A textura agradável do couro passou a tranquilizá-la enquanto esperava que Eliza lhe servisse um pouco de chá.
Mesmo que não estivesse lendo-o de fato, o exemplar de As Aventuras de Lady Annelise era o mais próximo que tinha de um amuleto. Não que Amelia acreditasse em superstições, nada disso. O livro era apenas um objeto intrínseco à sua história de vida, tão precioso que tinha a capacidade de fazê-la sorrir em tempos difíceis.
E era exatamente disso que estava precisando.
Após ter uma conversa horrível e desgastante com Robert, Eva fora atrás dela para que pudessem continuar a prova do vestido. Por pouco a madrasta não a pegara chorando, uma das poucas vitórias daquele dia. Caso a mulher houvesse visto-a naquela situação, certamente iria provocá-la pelo resto do mês, e isso era o que Amelia menos precisava.
Para sua imensa satisfação, poucas adaptações foram necessárias para que o vestido estivesse ajustado. Mal foi necessária uma hora para que a tal madame Rose afixasse os últimos alfinetes e desmontasse todos os apetrechos que havia levado, incluindo um suporte para roupas.
E Amelia viu-se livre para fazer o que quisesse desde então. Almoçara no quarto, rejeitando a presença de qualquer pessoa a não ser Eliza.
As duas tinham muito a conversar.
A Stratford não queria que o que ocorrera após o passeio de dirigível acontecesse novamente. Por isso, prometera à anciã que lhe contaria sobre tudo o que viria a fazer com Maximillian—o que já fazia em relação à Robert. Todavia, ela desejava que não tivesse de relatar-lhe todos os acontecimentos daquela quarta-feira.
Mas aquilo era uma promessa. De fato, Amelia não se atinha muito à tais compromissos, pois sabia muito bem que elas sempre se quebravam. Entretanto, a que possuía com Eliza era diferente. A única diferença que existia entre essa e as demais era um pequeno detalhe: a confiança mútua que ambas compartilhavam.
Por causa da existência desse motivo singular, ela diria à anciã tudo o que precisava. Alguns detalhes seriam excluídos, claro, para que a Stratford pudesse preservar o que pensava ser desnecessário.
Excluindo essa pequena ressalva, nada além da verdade seria relatado naquela conversa.
—Algo me diz que não estás bem. —observou Eliza, enquanto despejava chá em uma xícara—Irás contar-me o que ocorreu ou não?
—Claro que irei. —retorquiu Amelia, soando mais irritada do que pretendia—Mas preciso me acalmar primeiro.
—Hum. Deixe-me adivinhar: Robert Irving é o motivo? —indagou a mais velha, arqueando a sobrancelha, com ares de quem já conhecia a resposta.
—Acho que não preciso lhe dizer, Eliza. —murmurou a jovem, franzindo a testa para a anciã —É claro que ele seria o motivo.
Ditas essas palavras, a mulher mais velha calou-se e empurrou uma xícara de porcelana em direção à Amelia. A Stratford aceitou de bom grado, sem proferir uma só palavra. O aroma herbáceo de camomila preencheu o ambiente, deixando-o mais agradável.
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Fios de Cobre
Fiksi SejarahUm casamento. Uma garota independente. Segredos à perder de vista. Amelia Stratford é mais uma jovem abastada da alta sociedade londrina. Determinada a acabar com seu iminente casamento, ela não mede esforços para se livrar do frio, arrogante e be...