CAPÍTULO QUATORZE: OS SILENCIOSOS

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DIRIGIAM O VEÍCULO o mais rápido que podiam, em direção ao hotel do distrito. Hans continuava abraçado ao livro de equações com toda força que tinha desde o início, mas seus olhos já não mais apresentavam a loucura que parecia consumir sua mente.

— Certo, você disse que o professor Bourn falou uma coisa que Hotep lhe disse e por isso concluiu que eles estão trabalhando juntos – Robert disse, enquanto guiava o carro – Mas ainda não nos explicou exatamente o quê.

— É, eu estava desconfiada dele desde o início, mas qualquer um pode falar coisas parecidas, Hans. O que exatamente...

— "... é só olhar para as estrelas. Elas sempre nos dão o brilho necessário para iluminar o caminho obscuro que se constrói diante de nós" – Hans disse, interrompendo Nolene – Foram essas as palavras que Hotep me disse, quando invadiu minha casa para aquele papinho maldito. Was zum teufel! – vociferou, irritado – O Bourn sequer hesitou em me sugerir observar as fórmulas a partir da posição e a formação das galáxias! Era mais do que óbvio. Desde o início, tudo apontava para as estrelas. As respostas partiam de lá. Hotep e Bourn também sabiam e estavam me auxiliando a concluir o trabalho que Bachmann morreu para impedir. O Bourn me falou exatamente as mesmas palavras, na mesma ordem, em que o Hotep me falou. Não é evidente? Essa Equação Ahrtsu provavelmente era algo que o Hotep estava passando para alguém como o Bourn resolver. O mesmo tinha as ferramentas, mas não a capacidade intelectual o suficiente para solucionar. Então, um ano atrás, encontrou o professor Bachmann...

— E lhe mostrou a fórmula, passou o bastão para alguém que pudesse solucionar – Robert completou, Hans assentindo.

— Num dos diários, Bachmann escreveu "os reis enviaram seus servos", "eu preciso encontrar a resposta", "eu sou a chave para o outro mundo", "os professores podem me ajudar" e "ele acredita que eu sou capaz, por isso estou vivo" – Nolene relembrou – Eu achava que o "ele" se referia ao Hotep, mas agora eu imagino que seja ao Bourn.

— O professor Bourn acreditava que Bachmann era capaz de solucionar a equação, por isso não o mataram antes – Jacob concluiu.

— Mas que merda... – Adrian resmungou.

A noite estava mais fria do que se podia imaginar, e o que antes era apenas um pouco de neve que caia do céu, agora se tornara uma verdadeira nevasca que não se permitia ver nem um palmo além do nariz. Mas, para felicidade do grupo, conseguiram chegar ao hotel e, estacionando de maneira despreocupada, Robert parou o carro e fez um sinal para que todos descessem. Correram apressados para dentro do hotel. O recepcionista – um jovem rapaz de aparência afeminada, simpático e de olhar cansado – acenou para eles, mas foi completamente ignorado.

Estando em seu andar, o quinto e último, cada um seguiu para seu quarto, exceto Adrian, que foi puxado pelo professor Robert para que lhe ajudasse na arrumação da mala e dos pertences desnecessários que trouxera. Hans arrumava de forma desengonçada as coisas dele e de Adrian, com maior dificuldade por continuar apertando o livro de equações com uma das mãos contra o peito.

O telefone de seu quarto, de repente, tocou.

Ainda com a mente a mil, atendeu.

— Olha, não queremos serviço de quarto e não tenho tempo para falar, então...

— Ah, meu caro Hans, tens certeza de que não tem tempo para falar comigo? – a voz masculina e jovial que ecoou do outro lado da linha fez a espinha de Hans congelar por completo, ao mesmo tempo em que uma onda de raiva tomava os seus pensamentos.

— Hotep...

— Me surpreenderia se não soubesse quem sou. Afinal de contas, sinto que a cada minuto que se passa, tornamo-nos mais próximos... mais íntimos.

A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022Onde histórias criam vida. Descubra agora