais novo – caminhava sempre muito bem arrumado, sempre que possível ostentando seus ternos dos mais caros e luxuosos, de peito sempre inflado, apesar de ser um pouco mais magro do que o normal para idade, carregando um cachimbo em uma das mãos e uma bengala na outra.

— Tenha cuidado por onde tu andas, senhor Schucruth! Não te esqueças que estamos em Londres, a capital da evolução tecnológica e industrial, o baluarte do conhecimento dentro desta sociedade pouco cível e ordenada, como são os alemães. – Disse em voz alta e mantendo a pose.

Hans respirou fundo, virando-se para o professor Robert e mostrando um visível sorriso forçado. Robert lutara na Primeira Guerra e não era muito amistoso para pessoas de descendência alemã ou austríaca, tal qual era Hans. Apesar disso, sabia que, se eles lutassem um contra o outro, derrubaria Robert com um só golpe. Mesmo com seus quase quarenta anos, Hans possuía vasto conhecimento nas artes marciais, principalmente no boxe e judô, além de ser fisicamente bem mais avantajado do que Robert.

Com toda paciência possível, apenas respondeu:

— Passar bem, Robert – seguindo seu caminho. Robert balançou o cachimbo em sua direção, indignado.

— Para você, é professor Smith! Professor Smith! Hey, está me ouvindo? – Gritava, mas Hans já não mais o escutava. Já se distanciara demais para ouvir as reclamações do pomposo professor Robert Smith.

Finalmente estava chegando em sua sala. Não onde dava aula, mas sim o que poderia se considerar uma sala pessoal, como um escritório, a qual requisitara a universidade para que pudesse recorrer sempre que precisava trabalhar em algo mais complicado. A universidade, prontamente, acatou o pedido. Hans era uma das maiores mentes no campo das ciências exatas daquela década. Com diversos artigos publicados, alguns anos atrás em parceria com um bom amigo que conhecera naquela mesma instituição, o professor matemático Paul Gustav Bachmann, era um grande achado para a instituição, que aposta em nomes como o dele e nas pesquisas de outros professores – como o historiador Robert Smith – para aumentar o grau de reconhecimento da universidade.

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