A AMBULÂNCIA SEGUIA a toda velocidade pelas vias noturnas de Londres, praticamente vazias, graças ao horário, estando ainda acordados aqueles que buscam à devassidão da madrugada, a diversão barata entre as pernas de uma prostituta – ou de um prostituto –, os que se aproveitam da escuridão para venderem aquilo pelo qual seriam presos se vistos a luz do dia, os gatunos, os gigolôs e os animais.
Os paramédicos tentavam amenizar a situação dos ferimentos de Robert, enquanto o mesmo começava a ter espasmos.
— Choque hipovolêmico! – gritou um dos paramédicos limpando ao máximo o ferimento e tentando estabilizá-lo, enquanto outro pegava uma bolsa de sangue e iniciava uma transfusão.
Jacob e Nolene encaravam a cena com expressão de pavor, estando dentro da ambulância. Mas o assombro não estava no que viam naquele instante, e sim o que viram antes da polícia chegar.
Ainda não conseguiam acreditar.
O que era aquela coisa?
Sequer conseguiram descrever aos oficiais quando estes chegaram ao auxílio, junto com uma ambulância. As únicas palavras que saiam de suas bocas para definir a criatura era "monstro", "besta" e "demônio". Se fosse em outra situação, alguns oficiais talvez até fizessem daquilo uma piada, mas o ferimento no braço de Nolene, o enorme rasgo no peito do professor de história e as duas vítimas brutalmente dilaceradas, fazia-os começar a acreditar nas palavras da dupla de investigadores.
Não apenas isso, mas o nojento e espesso líquido amarelo-esverdeado espalhado pela casa tornava ainda mais misteriosa e apavorante a ideia do que era a criatura a qual esteve presente naquela casa. Se aquilo era seu sangue, talvez fosse, de fato, um demônio.
No hospital, os investigadores precisaram ficar para trás na sala de cuidados gerais, enquanto Robert era levado à UTI. Após outro médico se certificar de que os ferimentos no braço de Nolene estavam fechados e limpos, o capitão Stone apareceu, junto com alguns oficiais. Ele esperou um tempo, antes de começar uma série de perguntas para Nolene e Jacob, após ver o olhar de assombro em seus rostos.
Jacob começou a responder a maior parte das perguntas, explicando primeiramente como Nolene e ele conduziram várias perguntas às possíveis testemunhas e pessoas relacionadas ao falecido matemático Paul Gustav Bachmann, entre elas o também matemático Hans Schucruth e o professor de história Robert Smith.
Seguiu comentando como acabaram descobrindo que ambos haviam sido os últimos a interagirem com o mesmo, além de um terceiro indivíduo que ainda não tinham encontrado. Depois, falou sobre o raciocínio da investigadora e como ela ligou alguns pontos, até perceberem que o professor Smith estava escondendo alguma coisa, como o fato de que estivera com Bachmann na noite em que o mesmo morreu.
Por fim, começou a explicar sobre quando chegaram à casa do historiador e, ao entrarem pela janela que havia sido arrombada, encontraram os corpos e a besta.
Ao falar finalmente o nome "besta", era visível como todos os policiais pareceram ficar mais intrigados, curiosos e, ao mesmo tempo, receosos. Não conseguiam imaginar que animal da natureza seria capaz de tamanho poder destrutivo. Mas antes que Jacob tentasse, mais uma vez, dar uma descrição da besta alada, Nolene se pronunciou:
— Um urso... era um urso enorme, magro e, com certeza, muito doente.
— Um urso? Mas...
— Jacob. Eu vi o bicho bem mais perto do que você. Você não viu tão bem, porque estava do lado de fora quando atirou. Era com certeza algum urso muito estranho – Nolene insistiu, interrompendo seu colega. Os policiais se encararam, sem entender muito bem. O oficial Stone balançou a cabeça, sem mais perguntas.
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A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022
Terror[VENCEDOR WATTYS 2022] 1920, Inglaterra. Dois anos após o fim da terrível Grande Guerra, Nolene Wilson - a primeira mulher a conseguir o cargo de investigadora na história da New Scotland Yard - e Jacob Wood - um dos poucos homens negros que trabalh...