O dia passou tão rápido quanto viera: Amelia trabalhara por vinte durante todas aquelas horas.
Apesar dos passos pesados dos criados o tempo todo, nada a impediu de permanecer em seu quarto até a que a noite caísse. Nem ao menos fizera questão de comparecer ao jantar, sabendo que os Irving estariam ali, encarando-a com expectativa e falsa afetuosidade. Seu estômago revirava só de pensar nisso.
Nunca comer sozinha havia sido tão prazeroso.
Quando ela fora dormir, sem nem ao menos tocar na proposta anunciada naquela manhã, Amelia pensara que no dia seguinte, tudo seria diferente. Ela poderia descansar, pensar melhor, e então dar sua resposta aos patriarcas. Seria mais um dia nublado e insosso, preenchido por devaneios e mais trabalho.
Entretanto, não foi bem assim que aconteceu.
O dia amanhecera de um modo completamente comum naquela manhã de outono: o céu estava cinza como sempre, com neblina aqui e ali. Era mais um daqueles dias em que Amelia desejava ficar mais algumas horas na cama, embora documentos e relatórios esperassem para serem analisados. Na verdade, era o dia que ela esperava, sem muitos compromissos além da fatídica resposta.
Todavia, em uma surpreendente reviravolta climática, as nuvens escuras desapareceram ao longo da manhã e foram substituídas pelo azul brilhante que costumava colorir os céus. Era verdade que grandes nuvens brancas ainda cercavam o plano celeste, porém era o suficiente para Londres inteira mudasse de humor.
E de planos também.
O que era para ser mais um dia entediante de trabalho se tornou uma festa aristocrática entediante.
Assim que o primeiro raio de sol tocou a grama do jardim, Eva convocou todos os empregados e com uma rapidez inumana—ao menos para Amelia, que não tinha a menor ideia de como que se planejavam aqueles eventos—organizou uma festa do chá para comemorar o anúncio do dia anterior.
Um pequeno detalhe: ela havia decidido isso quando eram quase dez da manhã.
A jovem Stratford duvidava que alguém iria comparecer, afinal a festa havia sido anunciada bem em cima da hora, e a maior parte da elite londrina deveria ter mais o que fazer. Entretanto, tal qual foi sua surpresa ao descobrir que quase todas as famílias que conhecia estariam em sua casa às três da tarde, em toda a sua falsidade e elegância.
E era por causa disso que Amelia estava usando um vestido delicado em tons de azul claro, usando seu melhor chapéu enfeitado com flores e sorrindo a cada minuto que se passava enquanto saboreava uma xícara de chá. Ela perdera a conta de quantas pessoas cumprimentara, e se escutasse mais um "Parabéns pelo seu noivado, senhorita Stratford" ela iria definitivamente ter um ataque de raiva.
Era claro que todos os seus planos haviam ido para o lixo. Nem mesmo conseguira aproveitar sua manhã com calma, quando haviam dezenas de criadas aos seus pés, pedindo sua opinião para o cardápio e decoração. Como se Eva não pudesse decidir sozinha!
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Fios de Cobre
Historical FictionUm casamento. Uma garota independente. Segredos à perder de vista. Amelia Stratford é mais uma jovem abastada da alta sociedade londrina. Determinada a acabar com seu iminente casamento, ela não mede esforços para se livrar do frio, arrogante e be...