CAPÍTULO CINCO: A BESTA ALADA

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O FINAL DA tarde se aproximava e, com ela, o caos do trânsito e a aglomeração populacional pela grande cidade. Após mais uma longa lista de pessoas entrevistadas, Nolene e Jacob se viam num beco escuro. A última pista que tinham era, ironicamente, da senhora que gostava de ver a vizinhança, para fofocar com as amigas, e que falara mais uma vez para dupla sobre ter visto o professor Bachmann voltando para casa usando um roupão caro e discutindo com um homem de gravata amarela.

Na universidade, não conseguiram nada de interessante, tanto dos professores quanto alunos. Os únicos que tiveram real contato pela última vez com o Paul Gustav Bachmann, foram o Hans Schucruth e Robert Smith que, apesar dos relatos, em pouco puderam ajudar de fato.

— Então... é isso. Estamos num beco sem saída – Jacob murmurou, tomando mais um gole de chá num restaurante próximo ao rio Tâmisa, enquanto observava o ambiente.

Nolene coçava a cabeça, começando a murmurar sozinha. Jacob já sabia o que era aquilo. Ela estava começando a forçar a mente ao máximo, para conseguir o mínimo de razão possível nos relatos.

— Se forçar mais um pouco, sai fumaça dos ouvidos... de novo – Jacob comentou, rindo e tomando mais um gole do chá.

— Ah, fica quieto. Eu preciso pensar. Simplesmente não faz sentido. A gente deveria ir dar uma lida de novo no diário do professor Bachmann. Deve ter alguma informação que não lemos direito.

— Olha, Nolene, sei que vai ser chato te lembrar isso, mas não consigo entender quase nada daquelas páginas. Além disso, o diário parecia nem seguir uma ordem cronológica depois que o professor caiu em delírios. Foi sorte conseguirmos ler justo a parte que falava do professor Smith e o professor Schucruth... esse nome é terrivelmente inapropriado – Jacob murmurou a última frase mais para si mesmo do que para sua companheira.

— É... eu sei... mas acho melhor darmos uma segunda lida. Tentar, que seja. Tenta seguir meus pensamentos: o professor Paul Gustav Bachmann foi visto pela última vez interagindo com o professor Robert Smith.

— Isso, alguns alunos e professores confirmaram o que o professor Hans nos contou. Mas isso foi a cerca de um mês atrás.

— Sim, eu sei. Mas o Robert não foi o último a vê-lo. Foi o último a interagir. A última pessoa a ver foi aquela senhora.

— E tem o homem da gravata amarela... – Jacob murmurou. Nolene apoiou a cabeça nos braços largados sobre a mesa, começando a desistir dos pensamentos.

— É... o homem da gravata amarela. Ainda tem esse cara que ninguém, além dessa senhora, viu.

Ambos seguiram em silêncio. A noite finalmente tomava conta do céu constantemente nublado, uma fina garoa começando a pairar sobre a cidade. Nolene observou as pessoas caminhando a passos rápidos, abrindo seus guarda-chuvas pretos ou buscando abrigo em algumas lojas e mercearias. Um sorriso no canto do rosto de Jacob surgiu, ao ver uma cena reconfortante. Ele apontou na direção da cena, para que Nolene visse.

— É esse tipo de coisa que, às vezes, nos faz ter um pouco mais de fé na humanidade – comentou, enquanto viam um senhor de classe retirando seu casaco de pele, talvez de urso, e cobrindo uma pobre criança moribunda, para que se protegesse da chuva, enquanto abria o guarda-chuva e seguia seu caminho.

— É... isso é muito bonito. Claro, ele pode comprar outros dez daquele, mas não deixa de ser uma boa ação.

— Concordo – Jacob comentou, terminando o gole do chá – Só gente rica tem casaco de sobra pra ficar dando assim.

O sorriso no rosto de Nolene desapareceu no mesmo instante.

Repentina, levantou sua cabeça da mesa e encarou Jacob, que devolveu o olhar arregalado, esperando para saber qual fora a epifania que sua colega tivera.

A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022Onde histórias criam vida. Descubra agora