CAPÍTULO DEZ: AS RESPOSTAS

212 29 24
                                    

Via-se diante de uma planície completamente amarelada como as areias do deserto a noite. Acima de sua cabeça de cabelos louros, estava o céu noturno repleto de pontos brilhosos e, tão grande quanto o sol, uma espécie de corpo celeste emanando uma luz a qual sua mente não conseguia conceber como possível:

Aquele enorme corpo celeste, tão grande que escondia metade do céu atrás de si, era completamente negro, emanando uma luz que transitava entre o lilás escuro e o roxo. Um pouco mais ao longe, não escondidas pelo corpo celeste, reconheceu onze estrelas brilhando um pouco mais fortes do que os pontinhos de luminosos ao fundo. Demorara para reconhecer o padrão, mas agora se lembrava: a Constelação de Touro.

O chão começou a tremer, como se algo enorme estivesse caminhando. Hans olhou para trás e, diante dele, se estendia uma figura tão alta quanto um arranha-céu. A mesma usava um longo manto amarelo que lhe cobria por completo, tendo apenas uma abertura onde deveria ser sua face. Mas, por trás do pano, havia apenas a escuridão.

A entidade cósmica lhe observava em silêncio e quietude, como se aguardasse que o alemão fizesse algo, mas o mesmo sentia-se incapaz, até mesmo, de respirar ante tamanho ser.

De repente, enormes tentáculos começaram a sair de dentro do espaço negro onde deveria estar a face do titã e, lentamente, tais tentáculos começaram a avançar em direção ao matemático, ao mesmo tempo que sons guturais emanavam do buraco negro. Entretanto, quando os sons alcançavam os ouvidos de Hans, não eram barulhos monstruosos que ele ouvia.

Eram números.

Números e mais números ecoavam em sua mente, ao mesmo tempo que fórmulas matemáticas se formavam diante de seus olhos, junto a símbolos incompreensíveis e indescritíveis.

Os tentáculos o alcançaram.

...

HANS LEVANTOU-SE DA mesa, ofegante. Um pouco de baba escorria do canto de sua boca e, em sua frente, pôde ver Alfred, com certo olhar de tristeza, segurando uma xícara de chá e um prato com comida. Hans coçou os olhos e encarou sua mesa de estudos, onde vários papeis estavam entulhados e, ao lado, um livro de capa negra com entalhes dourados, aberto, com várias fórmulas complexas.

— Patrão Hans...

— Alfred... eu apaguei...

— O senhor precisa comer e beber um pouco. Está a três dias diretos debruçado sobre essa mesa, senhor. Não comeu, não bebeu, não fez uma única pausa sequer para dormir ou para responder os telefonemas perguntando quando o senhor voltará a lecionar. Seu corpo precisou lhe desligar para que finalmente tivesse um pouco de descanso e... – Alfred parou de falar, ao perceber que Hans estava pegando algumas folhas e, com uma caneta em mãos, voltando a escrever mais e mais, consultando o livro vez ou outra.

Irritado, jogou a xícara e o prato no chão com força, Hans encarando-o assustado e nervoso.

— Alfred, está louco? Poderia ter sujado meus cálculos e...

— Não sou eu quem está louco, patrão Hans. Olhe para si mesmo. Parece um insano, tal qual aquele amigo que você me falou, que morreu há quase um mês.

Ao ouvir aquilo, Hans deixou a caneta cair sobre a mesa, encarando Alfred com olhos perplexos. Olhou então para a mesa, para o livro e para si mesmo, sua mente finalmente ganhando noção sobre o tempo que havia despendido nos estudos daquele estranho livro que os investigadores Nolene e Jacob, acompanhados por outro estranho policial, de nome Adrian Fabian, haviam trazido para ele, três dias atrás.

— Você está certo, meu amigo... não posso continuar assim. Não posso cometer o mesmo erro que Bachmann cometeu.

— Fico feliz que tenha percebido isso, patrão Hans, e...

A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022Onde histórias criam vida. Descubra agora