CAPÍTULO QUINZE: EU SOU...

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*nota: neste capítulo alguns diálogos estarão em polonês. A sensação de curiosidade e a leve decepção caso não entendam o idioma é proposital

A REPENTINA E densa nevasca que surgiu assolando o pequeno distrito lhes cegava a cada passo. Na frente, guiava Adrian ao lado de Nolene, seguidos por Hans, Robert e Jacob, por último, que resmungava sem parar, mas sendo quase impossível ouvir o que ele falava, graças ao barulho da tempestade de neve que os rodeava. Da última vez que conseguiu ouvir algo, Robert jurava que o escutou falar "me deixam logo no final da fila, não sabem que é sempre o preto que morre primeiro?"

Próximo a eles, cerca de três carros passaram em baixa velocidade, fosse por não conseguirem ver nada em meio à nevasca, fosse por estarem os procurando. De qualquer forma, não podiam arriscar. Agacharam-se com armas em mãos, encostados à parede de uma construção e aguardaram até que os veículos seguissem em frente, sumindo de vista. Aliviados, continuaram caminhando às cegas, confiando apenas na memória de Adrian, que seguia o caminho, tateando as paredes e sentindo as curvas, contando em sua mente por quantos lugares passou e comparando com o que lembrava em sua cabeça do mapa daquela pequena cidade.

De repente, um chiado horrendo, capaz de gelar a alma até mesmo do mais corajoso aventureiro, ecoou pelo ambiente. No mesmo instante, Nolene, Jacob e Robert paralisaram, os olhos arregalados e sentindo que seus músculos não mais lhes obedeciam e, em suas mentes, uma única imagem surgia: a criatura alada xenomórfica nascida das profundezas do inferno, que os atacou na casa do historiador, há quase um mês. O bater de asas da criatura passou rasante alguns metros acima dele, caçando-os pela cidade.

Numa ação impulsiva e desesperada, Robert apontou seu revolver para cima e, tentando se guiar pelo som das asas e do chiado diabólico, disparou algumas vezes, antes que pudessem segurar sua mão, assustados.

— Estás louco, homem? Quer atrair a atenção do diabo para nós? – Hans indagou, desesperado. Balbuciando, Robert se afastou de Hans, em sua expressão sendo claro o pavor que lhe consumia.

— Como ousa, seu alemãozinho? Não se atreva a me tocar assim de novo! Estou tentando nos salvar do diabo que nos caça! – Robert vociferou, enfurecido. Nolene se aproximou e segurou a boca dele com um olhar ameaçador.

Genosse Hans? – a voz do professor Bourn ecoou pelo ambiente – Camarada Hans? Está aqui? Por favor, responda!

Olharam ao redor, tentando adivinhar de onde vinha sua voz, mas em vão. Não havia um ponto em específico de onde sua voz estivesse vindo, a nevasca atrapalhando ainda mais a noção de distância e localização. Todos encararam Hans, que apenas fez um sinal de silêncio e, em seguida, olhando para Adrian, que seguiu o caminho, os outros logo atrás.

Mein freund bitte! – Bourn continuava falando, a cada palavra dando a entender que ele estava falando de algum lugar no céu – Ich bin kurz davor, die Ahrtsu-Gleichung zu lösen! Wir haben bereits den ort, nur die organisation des rituals fehlt!

— O que ele está falando? – Robert perguntou, em voz baixa.

— Ele disse que está perto de terminar a equação e que já tem a localização do ritual, falta apenas a organização. Seja lá o que for, a segunda e última parte da equação de Ahrtsu era, claramente, a mais complexa. Ele deve estar com dificuldades para solucionar e quer minha ajuda para finalizar... Hotep ainda disse que precisava apenas da minha mente – Hans respondeu.

O som de algo grande caindo no chão assustou a todos, que olharam na direção de onde veio o barulho. Logo após o misterioso som, pegadas pesadas surgiram, aproximando-se. Ao longe, o barulho do bater de asas continuava, indicando que havia mais de uma daquelas criaturas. Fazendo um sinal de silêncio, Adrian apontou para um beco, para o qual todos correram, escondendo-se. Ao fundo do beco sem saída, o grupo esperava, com armas em mãos e olhando para a única abertura daquele túnel estreito. Uma enorme mancha começou a se formar em meio a nevasca, cada vez mais perto. O que pareciam pequenos tentáculos se projetava da face da criatura, tateando o chão e o ar, como se os farejasse.

A Fórmula do Inominável - VENCEDOR WATTYS 2022Onde histórias criam vida. Descubra agora