DEVERIA SER UMA noite como qualquer outra na noturna e chuvosa capital inglesa, Londres. Uma penumbra pairava sobre a cidade, resultado das fumaças atiradas pelas industrias durante a queima de carvão e madeira, impregnando por completo a cidade, tanto durante a noite, quanto no dia, mantendo o céu constantemente encoberto por nuvens cinzas.
O veículo automobilístico seguia em direção as ruas de uma área de classe média da cidade londrina. O cheiro dos esgotos, ainda que depois de muitas reformas e renovações tecnológicas, continuava a incomodar em certos momentos.
Passaram pela ponte sobre o rio Tâmisa, seguindo a noroeste, onde garotos corriam pelas ruas anunciando o extraordinário ocorrido que tornava aquela noite terrivelmente peculiar e, então, rumo ao norte, onde já eram aguardados por uma equipe de policiais de rotina, que já haviam afastado os mais curiosos há algumas horas e feito a vistoria mais básica na região.
O veículo, aos trancos, freou em frente ao grande prédio de apartamentos. Os sentimentos nos olhares daqueles que observavam a dupla singular que descia do carro eram mistos. Alguns denotavam o claro menosprezo e desconfiança; outros achavam graça, enquanto outros pareciam sentir um verdadeiro ódio e repulsa.
Não era sem razão tais sentimentos mistos, pois a dupla que descera do carro, enviados para investigar o caso que roubou a noite de sono dos moradores de Londres, eram um tanto quanto distintos:
Nolene Wilson, a primeira inspetora mulher da New Scotland Yard. Uma mulher ruiva de cabelos curtos e porte autoritário, carregando consigo seu bem cuidado Webley MK VI, um revolver padrão da polícia britânica.
Ao seu lado, não sendo chamativo pelo seu gênero, mas pela sua pele retinta, estava Jacob Wood, um dos poucos investigadores da NSY negro. Ambos estavam em uma conversa amigável e descontraída num bar à sudeste da cidade, quando foram informados que haviam sido escalados para investigar o caso.
— Boa noite – cumprimentou Jacob aos três policiais de rotina em frente ao prédio no qual a vítima morava.
— Boa noite, sou a inspetora Nolene Wilson e esse é meu colega Jacob Wood. Fomos enviados para averiguar o caso de assassinato que aconteceu aqui – Nolene fez uma breve pausa ao ver os olhares apáticos dos oficiais diante dela. Se pudesse, teria quebrado o nariz de todos com belos golpes de direita, mas sabia que precisava ser melhor do que aquilo. Qualquer deslize colocaria em risco não apenas sua carreira, como a imagem das mulheres no corpo policial britânico.
— Meus caros, poderiam nos informar sobre o que conseguiram descobrir até agora? – Jacob indagou, dando um passo à frente. Sabia que mais um olhar de deboche dos oficiais para Nolene e eles teriam sérios problemas.
Um dos policiais avançou, fazendo sinal para que os outros fossem sondar ao redor. Cumprimentou ambos e, sem muita discrição, varreu Nolene com os olhos de cima a baixo, evitando um sorriso malicioso. Finalmente, após puxar uma pequena caderneta molhada devido a fina garoa que tomava à noite, com algumas anotações, respondeu:
— Boa noite senhor, senhorita. Eu sou o oficial Alexander Willians, o responsável e o primeiro a ter chegado ao local do assassinato. A vítima se chamava Paul Gustav Bachmann, sessenta e três anos, professor na Universy College London.
— Bachmann? – Nolene indagou, Willians assentindo.
— Esse sobrenome... ele era alemão? – Jacob também perguntou.
— Eu... acredito que sim. Bom, ele foi encontrado sem sinais vitais em sua cama, no apartamento doze, no quarto andar. O apartamento inteiro está uma verdadeira bagunça, então deduzimos que o assaltante, ainda que não tenhamos identificado o que foi roubado, teve uma bela luta contra a vítima, antes de finalmente ceifar sua vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022
Terror[VENCEDOR WATTYS 2022] 1920, Inglaterra. Dois anos após o fim da terrível Grande Guerra, Nolene Wilson - a primeira mulher a conseguir o cargo de investigadora na história da New Scotland Yard - e Jacob Wood - um dos poucos homens negros que trabalh...