Uma semana atrás...
ABRINDO A PORTA da grande sala de estudos, entrou um senhor de idade, por volta de seus oitenta anos, com um ótimo porte físico. Sua pele era branca e um tanto enrugada, os cabelos grisalhos e um bigode fino. Estava vestido com um smoking preto, uma roupa social branca por debaixo, uma gravata borboleta preta e luvas brancas. Num dos braços, curvado em frente ao peito, estava um pano dobrado, a mão fechada. No outro braço, também levemente inclinado, carregava na mão um pires, sobre o qual estava uma xícara de vidro, cheia de chá.
A sala era circular, com várias estantes nas quais livros e mais livros se acumulavam, organizados de forma categórica, em alguns pontos, as poucas janelas de madeira estavam fechadas, fazendo com que o cheiro peculiar do papel ficasse mais forte.
Parou diante de uma mesa cheia de papeis, recheados dos mais diversos cálculos matemáticos e físicos. Ao lado, uma pilha de bolas de papel amassados crescia cada vez mais. Fazendo anotações e reformulando resultados constantemente, sentado em frente à mesa, estava o professor Hans Schucruth, vestindo apenas um roupão de dormir e seu óculos. Grunhindo decepcionado, rasgou uma folha, amassou e a jogou na pilha.
— Patrão Hans – o velho chamou, Hans levantando os olhos para ele e sorrindo sem jeito. Seus olhos já estavam fundos na face e vermelhos pelo cansaço.
— Alfred, meu bom amigo. Obrigado – disse, pegando a xícara de chá e dando um longo e reconfortante gole – Acho que virei a noite aqui... de novo.
— Alguma palestra nova, patrão, ou seria aquela equação que tem lhe intrigado já tem algumas semanas? – indagou Alfred. Hans sorriu mais uma vez, assentindo e coçando os olhos.
— A segunda opção, meu caro. Essa fórmula... eu não consigo compreender. Ela está incompleta. O maluco do Bachmann, que descanse em paz, me deu essa maldita folha e sequer se deu ao trabalho de me explicar mais sobre. Eu achei que, talvez, ele viesse me dar alguma resposta, depois de me passar tal incumbência, eu entenderia melhor, mas...
— Mas...?
— Mas agora que ele faleceu, sinto que preciso me empenhar mais em descobrir as respostas por trás desses símbolos.
— Entendo, patrão Hans. Pelo tamanho da pilha de cálculos jogados fora, imagino que seus resultados ainda não se apresentam satisfatórios.
— É... Eles possuem um padrão matemático que desconheço, mas estou começando a decifrá-lo. Achava que eram uma constante, mas elas flutuam e se alteram de acordo com as aplicabilidades dentro de cada fórmula nessa folha. Mas ainda não consigo decifrar a charada por completo... que droga! – Hans gritou, jogando as folhas no chão.
Com calma, Alfred caminhou ao redor da mesa, pegando as folhas e as arrumando sobre a mesa. Hans balançou a cabeça, ameaçando se levantar para ajudar Alfred, mas o mesmo fez um sinal para que permanecesse sentado. Seu corpo caiu pesado sobre a cadeira, o cansaço ficando cada vez mais forte sobre os ombros do matemático alemão.
— Patrão Hans, entendo sua frustração, apesar de não ser capaz de entender os infinitos simbolismos matemáticos que o senhor tanto estuda. Respira um pouco, descanse. Esvazie sua mente e se permita relaxar. Admire um pouco o céu, as nuvens. Quando sua mente estiver mais tranquila, então retorne, mas retorne para fora da caixa. Pense além. Eu tenho fé de que o patrão conseguirá – terminou de falar, colocando as folhas sobre a mesa e pegando a xícara já vazia de Hans, que sorriu contente.
Ele pegou na mão de Alfred e, sorrindo, disse:
— Obrigado, meu caro amigo... muito obrigado.
— De nada, patrão Hans – Alfred comentou, fazendo uma leve reverencia e se dirigindo à saída da sala.
Suspirando, Hans levantou-se da cadeira e caminhou pela sala, tentando seguir o conselho do seu mordomo. Permitiu-se esvaziar a mente e esquecer, por um instante, todos os números e fórmulas. Sentiu seu coração batendo, seus pés pisando no chão, o ar preenchendo seus pulmões. Abriu as janelas e admirou o jardim em frente à sua casa e, um pouco mais ao longe, a rua pela qual alguns poucos carros passavam. Sentiu o sol sobre sua pele branca.
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A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022
Terror[VENCEDOR WATTYS 2022] 1920, Inglaterra. Dois anos após o fim da terrível Grande Guerra, Nolene Wilson - a primeira mulher a conseguir o cargo de investigadora na história da New Scotland Yard - e Jacob Wood - um dos poucos homens negros que trabalh...