CAPÍTULO ONZE: O PROFESSOR BOURN

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nota: neste capítulo alguns diálogos estarão em alemão. A sensação de curiosidade e a leve decepção caso não entendam o idioma é proposital


A VIAGEM FOI, como já imaginavam, longa e cansativa. A primeira parte foi, ao menos, a mais tranquila. Pegaram uma longa viagem de trem com cabines de luxo, saindo da Liverpool Street Station e seguiram até a estação da cidade costeira de Great Yarmouth, ao leste do Reino Unido. De lá, Robert já tinha um navio com os melhores aposentos preparado para eles.

Saíram navegando ao longo dos países baixos, até chegarem em Cuxhaven, na Alemanha, onde ainda era visível os efeitos da Grande Guerra ao longo do país, ainda se recuperando após a assinatura do cessar-fogo em 11 de novembro de 1918, mais conhecido como o Dia do Armistício.

Tanto ao longo da viagem de trem, quanto na viagem de navio, era notório o interesse quase doentio de Hans pelas fórmulas contidas naquele livro, o qual ele perdia horas a fio escrevendo mais e mais, resmungando pelos cantos em palavras que os outros não entendiam.

Logo após chegarem em Cuxhaven, seguiram numa viagem de trem ao longo de uma Alemanha desolada. Em várias partes do território alemão se via locais ainda devastados pelos bombardeios, trincheiras escavadas e longos campos destruídos e incinerados. Em algumas regiões, era visível a extrema pobreza e as dificuldades da população. E aquilo foi o suficiente para tirar a atenção do matemático Hans Schucruth da Equação Ahrtsu e trazê-lo de volta à realidade.

Apesar de estar afastado por anos, Hans sentia certo aperto no fundo de seu peito, enquanto observava seu antigo lar completamente arrasado. Tentava disfarçar o olhar, mas todos perceberam e, até mesmo, o arrogante e prepotente Robert Smith se sentia compadecido pela dor de seu colega de trabalho e, agora, companheiro de viagem. Ele imaginava que seria o mesmo sentimento que sentiria caso fosse o grande império britânico devastado.

Finalmente, após horas dentro do trem, chegaram à grande cidade de Wroclaw. Ao chegarem, a visão que esperavam e do que ouviram falar – uma grande potência alemã-polonesa – não era em nada semelhante ao que estavam vendo: uma cidade devastada por greves e mais greves, motivos pelos quais o grupo não buscara descobrir. Não tinham tempo a perder e precisavam seguir viagem o quanto antes. Assim que desceram na estação rodoviária principal de Wroclaw, compraram passagens para seguirem numa pequenina caminhonete e, finalmente, estavam no distrito de Bielany.

Já era por volta das quatro horas e o sol começava a se esconder no horizonte, uma fina camada de neve começando a cobrir todo o ambiente quando finalmente chegaram ao pequeno e pacato distrito de Bielany. A cidade, para estranheza do grupo, estava muito mais deserta e vazia do que eles imaginavam. Levaram poucos minutos até descobrirem onde estava o professor Maximilian Bourn, pois o mesmo era relativamente conhecido pela sua inteligência ímpar, importância acadêmica e, para surpresa do grupo, seus feitos durante a grande guerra.

Um policial local – claramente alemão – comentara que poderiam encontrar o professor na biblioteca do distrito, onde passava boa parte do tempo estudando e tirando dúvidas de estudantes que vinham de toda a Alemanha – era notório como policial falava com grande orgulho o nome do país.

Ao perguntarem quais os feitos do mesmo durante a grande guerra, a resposta foi simples: os avanços bélicos do país se deram graças a ele e, se tivessem investido mais nas pesquisas dele, com certeza o resultado teria sido muito diferente.

...

A simplória Biblioteka Publiczna de Bielany ficava no extremo norte do distrito e, assim como todo lugar, estava praticamente vazia. Caminharam pelos corredores da biblioteca, perguntando aos poucos funcionários onde estava o professor Bourn, os quais lhes guiaram até uma grande sala de estudos. Ao chegar na sala, os olhos de Hans pareceram brilhar ao ver, sentado junto com quatro jovens, com um sorriso simpático e amigável, o professor matemático e físico Maximilian Bourn.

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